• Conforto •

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          Encostada na parede, a cama de Bárbara parece suficiente para ela e Amelie, que dormem profundamente, o mais tranquilo possível após outra noite turbulenta. Quando a moça pediu que eles ficassem com ela aquela noite, depois de Dona Lívia mais uma vez fazer um escândalo antes de trancar-se em seu próprio quarto, ela ficou feliz e surpresa que todos aceitaram seu pedido, até Olivier, que deitara ao lado de Milo no chão.

          Faz horas que Milo está acordado no colchão improvisado feito de lençóis e cobertores, o sono distante e a mente agitada em mais uma noite roubada pela insônia. Às vezes, era como se só existissem aquelas duas opções: não conseguir dormir ou acordar em desespero pelo mesmo pesadelo no mar.

          O garoto respira fundo, frustrado. É o único ali que não dormiu, ou pelo menos, Milo supôs que todos ainda estivessem dormindo.

          Na pouca luz, o sol lá fora ameaçando aparecer ao longe em uma manhã preguiçosa e cheia de neblina, Milo ouve uma movimentação e sente ao seu lado, Olivier se mexendo. Com cuidado, ele se vira de barriga para cima a fim de observar o garoto, mas ele já está de pé, saindo do quarto. "Onde ele está indo?" Milo se pergunta, ainda no mesmo lugar.

          Ele espera alguns minutos antes de se levantar também, tentando não fazer nenhum barulho em seus movimentos. Na cama, Amelie e Bárbara dormem de mãos dadas, bem próximas uma a outra no colchão pequeno, ele dá um pequeno sorriso com a cena. Pela janela, Milo não encontra Olivier na direção da mansão.

          Milo sai do cômodo e observa a casa, a porta do quarto de Dona Lívia continua fechada e não há som algum do outro lado. Com garantia de que ela nada ouviu, Milo abre a porta com cuidado e caminha para fora da casa, procurando Olivier. O garoto está alguns metros de distância, na trilha até à praia. Ambos caminham separados em silêncio, em momento algum Olivier olha para trás ou percebe a presença do amigo.

          Próximo ao mar, ele senta-se na areia com as pernas junto ao peito e os braços apoiados nos joelhos. Milo anda até ele em passos calmos e curtos, até parar ao seu lado.

— Posso ficar aqui? — ele pergunta, baixo — Hã, do seu lado?...

          Olivier responde em um murmúrio ainda mais baixo, concordando. Milo estica as pernas na areia e se apoia com as mãos, olhando para ele com um misto de preocupação e curiosidade.

— Aconteceu alguma coisa? — ele pergunta com cautela, o garoto ainda não o olhou.

          Olivier respira fundo e alto, leva alguns segundos para abrir a boca e dizer algo. Milo espera pacientemente, respeitando.

— Tem tanta coisa acontecendo, tanta coisa... Confusa e inexplicável. — ele para, as palavras presas na garganta pesam até no coração — Eu... Eu...

— Tá tudo bem, não precisa falar se não quiser. M-mas eu tô aqui pra escutar e... Pode confiar em mim, Oli.

          Olivier olha para ele ao ouvir seu apelido, apenas por um segundo. Novamente, respira fundo e continua:

— Eu tô com medo. Eu não sei o que pensar, não sei o que fazer, o que pode acontecer eu só... Queria que isso tudo fosse um pesadelo irreal.

          Seus olhos estão marejados e ele tenta esconder, mas Milo percebe. Observando as lágrimas e as palavras que saíram junto a elas, Milo não sabe o que dizer, tudo em sua cabeça parecem falas óbvias ou bobas demais.

          Com cuidado, ele se endireita e puxa Olivier para perto, deitando a cabeça dele em seu ombro. O garoto não hesita ou se afasta, e aos poucos, relaxa os músculos e se sente mais confortável.

— Eu sei que tá tudo confuso e assustador, mas vai ficar tudo bem. A gente vai fazer de tudo pra que ninguém mais se machuque, a gente tá junto, eu, você, a Amelie e a Bárbara. Vamos ficar bem, e tentar resolver isso. — Milo diz tentando confortar não apenas Olivier, mas a si mesmo.

— Valeu.

— Pelo quê? — ele pergunta involuntariamente.

— Ouvir.

— Ah. — Milo dá um pequeno sorriso, apertando um pouco sua mão que segura o braço de Olivier — Sempre que precisar, tô aqui.

          Alguns minutos se passam sem conversa, apenas o som do mar e da ilha ao redor, o sol ainda distante, mas perto o suficiente para não permitir uma escuridão intensa.

          Quando Milo se movimenta um pouco, Olivier cria coragem para perguntar, baixo e calmo.

— Podemos ficar assim... Por mais um tempinho?

          Milo dá outro pequeno sorriso antes de responder:

— Pode ficar o quanto quiser.

          Ele se ajeita melhor, um pouco mais próximo, Olivier fecha os olhos e se deixa ficar naquele ambiente, naquele meio-abraço.

          Enquanto amanhece, sozinhos na praia por um período de tempo, mesmo que pequeno, aquele momento parece,

um lar.

Essa foi a primeira ideia que tive dos contos, pensando muito em dezenas de cenas diferentes na praia

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Essa foi a primeira ideia que tive dos contos, pensando muito em dezenas de cenas diferentes na praia

Eu realmente achei que seria bem mais curto, ainda mais com meus bloqueios criativos ultimamente,
mas até que ficou muito bom

SPOILER DO EPISÓDIO 3 "PAVOR"
exibido dia 09/07/22

eu escrevi esse conto na madrugada do dia 5 pro dia 6, aleatoriamente e no episódio seguinte teve uma interação do Milo com o Olivier onde ele falou sobre estar com medo e tudo mais, não tava esperando real
achei uma interação fofa, feliz que ela existe, se não tivesse rolado, tava tudo bem também

é isto. ☆

Shot At The Night • OSNIOnde histórias criam vida. Descubra agora