• Jardim •

954 77 33
                                    

Contém alguns palavrões

          Amelie não quer ficar sozinha de jeito nenhum, mesmo que seja oito horas da manhã, não tenha nenhuma névoa horripilante por perto ou vultos à espreita, mas também não quis ir à praia junto a Milo e Olivier que foram pescar, ter o risco de ficar cheirando peixe por horas, encontrar animais marinhos estranhos e pior, ficar de vela. A única solução que ela encontrou (traduz-se como: a única solução que ela quis ter) é atazanar a vizinha e mais nova amiga por horas a fio.

          De início, Bárbara disse um "bom dia" com um grande sorriso no rosto e seu forte sotaque caipira quando Amelie apareceu em sua porta, avisando que nada queria além de ter uma companhia naquela manhã. A moça ficou seguindo-a pela casa enquanto Bárbara varria o chão, lavava a louça ou arrumava os lençóis cantarolando uma melodia bem baixinho, tentando focar em algo que não fosse tristeza ou medo. Amelie permaneceu em silêncio o máximo que conseguiu, não que fosse muito.

          Sentada no chão ao lado do jardim de Bárbara, a garota resmunga baixinho, sussurrando reclamações sem sentido esperando que ela perceba e lhe dê atenção. A jardineira está concentrada em regar seus vegetais e leva alguns poucos minutos para perceber, revirando os olhos com um sorriso observando Amelie fazendo drama.

— Quê foi, Amelie? — indaga Bárbara já esperando um nível maior de drama.

— Tô entediada Bárbara, não tem nada para fazer aqui, não tem merda nenhuma nessa merda desse cu dessa ilha Bárbara. Não tenho minha JBL, não tenho Tinder, não tenho internet, não tenho jogo de celular, não tenho Wild Rift pra desestressar e se estressar ao mesmo tempo, não tenho PORRA NENHUMA BÁRBARA. — Amelie fala alto e rápido, pronuncia tudo com seu falso sotaque francês, diz "Bárrbarra" todas às vezes e gesticula loucamente com as mãos como se estivesse abaixo de uma colmeia de abelhas.

          Bárbara se ajoelha próxima à suas flores, com os olhos baixos e um pequeno sorriso. Ela pega as flores recém-caídas e as mais fraquinhas juntando-as no bolso do seu avental enquanto escuta Amelie reclamar mais uma vez, com palavras diferentes, mas o mesmo motivo.

— E pior, não tem um lugar interessante e bom nesse inferno para eu ir, não posso comer um strogonoffzinho para ser feliz, não...

— Tá "dizeno" que não tá "gostano" de ficar aqui comigo? — Bárbara interrompe — "Ocê" que veio até a minha porta, uai.

— Não, não, não foi isso que eu disse, calma. Estou sentindo falta de um shopping Bárbara, de uma balada, de um restaurante chique, só isso. — Amelie se defende, mas a outra moça está concentrada em recolher as flores em seu bolso e colocá-las à sua frente.

— Sabe Amelie... A gente passo por muita coisa nos último dia, é "bão" tentar relaxar quando não acontece nada, a gente ainda "num" tá seguro. Mas vamo resolve isso, temo que tenta fica calma antes que tudo isso enlouqueça "nois". — Bárbara fala olhando para as flores em seu colo, cuidadosamente entrelaçando os caules longos, como uma coroa.

— Vou relaxar como, se eu não tenho nada para fazer eu preciso me conectar com o mundo lá fora, jogar um lolzinho com o Carlinhos, se bem que... Ele não apareceu da última vez, depois que eu terminei com ele, acho que ficou sentido. — ela divaga por um momento na conversa e Bárbara apenas espera ela continuar, sem entender — Eu não entro naquela floresta sozinha, eu não fico naquela praia para virar comida de cachorro selvagem, eu não quero passar mais tempo do que preciso naquela porra de mansão e ver aquela d e s g r a ç a d a me perseguindo.

— Pode fica no meu jardim se quiser, minhas plantinhas são boa companhia, eu também. — Bárbara sorri antes de apontar para Amelie fingindo uma ameaça — Mas não ouse mexer na minha horta!

— Ah não se preocupe eu não encosto nunca nessa terra imun-... — Amelie olha para ela e dá um sorriso torto — Na sua horta.

          Bárbara abaixa a cabeça e continua sua coroa de flores, quase finalizada. Amelie lembra do dia que chegou na ilha, quando ouviu chamarem o jardim de Bárbara de "mal cuidado", aquele lugar era importante para a moça mesmo que Amelie não entende-se o porquê. Ela olha um pouco para os vegetais e as flores plantadas ali, depois volta a olhar para Bárbara e comenta:

— Você... Você cuida muito bem do seu jardim, sabia? Faz um bom trabalho.

          Bárbara olha para ela em silêncio, sem uma expressão fácil para Amelie decifrar. A jardineira segura sua coroa de flores com as duas mãos e estende para a amiga, mas não se aproxima muito, parece hesitar.

— "Ocê" quer tanto se conectar com esse mundo diferente que "ocê" viveu, mas "num" dá pra fazer isso aqui. Não significa que não dê pra aproveitar alguma coisinha. — Amelie olha para a coroa de flores enquanto Bárbara fala, ela sorri e se aproxima um pouco com a cabeça, permitindo que Bárbara faça o que quer — Eu não fazia uma coroa de "frô" tem muito tempo, deu vontade de fazer uma.

          Mesmo surpresa, Bárbara coloca a coroa de flores na cabeça de Amelie delicadamente, arrumando para que não caía. Ela sorri feliz e coloca a mão no queixo da garota para poder ver como ficara.

— Pelo menos, Amelie, tenta se desconecta um "poco" dessa internet e se conecta aqui, na paisagem, vai que "cê" acha alguma coisa "bunita" pra admira?

          Amelie fica estática enquanto Bárbara segura seu rosto, mas não demora muito para a moça se distanciar e levantar, voltando para seu jardim, arrancando ervas daninha e observando suas margaridas com orgulho. Bárbara volta a cantarolar para si, pensando o que fazer depois que terminar ali.

          Ela não percebe Amelie em silêncio, encarando-a pelo resto da manhã, como um pintor admira seu quadro ou um escultor admira sua obra.

          Como uma pessoa admira com encanto sua paisagem bonita.

Eu fui ao médico e depois fiquei ocupada e não consegui terminar por isso postei tão tarde, mas não deixo de postar jamaisDeixem comentários e avaliem com a estrelinha se gostarem, até sábado tem mais um provavelmenteEscrevi os diálogos da Bárbara...

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Eu fui ao médico e depois fiquei ocupada e não consegui terminar
por isso postei tão tarde, mas não deixo de postar jamais
Deixem comentários e avaliem com a estrelinha se gostarem, até sábado tem mais um provavelmente
Escrevi os diálogos da Bárbara do jeito que ela pronuncia as palavras e usei aspas apenas nas palavras que realmente mudam "muito"

até a próxima ☆

Shot At The Night • OSNIOnde histórias criam vida. Descubra agora