Eu não sei que ordem rege o universo, ou se existe alguma força, um Deus ou seja lá o que for que manda na gente, ou em quem a gente ama, eu só sei que jamais esperava terminar aqui , na real, nunca pensei que aconteceria nem metade de tudo o que aconteceu comigo, no início foi para salvar a minha vida, minha família, e também por amor, como todo bom clichê, e eu meio que já tô vendo tudo como um, não caiu a ficha ainda, mas se tivesse que começar a descrever do início acho que foi no dia do aniversário da minha avó.
Tinha sido um dia super corrido, para variar a ponte Rio-Niterói estava toda engarrafada, o ônibus um inferno de tão quente, e justo nesse dia eu decidi ir pra facul de short jeans e casaco de moletom, uma péssima ideia, eu só queria descansar um pouco, meus earpods estavam descarregados, eu precisava chegar cedo em casa e minha mãe não parava de encher o saco.
MÃE <3: Cadê vc? Sua avó já chegou! >:(
J.P.: To no meio de um engarrafamento, assim que der colo aí.
MÃE <3: João Pedro, vc tá impossível!!!
Uma dica, nunca ensine suas mães a usarem redes sociais, a minha nos últimos dois anos com toda essa merda da pandemia até TIKTOK fez ¨MARILOUCA¨, e pior, queria que eu divulgasse e conseguiu ter mais seguidores que eu; depois que voltou às aulas presenciais e a normalidade pensei que ficaria mais tranquilo, mas voltei foi mais cansado, saio da UERJ e tenho que ir até a Tijuca. Eu sei que sou privilegiado pra cacete, branco, de família com dinheiro suficiente para nos manter confortável e tudo mais, mas o Rio não é pra amadores de nenhum tipo.
Enfim sei que sai da facul por volta das duas horas da tarde, fui na casa da Lu, amiga minha lá da Ilha do Governador, fiquei lá até às seis e meia da noite, plena sexta, todo mundo me chamando pra festa, pra tomar um chopp, e eu chegando em casa quase às nove da noite, depois de três horas num engarrafamento. Quando cheguei no meu apê, o porteiro um velhinho, que acho que já vivia lá antes mesmo de construírem o prédio, para variar demorou uma eternidade pra abrir a porta pra mim, meu celular já quase sem bateria, e as mensagens não paravam.
MÃE <3: João Pedro sua avó já chegou!!!
MÃE <3: Vem logo pra casa.
MÃE <3: Já tá quase na hora do parabéns.
— Até que enfim meu filho! – Minha mãe não ser a mãe cinquentona mais tradicional, professora que se mata de trabalhar e ainda assim quer viver de aparência pra deus e o mundo; isso sem falar que decidiu deixar o cabelo branco crescer e agora tá uma mistura terrível – filho quando for assim pelo menos me dá notícias, pombas.
— Foi mau coroa, o celular tá quase morrendo.
Meu pai por sorte é bem na dele, não tenho queixas, para um ex-taxista que agora é motorista de Uber, Cabify e qualquer novo app de caronas que aparece, ele sabe se virar bem com a tecnologia, e com a modernidade também.
— Hoje fiz uma viagem com o Lucas, ele perguntou por você filhão, por que vocês nunca mais se viram?
Ah, esse é meu pai sendo ¨super de boas¨ e aceitando que sou gay, e tentando entender tudo, achando que hoje em dia ainda é como nos tempos dele e que a gente se casa com o primeiro que encontra; ainda bem que nunca precisei explicar pra ele o que é grindr, onde eu tinha conhecido esse ex.
— A mesa do bolo já tá pronta, eu vou trazer a mamãe, ela tá desde que chegou olhando desenho na TV.
— Ai meus Deus.
Minha mãe como sempre é a rainha dos assuntos aleatórios quando falamos da minha sexualidade, dos meus namorados, ficantes, peguetes ou o que seja, na real, com ela meio que já desisti de tentar explicar já que ela nunca queria ouvir nem entender; o melhor que podia fazer era ficar no sofá tomando uma cerveja com meu pai enquanto ela fazia toda aquela cena sobre a mãe dela, minha avó.
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Viajante
Ficción históricaJotta Pê é um jovem comum do Rio de Janeiro; sua família é marcada pelo desaparecimento de seu tio durante a ditadura militar. Um dia sem dar-se conta e sem saber como ele viaja no tempo tendo a chance de mudar o futuro. Em meio aos anos de chumbo n...