Capítulo 30

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Anastásia Steele

Deixo a água quente do chuveiro escorrer pelo meu corpo. Minha pele avermelhada me impede do alívio e conforto que busco. Continuo esfregando. Estou quase acabando.

Esfrego. Esfrego. Esfrego.

Minha pele queima. Estou limpa.

Desligo o chuveiro e puxo uma toalha para meu corpo. Limpo o espelho embaçado e não reconheço a figura me olhando de volta. Olhos inchados e vermelhos. Rosto irritado e rosado. Ela está cansada. Eu estou cansada.

Termino de me secar e vou para minha cama. Puxo o edredom sobre quase todo o meu corpo e adormeço.

Árvores. É o que me rodeia. Olho em volta e é apenas o que encontro.

Escuto risadas. Não está longe. Não reconheço. Ando em direção ao som e me deparo com um trilha. Conheço essa trilha.
Novamente as risadas. Então mais altas. Começo a correr pela trilha. Está ficando mais alta. Meu fôlego vai diminuindo. Paro quando avisto a cabana

As risadas vem de uma menina que está sendo alvo de cócegas de uma senhora.
A garotinha levanta a cabeça e paraliso. Sou eu. A senhora também olha pra cima. Vovó. Vovó, que saudade.

Elas sorriem pra mim e acenam. Aceno de volta.  Quando vou me aproximar, o cenário muda. Está de noite. As grades estão de volta nas janelas. Me aproximo da casa, a porta está aberta.

Escuto passos no piso de madeira da casa. Carrick aparece sorrindo segurando algemas. Não. Corro pra longe da casa. A trilha sumiu. Sigo pelas árvores. Corro até meus pulmões queimarem. Sinto ar fresco no rosto e vejo a claridade da rodovia logo a frente.

Sou puxada pelo braço e Carrick tampa minha boca com a sua mão.

Não. Não. Não. Não. Socorro. Socorro.

Meus gritos saem abafados e sou levada de volta pra floresta.

Me solta. Socorro. Não. Não. Não. Não.

"Vai ficar tudo bem, querida." Sussurra no meu ouvido.

Não. Me solta. Nãoooo.

Pulo da cama ofegante e olho em volta. Estou em casa. No meu quarto. Foi um sonho. Foi um sonho. Não seguro as lágrimas e deito novamente. Estou suada. Preciso me lavar outra vez. Escuto passos apressados e me assusto.

Christian invade o quarto preocupado e suspiro aliviada por ele ter chegado. Estendo meus braços pra ele.

"Amor, você está bem ? Te ouvi gritar." Diz me alinhando em seus braços.

"Você está aqui." Sussurro.

"Claro que sim. O que você fez, Ana? Quando Luke me contou onde estavam indo, quase fiquei louco."

"Eu precisava. Não posso viver com esse medo, Christian."

"Eu podia ter ido com você."

Saio de seus braços e olho pra ele.

"Não teria dado certo."

"Por que ?" Olha pra mim confuso.

"Você é a minha rocha. Meu porto seguro. Quando estou com você me sinto capaz de enfrentar o mundo. Mas, eu precisava fazer isso sozinha e sem você. Eu tinha que saber se eu tenho essa mesma força. Se sou forte o suficiente lutando minhas batalhas sozinhas." Explico acariciando seu rosto.

"É claro que você é forte, Ana. A pessoa mais forte que eu conheço." Diz e me beija.

"Agora sei disso. Mas, não foi nada fácil." Lágrimas brotam dos meus olhos.

"Estou aqui agora. Prometa que não vai mais esconder nada de mim." Pede olhando em meus olhos.

"Eu prometo," Sorrio. "Quando você chegou?"

"Tem uma hora. Encontrei você dormindo e resolvi deixar você descansar."

"Eu estava precisando." Suspiro.

"Ouvi você gritar." Diz preocupado.

"Tive um pesadelo. É muita coisa acontecendo ao mesmo tempo."

"Quero que me conte tudo, Ana. Aquele desgraçado disse alguma coisa a você? Por que foi vê-lo?"

"Acho melhor eu te mostrar." Levanto da cama, não me importando com minha nudes.

Pego a bolsa que larguei sobre a poltrona e tiro meu celular de lá.

"Está tudo aqui." Digo entregando o aparelho a Christian.

"Você gravou ?" Pergunta surpreso.

"Precisamos descobrir o que aconteceu com seus pais. Ele é o único que sabe." Digo com firmeza.

Christian fica me olhando perplexo. De mim para o celular. Do celular para mim. Incentivo ele a ouvir e vou para o closet atrás de uma roupa.

Coloco um vestido básico soltinho e rasteirinhas. Enrolo um pouco antes de sair esperando a gravação acabar. Quando o silêncio se faz presente, resolvo sair.

Christian está com a cabeça apoiada nas mãos. O celular esquecido ao seu lado. Me aproximo e acaricio seus cabelos. Ele olha pra mim e observo seus olhos vermelhos.

"Amor." Sussurro sentando em seu colo.

"Meus pais estão vivos." Ele diz. Quase não escuto sua voz.

Ele me segura firme apoiando a cabeça no meu peito. Passo os braços a sua volta e o seguro.
Não sei o que dizer. O que ele ouviu foi real o bastante.

Sinto gotas molhadas caírem em cima do meu braço. Christian não transmite nenhum som. Seus ombros permanece o mesmo ritmo calmo de sua respiração.
Acaricio seu rosto de leve e limpo suas lágrimas.

Levanto do seu colo e o faço deitar na cama. Guardo o aparelho em cima da mesinha e tiro seus sapatos.

Deito ao seu lado e o puxo para meu peito. Christian me abraça apertado mas, não me importo. Deixo ele derramar todo o peso que esteve segurando por anos. Quero ser sua âncora. Sua força. Vai ser um longo caminho. Mas, não vou descansar até descobrir tudo. Carrick destruiu nossas vidas. Chegou a hora de pagar.

Esconderijo (Em Andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora