três

788 48 2
                                    

treino, almoço e hotel

JOGUEI A BOLA PARA o outro lado da quadra, atravessando a rede; Alan riu da minha falta de habilidade e bateu contra a bola de volta para mim, mas ela foi mais rápida e caiu direto no chão, impedindo que eu a pegasse.

Arqueei meu corpo, descansando as minhas mãos nos joelhos, soltando o ar frustrado pela boca.

Eu estava ali desde cedo, quando eles começaram mais um treino, para enfrentar mais um jogo, dessa vez contra a Eslovênia. E, ao invés de eu ficar sentada na arquibancada, entediada, os meninos me chamaram para treinar junto.

Eu não era uma jogadora nata, como eles bem estavam percebendo, mas servia de alguma ajuda com a bola.

— Ainda bem que você é ginasta — Cachopa caçoou de mim, juntando-se a Alan. — Se fosse jogadora de vôlei…

— Ei, eu só não estou no meu melhor dia! — protestei, tendo a ciência de que eu estava um pouquinho distraída, e voltei a ficar com o corpo ereto novamente, pegando a bola de volta.

Os meninos riram e eu bufei, mirando a bola em um deles, jogando com um pouco de força, mas aqueles ridículos sabiam como agarrar a bola sem que fossem atingidos, então minha intenção não teve sucesso.

— Vocês são uns idiotas — murmurei, dando as costas para eles.

Alan riu ainda mais e eu aproveitei o momento para recuperar o meu fôlego. Não podia fazer tanto esforço com o pulso machucado, mas a bola não era tão pesada e eu podia lidar com os movimentos repetitivos e constantes com as mãos.

— Ei, Ma! — Alguém chamou e eu olhei na direção da voz. — Pensa rápido!

Uma bola amarela voou na minha direção e eu consegui agarrá-la a tempo; Vaccari sorriu na minha direção e se aproximou de mim, pedindo a bola de volta.

— Não ligue para eles — ele disse, assim que chegou perto o suficiente. — São uns idiotas, como você disse. Você não é tão ruim assim.

Olhei para ele com um pouco de descrença.

— Só porque consegui agarrar a sua bola agora? — brinquei, devolvendo a bola, ao passo que ele agarrou perfeitamente.

Ok, eu estava mesmo enferrujada em relação ao vôlei, mas havia um motivo pelo qual eu resolvi ser ginasta. Eu gostava de jogar o esporte, por puro prazer, mas era só isso.

— Não — ele respondeu. — Vai um pouco mais para trás.

Fiz o que ele disse e voltei alguns passos de volta para a quadra. Alan e Cachopa tinham ido para o outro lado, intercalando em um outro exercício.

— Mãos leves — ele instruiu. — Só precisa continuar passando a bola para mim.

Assenti, concordando. Mãos leves significavam as duas palmas abertas, do mesmo jeito que Bruno fazia ao cumprir sua função de levantador.

Era um exercício para conseguir equilibrar a bola e saber jogá-la para o lado rival da quadra; na verdade, eu não tinha certeza. Eu só tinha me enfiado no treino porque um deles me arrastou.

Vaccari, que era um dos mais novos do time, continuou passando a bola para mim e ficamos naquela por algum tempo.

Às vezes, a bola me escapava e eu corria na direção dela, sem intenção de deixá-la bater contra o chão. Um tempo depois, Maique se juntou a nós, até que Thales e Leandro também completassem o grupo.

Eles eram melhores do que eu com a bola, mas como era só um exercício de treino e eu não fazia parte do time, não precisava fazer tanto esforço.

Quando eles começaram a decidir treinar o saque e o ataque, foi a minha deixa para sair e deixá-los treinar de verdade, em paz. Além do mais, o esforço de manter a minha mão em movimento estava fazendo o meu pulso lesionado voltar a doer.

set point | bruno rezendeOnde histórias criam vida. Descubra agora