dois

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talismã, sanduíche e promessa

O QUE VOCÊ ACHA?

Bruno me olhou rapidamente, enquanto eu fiquei parada, apontando para a roupa que eu estava vestindo. Era a primeira partida da seleção brasileira, estreando na Liga das Nações e já estávamos no ginásio onde iria acontecer a partida. Mas como ainda faltava um tempo para todo o jogo começar, de fato, Bruno e eu estávamos escondidos perto do vestiário, os outros fazendo qualquer outra coisa que não me interessava no momento.

— Não está um pouco grande demais em você? — ele brincou, apontando para a camisa que eu usava.

Era a camisa dele, na verdade, uma antiga que ele não usava nos jogos mais; ainda tinha seu nome e o número 1 atrás, e sim, estava um pouco grande em mim, mas eu não me importava.

Encasquetei com a ideia de usar aquela camisa e não tinha trazido nenhuma outra reserva, o que significava que aquela era a minha única opção. Além do mais, a camisa ainda tinha o cheiro dele, o que me acalmava um pouco em relação ao jogo.

— Devo tirar? — perguntei, começando a puxar a camisa para cima, o suficiente para ele perceber que eu não estava usando nenhuma outra por baixo, além do sutiã. — Não será problema nenhum para mim.

Ele olhou para os lados, uma olhada rápida para conferir os olhares dos outros e se aproximou de mim, tirando as minhas mãos da barra da camisa, soltando-a.

Comecei a rir da sua reação e beijei a ponta do seu nariz, aproveitando que ele estava bem perto de mim agora.

— Você é terrível, sabia? — ele resmungou, deixando os ombros caírem em derrota. Em resposta à minha provocação, ele apertou minha bochecha boa e me roubou um selinho. O machucado de hoje de manhã estava bem melhor. — Estou lisonjeado que está usando a minha camisa. Espero que você sirva como um ótimo talismã hoje.

Umedeci os meus lábios e puxei-o um pouco mais para perto. Passei os olhos rapidamente pelo local, agitado demais, mas, mesmo assim, ninguém parecia interessado em prestar atenção em nós dois.

Os jogadores estavam começando a ir para a quadra, para iniciarem um aquecimento antes da partida começar e eu não queria prender Bruno comigo por muito mais tempo.

— Bem, sobre isso... — comecei a falar, acostumada com a visão dele vestido com a roupa da seleção e seu braço coberto por uma manga preta e longa. — Há uma condição para o talismã funcionar.

Os olhos dele despertaram um interesse genuíno e senti o carinho de seus dedos na base da minha cintura, uma mania que ele tinha inconscientemente e que fazia quando estava muito perto de mim daquela maneira.

— E qual é?

— Um beijo — respondi.

Bruno estreitou os olhos, de um jeito engraçado.

— Você quer que eu te beije aqui? — perguntou. — Em público?

Engoli a seco, sem saber como deveria interpretar aquela pergunta. Sim, não era bem um costume nosso ficar trocando beijos divertidos em público, mas todos os seus amigos e colegas de time sabiam sobre nossa amizade colorida. Ninguém se importava mais com aquele fato e, além do mais, eles não contavam exatamente como público.

— Isso é um problema? — indaguei, mordendo meu lábio inferior.

Ele abriu um sorriso genuíno, balançando a cabeça, acalmando as batidas erradas do meu coração.

— Nada mal beijar a minha melhor amiga em público, não é? — ele devolveu.

Mais aliviada, dei palmadinhas leves acima do seu ombro, assumindo uma expressão séria no rosto, encarando-o.

set point | bruno rezendeOnde histórias criam vida. Descubra agora