nove

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sorriso, fofoqueiro e romântico

É A SUA VEZ.

Bruno me encarou com um sorriso bem humorado, apontando para o meu prato servido. Eu não tinha ideia do que era aquilo, embora o cheiro tivesse bom; a aparência, no entanto...

— Não sei se devo continuar participando dessa brincadeira — falei, na tentativa vã de me livrar.

Mas Bruno balançou a cabeça e apontou de novo para o meu prato, esperando silenciosamente que eu tomasse coragem para experimentar a comida estrangeira. Alguns anos atrás, começamos uma tradição meio idiota: íamos jantar juntos em um restaurante totalmente novo que nenhum de nós conhecíamos, de preferência estrangeiro, e experimentamos comidas que tinham nomes estranhos, sem saber o que vinha. 

Não tinha exatamente uma regra e muito menos um vencedor, a diversão consistia em ver um ao outro experimentando algo que poderia ser ruim. Nunca pedimos um prato completo para não desperdiçar a comida, era sempre um pouco de cada só para saborear.

— Sério, da última vez que fizemos isso, você lembra como acabou? — questionei, em outra tentativa.

Estávamos em um restaurante indiano. O local era aconchegante e as pessoas eram simpáticas e não havia muita gente ali, o que permitia que eu e Bruno ficássemos à vontade sem pessoas reconhecendo-o.

Ele tinha pedido um prato cujo nome eu não sabia pronunciar. Quando experimentou a primeira colher, sua careta não me animou para a minha vez.

— Sim, eu lembro — ele respondeu, bebendo um gole do vinho, a única coisa decente e conhecida entre nós. — Precisei ficar dois dias trancado em seu apartamento cuidando de você por intoxicação alimentar.

Reviveu os olhos, pegando o garfo.

— E, mesmo assim, aqui estamos nós — murmurei, mas notei que ele não ia desistir.

Nem era o primeiro prato da noite, mas o embrulho no meu estômago indicou que deveria ser o último. Eu realmente deveria ficar só no vinho pelo restante da noite. Seria horrível ter outra intoxicação alimentar com a Liga das Nações acontecendo e com Bianca vindo me visitar amanhã, com duas crianças de bagagem.

Definitivamente, seria o último prato.

Por isso, tomei coragem e cortei um pedaço do que parecia um cogumelo pequeno, molhando-o no molho marrom que também tinha ali. Umedeci meus lábios, encarei meu melhor amigo com grande expectativa e finalmente levei o garfo até a minha boca, mastigando a comida.

E me engasguei.

— Marcela! — Bruno exclamou, olhando para mim com preocupação.

Tossi um pouco, tampando a minha boca com a costa da mão direita, me obrigando a engolir o que eu tinha mastigado, me recusando a cuspir de volta no prato, porque era nojento.

Bruno, em uma velocidade impressionante, se colocou do meu lado, alisando as minhas costas quando parei de tossir e me ofereceu uma taça de água.

— Isso é horrível! — reclamei, quando a crise de tosse passou e aceitei a taça de água da mão dele.

Ele riu e beijou a minha testa, desculpando-se por não ter me avisado, mas a graça do jogo era aquela.

— Vou te compensar — ele disse, me encarando com uma expressão mais serena agora, a preocupação abandonando as rugas de sua testa. — Pode pedir qualquer coisa comestível do cardápio, eu pago.

Arqueei a sobrancelha, virando o rosto para ele depois de beber um gole da água.

— Bruno, você vai pagar o jantar inteiro — eu disse, frisando a última parte. — Você me convidou e insistiu na brincadeira que quase me mata.

set point | bruno rezendeOnde histórias criam vida. Descubra agora