cinco

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manipulação, torcicolo e abraço

PASSEI AS PRÓXIMAS HORAS seguintes tentando convencer Bruno que eu estava bem, apesar da mensagem. Gabriel não tinha dito nada demais e, como tinha dito ao capitão teimoso, não respondi a mensagem e apaguei. Eu ia trocar de número para que aquilo não acontecesse mais — isso ele me fez prometer. 

Quando ele parecia finalmente convencido, deixei todo ar pesado sair do meu corpo, porque era cansativo fazê-lo acreditar em alguma coisa. Eu me sentia bem melhor depois de uma hora de sono pós-almoço, até ele precisar levantar para voltar ao ginásio. Meu pulso tinha parado de me incomodar e, como eu não tinha mais nada para fazer sozinha no quarto do hotel, me arrumei e acompanhei-o até o ginásio onde iria acontecer a segunda partida contra a Eslovênia.

— Aqui dói? — Franco questionou, tocando em algum ponto do meu pé, verificando se eu ainda precisava continuar andando com aquela faixa.

Testei os seus dedos na minha pele, balançando a cabeça em negação em resposta à sua pergunta. O pé não me incomodava tanto quanto o pulso mais.

— Tem certeza? — ele insistiu.

Revirei os olhos.

— Sim, Franco, eu tenho certeza que não dói nada — respondi, tentando manter minha voz firme o suficiente para que ele acreditasse de uma vez. O homem era desconfiado pra caramba. — Já terminou?

Ele sorriu, afastando os dedos do meu pé.

— Não pode me culpar por duvidar de você — ele se defendeu. — Já escondeu uma lesão antes, o que te impediria de esconder agora?

Olhei feio para ele, mas deixei que ele me livrasse da faixa no pé, doida para que aquele troço fosse tirado logo. Era horrível querer coçar a pele e não poder.

— Não tenho nenhum motivo plausível para isso agora — rebati.

Eu não estava treinando mesmo. Já tinha sido tirada de todos os campeonatos possíveis pelos próximos dois meses, não tinha sentido esconder mais alguma lesão. Na verdade, fazer aquilo pioraria gradativamente o meu estado físico, o que só adiaria ainda mais a minha volta para a ginasta e eu já estava sentindo os efeitos de sua ausência.

— Não importa o motivo, Marcela, não se esconde uma lesão.

Bufei, coçando a minha bochecha, saindo da maca improvisada da enfermaria do ginásio. Testei o meu pé sem a faixa, aliviada por não precisar andar mais com ela, mas infelizmente, meu pulso ainda precisaria continuar com aquilo. Franco insistiu que eu parasse de me deixar ser arrastada para brincar com a bola no treino dos meninos, porque o movimento repetitivo da mão poderia piorar a lesão. E eu tinha que melhorar, não piorar.

Mas não prometi nada. Ele devia conhecer melhor do que eu o time que cuidava.

— Acho que nem assim ela vai aprender — a voz de Lucarelli surgiu.

Me virei na direção da porta, encontrando-o sorrindo para mim, erguendo uma garrafa de água na mão. Daquela vez, eu não estava nervosa, só um pouco ansiosa para assistir o jogo se desenrolar. Eu esperava que eles fossem o vencedor daquela partida novamente.

— Obrigada pelo apoio — zombei, vendo-o dar de ombros.

Franco balançou a cabeça, como se estivesse assistindo duas crianças e se virou para mim, apontando um dedo em riste na minha direção.

— Pare de exagerar com o pulso — ele aconselhou mais uma vez. — Sem movimentos repetitivos pesados.

E saiu, me deixando sozinha com Lucarelli. Ele me jogou a garrafa de água e eu calcei minhas sandálias de volta, feliz por estar sem a faixa no pé, mas que não significava que minha lesão estava melhor.

set point | bruno rezendeOnde histórias criam vida. Descubra agora