Prólogo

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Os poucos raios de sol que invadiam os jardins do Palácio, incapazes de aquecer sequer os animais pequeninos que por lá viviam, tocavam o relógio solar, marcando exatamente meio-dia embora o céu da outrora cidade dourada estivesse escurecido pelas nuvens, dando a esta um brilho acinzentado. Asgard já não era tão reluzente. O frio havia abatido todos os cantos do reino, mesmo que ainda estivesse no outono, e começava a preocupar o povo, um inverno rigoroso se aproximava, e parecia não trazer nada além do frio congelante.

– Não parece ser um bom sinal. – Pensou o Pai De Todos, a preocupação o deixando ainda mais abatido. Admirava por uma das janelas de seus aposentos, o vasto reino de Asgard, que, mesmo sem o brilho cotidiano ainda assim sobressaia-se em meio a nebulosidade, imponente e grandioso era sem dúvidas o mais belo dos nove reinos. O lar dos Deuses.
Atento ao cenário asgardiano, notou diante de seus olhos o céu escurecer-se mais e um forte trovão pôde ser ouvido, reverberando pelas paredes do cômodo e Odin pensou em seu primogênito, Thor, mesmo sabendo que os raios e trovões que agora sacudiram o céu não eram obra de seu filho.
Lembrar do Deus Do Trovão o fez refletir por breves segundos o quão adulto e maduro seus filhos estavam – ao menos um deles –, e que logo o mais velho tomaria o seu lugar no trono, então Odin poderia enfim desfrutar o resto de seus dias ao lado de sua querida Frigga. Não pode evitar o riso ao imaginar Thor como rei, torcia para que seu filho governasse melhor que ele, que não cometesse os mesmos erros estúpidos. Talvez, quem sabe, consiga até reintegrar o irmão adotivo, embora o próprio Odin tenha perdido quase todas as esperanças no Jotun .

Aspirou cansado ao relembrar o caos instaurado por loki em Midgard, mas batidas na porta o fizeram despertar, trazendo-o novamente a realidade. Apenas pronunciou "entre" em seu timbre grave. Não se deu ao trabalho de virar-se e olhar quem invadia seus aposentos, pois sabia em seu coração quem estava do outro lado da porta de carvalho.


– Imaginei que fosse estar na sala do trono, meu pai. – Afirmou Thor, pondo-se ao lado de seu pai. Olhou o cenário à sua frente, Asgard, e depois o velho ao seu lado, que se mantinha impassível ao outro homem presente. Thor o conhecia o suficiente para entender que os pensamentos d'O Pai De Todos não estavam postos ali.

– O que lhe aflige, pai? – pediu virando-se para observá-lo, com preocupação evidente em sua voz.

– Não tenho bons pressentimentos acerca desta tempestade. – Afirmou algo que não era totalmente mentira. Agora uma fina garoa caia sobre a cidade dourada, molhando também – com a ajuda do vento – o rosto fatigado do ancião, que pareceu não se importar.

– Ora essa, meu pai, é só chuva, não vejo porque o senhor precise se preocupar com algo tão banal quanto a água que cai dos céus. – Assegurou o loiro com um sorriso leve nos lábios. Sentiu-se aliviado por dentro.

– Você, com os seus dois olhos, só enxerga metade da pintura, meu filho. - Thor não compreendeu as palavras sábias do homem ao seu lado. Não era tão esperto para entender as entrelinhas, gostava mais de exercitar os músculos e não os neurônios. Por fim escolheu o silêncio ao invés de proferir palavras vazias, e continuou a ouvir seu pai, enquanto voltava sua visão para além da janela.

– Eu estou ficando velho, Thor, como o meu primogênito você deve estar pronto para governar Asgard e proteger os nove reinos quando eu me for. – Retomou aquele assunto trágico e Thor suspirou baixando brevemente o olhar, não gostava quando seu pai falava daquela maneira. Não almejava mais o trono como antigamente, contentava-se em ser apenas Thor.
– Você amadureceu no curto tempo em que residiu em Midgard, entretanto ainda lhe falta algo, você tem um bom coração, mas só isso não é suficiente para governar. Eu, por exemplo, só me senti verdadeiramente rei quando conheci sua mãe. – Retrucou finalmente encarando o loiro, que sustentou o olhar do ancião.

– O que isso significa, Pai?

–Significa que você precisa de uma rainha para ser um rei próspero e auspicioso. – Ouviram tal explicação vir da outra extremidade do quarto. Viraram as cabeças concomitantemente para confrontar o dono daquela voz, embora soubessem exatamente a quem pertencia. O timbre da voz do Deus Das Travessas era inconfundível.

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