Em Solo hostil II

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– Quero sair.

Loki falou suplicante, nervosismo escorrendo em cada palavra trêmula murmurada, parecia que ele estava prestes a quebrar, e Frigga respirou fundo pela terceira vez desde que entrou naquele quarto, afinal já havia se acostumado aos acessos do filho.

– Querido, pela enésima vez, entenda, isto não depende de mim… – a rainha de Asgard tentou explicar gentilmente, sentada confortavelmente na cadeira ao lado da cama, sempre plácida, olhando seu filho adotivo andar de um lado para outro no cômodo.

– Está mentindo! Você deseja me ver trancafiado aqui assim como eles desejam! – Loki explodiu em fúria elevando a voz, parando de andar e apontando para o nada enquanto olhava irado para a mãe. Atordoado, ele continuou:

– Por isso armou esse maldito casamento! Você cansou de mim e quis empurrar este fardo para outra pessoa. – disse, agora apontando a si mesmo. – Por que não permitiu que Odin me matasse? Por acaso gosta de me ver em agonia? – esbravejou, segurando os braços da cadeira e olhando de olhos arregalados para a mulher sentada à sua frente. Frigga permaneceu calma, enquanto Loki apertava a mandíbula e cravava as unhas na madeira.

– Fale a verdade, mentirosa! – Frigga olhou-o nos olhos enquanto estendia a mão para acariciar a bochecha leitosa do filho, mas Loki afastou-a com um tapa rude.

– Já chega Loki, acalme-se. – Frigga falou num tom mais firme, mas não obteve o efeito desejado, Loki parecia só ouvir a si próprio.

– Você me colocou aqui! Foi você quem me prendeu neste quarto, então você pode me tirar, apenas por um momento… – o príncipe falou, e seu tom saiu trêmulo enquanto lágrimas se acumulavam no canto dos olhos verdes. – por favor, mãe… – Loki suspirou, apertando mais ainda a mandíbula para impedir qualquer lágrima de derramar.

Outra vez Frigga levou a mão à bochecha do filho, e desta vez Loki não a impediu.

– Acalme-se, querido. – ela murmurou enquanto colocava uma mecha de cabelo atrás da orelha do príncipe. Loki por sua vez, não pôde mais se conter e desabou em lágrimas, caindo de joelhos diante da mãe. Frigga acariciou delicadamente a cabeça negra do filho, enquanto o mesmo chorava alto e desesperado apoiando-se ao braço da cadeira.

"por favor, por favor". Loki suplicou baixinho, enquanto colocava para fora do peito toda a angústia que sentia naquele momento.

– Morrerei se continuar aqui... – Falou rouco em meio às lágrimas e o ranho que escorria do nariz.

– Não vai, lhe prometo. – Frigga disse momentos depois, a mão ainda pousada sobre os longos cabelos do filho mais jovem.

De súbito, Loki levantou-se e andou até a lareira acesa, para bem longe da mãe, sentando no tapete em frente ao fogo e apoiando a cabeça nos joelhos dobrados, abraçando-os. Seus cabelos estavam tão longos que tocavam o chão, e de longe pareciam mais uma capa com capuz. Sua face ainda era banhada pelas lágrimas, e Frigga lembrou-se do tempo longínquo, quando Loki era apenas uma criança.

– Falarei com Thor. – Frigga disse, de onde estava sentada, com o coração apertado ao ver o estado lastimável do filho.

– Ele não ouvirá nada. – Loki falou e sua voz soou afetada, seus olhos fixos nas chamas dançantes. – Thor mal me olha agora, me evita de tal maneira que parece que estou leproso, e eu tenho me comportado, eu juro! Tenho mantido minha boca fechada, como a senhora me disse pra fazer. Mas eu quase não o vejo, já faz dias que ele não me leva para as refeições ou a varanda. – explicou em um fôlego só, e Frigga soube que o choro tinha recomeçado quando viu os ombros do filho tremerem.

– Thor me disse o contrário, disse que é você que está se recusando a comer com ele.

– Ele é um mentiroso! E faz tudo para parecer que a culpa de tudo é minha! – Loki gritou, e Frigga estalou a língua, pois sabia do real esforço que Thor fazia para deixar tudo o mais agradável possível para o marido, mesmo que Loki não corroborasse com a verdade.

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