A Véspera

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– Então, finalmente chegou – falou Balder, coçando a longa barba ruiva.

– Sim. Amanhã, nosso querido amigo Thor estará unido à criatura mais vil que já existiu nos nove reinos. Para toda a eternidade – completou Lady Sif, amarga, enquanto virava mais um copo de hidromel. Os inseparáveis guerreiros estavam reunidos desde muito cedo naquela taverna, sentados em um canto mal iluminado, tramando sobre o futuro e principalmente ajudando Sif a "afogar as mágoas", como dizem os mortais.

– Eu não compreendo, como tudo isso chegou a esse ponto? – questionou Vidar; não existia nada nos nove reinos que ele não pudesse entender, mesmo em sua breve existência, porém tal união ainda lhe era estranha. Afinal, ambos são irmãos, correto?

Todavia, ele sabia o porquê sem tirar os olhos da bebida de Lady Sif, o quão enciumada ela estava; a razão pela qual ela bebia aquela noite. Contando com essa, a guerreira já tinha bebido onze canecas de hidromel e Vidar preocupou-se com o seu consumo excessivo de álcool, ainda considerando a grande cerimônia que aconteceria amanhã de manhã. Cerimônia essa que nenhum dos três poderia perder.

– Ah, por favor! – exclamou Lady Sif, batendo com força a caneca na mesa rústica de madeira, chamando a atenção para si das poucas almas que ainda insistiam em permanecer na taverna aquela hora da noite – Quase toda criatura viva nos nove reinos quer a cabeça desprezível daquele verme. Se Frigga não tivesse implorado, rastejando aos pés de Thor para que ele o protegesse… bem, Loki não estaria respirando agora, não se dependesse do Pai De Todos.

– Thor é o ser mais forte, e também o mais temido nos nove reinos, para chegar até Loki precisam primeiro enfrentá-lo, e ninguém tentará isso – afirmou Balder.

– Infelizmente – Lady Sif murmurou.

Não estava sendo fácil para a guerreira passar por tudo isso, afinal, Thor foi e ainda é o grande amor da sua vida, seu coração ainda dói ao lembrar-se do tempo que dividiram um com o outro antes de tudo desmoronar. Primeiro, o Deus do trovão a deixou por uma mortal, e agora, Sif foi outra vez deixada de lado por Loki, aquele desgraçado. Mesmo que Lady Sif e Thor não tivessem nada romântico a séculos, Sif ainda se sentiu traída, pois se as coisas tivessem sido diferentes, seria ela que estaria trocando votos matrimoniais com o verdadeiro filho de Odin amanhã. Thor lhe prometeu isso uma vez.

Suspirando, a guerreira passou os dedos entre os longos fios de cabelo negro, tirando-os do rosto enquanto olhava o fundo de sua caneca e recordava o passado. Já fazia muito, muito tempo, mas Lady Sif ainda se lembrava da época em que eles eram ainda mais longos e tão dourados quanto um campo de trigo, Thor os adorava e costumava dizer que seu cabelo brilhava mais que o sol do meio-dia. Então Loki, por pura zombaria e travessura, o cortou até a raiz, a deixando completamente careca.

Sif ainda se questiona se Thor deixou de amá-la depois que seu cabelo cresceu negro. Sif ainda deseja cortar as mãos de Loki por ter feito o que fez.

– Agora, infelizmente, é muito tarde para tentarmos mudar algo. Thor já se decidiu e a cerimônia é amanhã, só o que podemos fazer é comparecer e dar algum apoio moral para o nosso pobre amigo – Balder falou, se colocando em pé – Está tarde e todos nós necessitamos de um pouco de descanso. Eu já vou, e vocês, caros amigos?

– Eu também irei – disse Vidar, também levantando-se e depositando algumas moedas de ouro sobre a mesa como pagamento pelas bebidas – Sif?

– Ficarei mais um pouco – murmurou a mulher, sem olhar ou despedir-se de nenhum dos dois.

Os homens entreolharam-se, mas nada disseram e apenas saíram juntos, em completo silêncio.

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