As íris azuis o queimavam como faíscas atiradas ao álcool. Harry sentia sua pele arder só pela maneira como os olhos do xerife estavam cerrados e visivelmente perturbados e aflitos.
Ele esta lá, descendo de seu jeep enquanto assiste Harry partir para mais uma de suas caças.
O trabalho vem sido triplicado devido à falta recorrente de sono e a inquietação nas pernas. Elas estão sempre exaustas mas anseiam por qualquer mínimo movimento, e sinceramente, Harry preferia perambular por horas em pé do que deitar no colchão e sonhar com dedos enrolando suas madeixas e ruguinhas nos olhos o encarando tão atentamente.
Tem sido semanas de um inferno constante ligado à pílulas - e cocaína, desde que percebeu que era anestesiante e o levava à uma imersão de todos os seus pensamentos frustrantes.
Não que funcionasse cem porcento do tempo.
Quando o efeito passava, havia aquela sensação recente de comodidade ao desassossego, e Harry simplesmente não conseguia escapar das lembranças.
O sono vinha depois de dois, três dias completos sem dormir e as memórias se alastravam cada vez mais. O queimando tão fundo, o encurralando.
Harry imaginou tanto. Ele modificou os acontecimentos daquele dia em sua mente transtornada, ele aumentou tantos cenários que a esse ponto já não tinha ideia do que era real ou não, do que realmente aconteceu e o que ele inventou.
A sua nuca ainda formigava toda santa noite. A sua cintura foi marcada por algo invisível que está sempre ali, presente. Aquele toque ainda está tatuando seu coração de preto e o cegando de tudo que um dia ele já pode ver.
E mesmo que Louis esteja do outro lado da rua e não haja mais ninguém na calada da noite além dos pássaros noturnos, Harry não o encara de volta. Ao contrário, ele puxa as cordas e Astro trota mais rápido.
A colina está com uma grama mais verde, o mato mais alto, mas o cantinho perto de um minúsculo conjunto de flores está intocável, como se fosse o lugar onde Harry pudesse ficar para sempre e tudo estaria bem.
Ele se sentou olhando os pequenos pontinhos brilhantes no céu e segurou o caderno de couro.
Com a mão esquerda, de qualquer jeito, começou a escrever.
"Venho ignorando aquele pedaço de folha no fundo do armário. O meu coração anda embriagado de confusão e eu me sinto no automático, usando todas as míseras partículas de mim mesmo para me manter vivo. Estou constantemente tentando sobreviver. Não sei qual direção seguir."
Foi tudo que conseguiu escrever naquele dia.
Fazia um tempo que não pegava a caneta e sentia a respiração desacelerar.
Harry montou em Astro e galopou até os montes claros de New Peace enquanto marcava alguns pontos em seu mapa. Quando chegou a pequena cabana que Harper o mandou visitar, se assustou com o silêncio do lugar. Tudo parecia tão terrivelmente vazio.
Ele amarrou o cavalo a uns metros da estrada e se esgueirou até o quintal da cabana. O cacheado pulou a janela para dentro e tentou não ficar curioso para examinar todos os cômodos. Não foi difícil achar a sala e o grande relógio de madeira que procurava.
Quando levantou o objeto, o barulho ensurdecedor se espalhou pela casa toda. Harry ficou estático, esperando que não fosse nenhum alarme ou algo do tipo.
Mas pra sua surpresa, ninguém apareceu. Ele conseguiu pegar a pequena caixa que batia exatamente com a descrição que Harper o passou e saiu por onde tinha entrado.
Assim que pisou no chão, se pôs a correr silenciosamente nas pontas dos pés.
Ele seguiu na direção que tinha deixado Astro, mas tudo parecia escuro demais. Eram três da manhã e ele só conseguia ouvir grilos.
"Merda." E então ele sentiu. O cano da espingarda na sua cabeça e o objeto pontudo na base da sua coluna.
"Se vire bem devagar."
E ele o fez, sentindo que não tinha cheirado o suficiente pra lidar com aquilo naquele momento.
"Você não é o Harper."
"Perdão, quem?" Harry sussurrou, sentindo um calafrio persistente em seu pé do ouvido e sua barriga roncar.
"Quem é você?" O homem dos olhos azuis mais claros que ele já tinha visto perguntou. Seu cabelo louro estava se remexendo pelo vento e ele não parecia tão intimidador, apesar da postura severa e claro, a espingarda apontando para a testa de Harry.
"Edward Twist. Por quê está apontando essa arma pra mim?"
O homem não se encolheu nem por um segundo, ainda com a faca pronta pra abrir mais uma parte da carne de Harry.
"Como assim, moleque? Você aparece na parte mais longínqua e abandonada da cidade, na frente de onde eu moro, às três da manhã e acha que vou te receber com chá e biscoitos?"
"Você deve ter um motivo pra estar tão escondido." Harry diz, mas se arrepende na mesma hora. A expressão do homem fica mais dura, e ele ameaça puxar o gatilho. "Quer dizer, me desculpe. Tenho uma insônia vergonhosa e estou acordado à dias, além do meu problema com drogas. Ás vezes eu saio com meu cavalo até atravessarmos o estado e eu mal percebo."
O homem não parece convencido, mas guarda a faca no bolso. Ele aponta para a esquerda de onde Harry está, e Astro está lá, com os pelos suaves e calmo como se nada estivesse acontecendo.
"Você pode ir, desde que nunca mais volte."
Harry assente, se movendo até o cavalo.
"Se aparecer de novo, eu atiro antes de ter certeza que é você ou não."
Não é a primeira vez que o cacheado é ameaçado de morte assim, mas isso ainda o deixa meio balançado da mesma forma. Acho que parte dessa vida não o fazia feliz. Ou metade dela.
"Avise Harper pra tomar cuidado." O homem grita ao longe e Harry percebe que se meteu em algo muito mais complexo do que ele imaginava que seria.
Ele sorri, voltando a Folks, a sensação de que pela primeira vez em um período longo ele parou de pensar naquilo.
Seu sorriso morre ao mesmo tempo em que percebe que irá remoer esse fato o resto do caminho.
Bem, pelo menos ele não foi esfaqueado nenhuma vez.
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breakfast at folks | hiatus.
FanfictionEm uma cidadezinha no interior de Goldland, as manhãs cheiravam a trapaça e tudo que se ouvia eram os galopes costumeiros e o relinchar dos equinos. Harry Styles trotava com sua égua de cidade a cidade procurando algumas presas indefesas, mas não e...