some tent-like thing.

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[terceira pessoa]

Enquanto Louis adormecia em seu encalço - com a pele reluzente do seu braço o agarrando pela camisa em uma posição desconfortável - Harry desenhava luas e mais luas entre os cantos das páginas em branco do seu caderno.

O bloco de notas fora esquecido em um instante no tempo, o remetendo à lembrança amarga de que suas palavras começaram a estilhaçar mais sangue do que o usual.

Ele precisou de muito mais do que alguns centímetros de folha amarelada e envernizada com linhas vermelhas amassadas nas laterais.

Os trilhões de equívocos pensamentos presos em jaulas dentro da cabeça de Harry ecoavam uma doce melodia de piano, mantendo o acordado o suficiente para que a respiração se encurtasse e a garganta pedisse por mais ar. O mantendo desperto o suficiente para que seu corpo todo tremelicasse diante ao outro tecido colado ao seu e a velocidade com que sentia seu coração batendo, no pulso.

Os seus dedos não podiam estar menos instáveis. Com todo aquele costumeiro formigamento entre as juntas e o suor acumulado debaixo das unhas.

A caneta parecia estar flutuando pelo ar, porquê sinceramente, Harry não conseguia sentir a própria mão ligada à ele. - de qualquer forma, não precisou hesitar em abrir mais uma das páginas do caderno e colocar sua mente para trabalhar como uma máquina à vapor. Ele tentava sugar todos os seus mais profundos e escancarados pedidos de atenção que se mantinham lá dentro da sua mente, como uma coisa que precisava ser procurada por muito tempo até que fosse realmente encontrada.

Como a lua. Você necessariamente só podia ver a lua após a esperar por horas a fio. Ou você podia a enxergar apagada dentre o céu azul brilhante com a ligeira e opaca solidão espelhada em sua orbe.

Talvez Harry pudesse fazer mais alusões à lua. Até que eles eram bem parecidos.

[...]

Enquanto ele fazia mais alguns rabiscos dentre as páginas, sentiu o seu corpo esfriando e sua bota transmitindo alguns choques pela sua perna esguia.

Louis se levantava calmamente enquanto a madrugada se tornava cada vez mais leve como sussurros disparados à nevasca brutalmente gélida.

O joelho de Harry involuntariamente tremeu e sua espinha se arrepiou pelo modo como os dedos quentes do outro tocaram a sua nuca quase que imperceptivelmente. Quase como um devaneio. Quase como se ele tivesse inventado aquele toque na mesma medida como inventou todo o resto depois dos rastros de Louis irem embora.

"Eu tenho que ir." O xerife proclamou, inescrutável. Não deixou que houvesse algo para ser dito como resposta. Ele apenas se foi, como um maldito pesadelo ilusório. Com as palavras ásperas na superfície e duras como pedra. Porquê aquilo realmente não significava porra nenhuma.






(Harry's notebook)

Durante esse período impiedoso onde eu não podia definir o que estava sentindo e como estava lidando com todo aquele mundaréu de coisas que se passavam dentro do meu cérebro, a água com gelo me manteve vivo como artista.

Porquê eu precisava de algo como metáfora, eu nunca saberia me expressar se não pudesse me espelhar em algo. Nada é original.

E então eu bebia aquele líquido transparente, sem gosto e sem cheiro.

Eu bebia toda a maldita água do copo e estava satisfeito.

Os pequenos cubos continuavam ali. Como pedaços de iceberg enviados para um lugar ensolarado onde seus destinos eram somente um.

Eles estavam fadados a suprir a necessidade de algo que já existia, e depois eram descartados como um nada por quê nunca teriam importância o suficiente como a primeira coisa.

A derivação de algo variava a existência do gelo que só podia ser concedida através de uma coisa que nem todos precisavam.

Ninguém precisa necessariamente beber água gelada. Mas todos precisam beber água. Somente ela, crua e sem ambiguidades. Sem nenhum outro processo.

O único problema do gelo é que uma hora ou outra, ele sempre iria ter o mesmo final.

Ele sempre se derreteria.

breakfast at folks | hiatus.Onde histórias criam vida. Descubra agora