I'm a Mess - Ed Sheeran

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Em meio aquela paz que a natureza trazia, junto com a música alta dos meus ouvidos, meu celular tocou.
- Ei, princesa! Fala pra mim em que bloquinho você tá - ele gritava, já bêbado, do outro lado - São Paulo está fervendo, maluco.
Não pude deixar de sorrir. Mesmo com aquela baderna na minha vida, no Brasil ainda era a melhor época do ano.
- Não vou sair não, meu amor. - então me veio uma luz. Quem melhor pra dar conselhos que um bêbado? - Estou atrás de paz, Lu, sabe onde eu acho?
- Menina! Vai atrás do Leo! Ele te ama demais, não tem paz melhor que o amor... Eu vou chorar, Giulia, não diz pra ele que eu disse isso, tá? Todo mundo ama... Eu também te amo...
- Ei Lucas, está tudo certo. - interrompi - Aproveita por mim.
E desliguei.
O que me incomoda tanto? Minha família, de fato, não era perfeita, mas o que eu poderia esperar? Nós tínhamos tudo certo na medida do possível. Isso me incomoda? O fato desse redemoinho estar abalando a única coisa mínimamente organizada ou tudo o que Lucas me dissera?
Mas ele estava bêbado. E amigos se amam mesmo.
E talvez esse seja o real problema, eu nunca tive amigos de verdade. Pela primeira vez eu tive algo inédito: confiança. Mandei uma mensagem simples para o Leo.
/
Giulia Mendes: Preciso de você.
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Foi o suficiente para uma ligação:
- Onde você está?
- No Ibirapuera - não pude evitar chorar de novo - me explica como chegar na sua casa, eu não posso confiar no meu motorista e...
- Ei, se acalma - pude sentir que ele sorria através do celular - Eu vou te buscar, não sai daí.
Eu nunca vi ninguém fazer tanto barulho no meu coração. Citando algo que Ana e Vitória me ensinaram, mas que eu nunca tinha praticado. Aquilo me arrebatava, parecia uma mistura de felicidade com um medo terrível de perdê-lo, isso era perigoso demais, porque minha vida era tão inconstante, não tinha espaço para um sentimento como esse, mas mesmo assim, queria que continuasse.
Leo chegou depois de um tempo.
- Desculpa, meu jatinho particular não estava disponível - ele disse se aproximando.
Corri ao encontro dele e o abracei. Minha respiração difícil contrastava com o peito acelerado dele. Talvez eu estivesse olhando pelo ângulo errado e, só talvez, Leonardo fôsse a minha única certeza, não minha maior dúvida.
- Eu também te amo - sussurrei. Mais pra mim mesma que para ele.
Não esperei que ele se desvencilhasse de mim daquela meneira, mas ele logo segurou meu rosto com as mãos e me beijou. E pela primeira vez, quem reagiu a isto foi meu coração, pura e simplesmente, porque minha razão não saberia responder. Na minha cabeça estava tudo errado, lindamente errado, apaixonadamente errado.
- Eu não lembro de ter dito isso antes, mas... - interrompi Leo com outro beijo - Bom, eu te amo também. Ou primeiro, não sei. Eu estou um tanto perdido na lógica aqui...
Eu ri de forma genuína. Aqueles sorrisos que só acontecem quando você vê algo extremamente gracioso.
- Bobo. - suspirei. Mas logo meu sorriso se foi - Você é o mais novo ficante da drogada mais popular desse carnaval.
Leo riu observando o fotógrafo que me incomodava.
- Eu já ia reclamar de não ter saído nas fotos de ontem.
- Posso ir pra sua casa? - falei.
- Claro, minha mãe vai adorar conhecer a garota que me colocará nos jornais.
Segui com ele de metrô. No caminho, expliquei pra ele tudo o que vira e ouvira vindo do meu pai. Contei para o Leo tudo o que me assustava e esperei que ele me taxasse como louca. Mas ele não o fez, ao contrário, não me soltou de seus braços por nem um minuto e acreditou em tudo que eu falei. Disse que estaria ali para o que precisasse e que eu poderia ficar na casa dele até que minha mãe voltasse.
- Olha, lá em casa não é como a sua. Na verdade, é bem diferente da casa de qualquer um lá da escola. Eu sou bolsista lá, não tenho o mesmo nível de grana. Mas eu te garanto que é cheia de carinho e que todo mundo vai te tratar extremamente bem.
Assenti. E mais uma vez, dava um passo rumo à algo diferente. Leo era diferente de qualquer pessoa que eu poderia conviver, pessoas que eu achava que me faziam feliz de verdade, significavam nada perto dele. O que eram festas todo final de semana, perto da minha mãe envolvendo a dele pelas ruas desconhecidas de São Paulo?
- Que bom que sua amiga chegou bem na hora do almoço! - disse a mãe dele assim que eu entrei. Sorri, tímida. A mesa estava posta com uma variedade bem brasileira de coisas.
Arroz, feijão, bife, batata frita e salada. Se um dia minha rotina voltasse ao normal, trocaria fácil a dieta regrada por isso.
Passei toda a tarde lá. Começava a esquecer o motivo de estar ali, até o telefone tocar. Atendi rapidamente:
- Mamãe?

Eu Apenas EsqueciOnde histórias criam vida. Descubra agora