O Leãozinho - Caetano Veloso

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— Você é um verdadeiro clichê, Giulia Mendes — disse Clarisse com um copo de suco nas mãos.
Meu avô me permitiu sair, desde que não fosse para perto da minha casa (ou minha antiga casa) e pontos muito movimentados. O que foi difícil, afinal, era carnaval, tudo que é rua em São Paulo, estava lotada. Optamos pelo Villa Lobos, um dos parques da cidade, próximo da casa de tia Mari.
— Quando estiver com tempo, escreva um livro sobre mim. — respondi sorrindo.
— Capaz! — Clarisse estava linda aquele dia. Com o cabelo loiro recém cortado enfeitando o pescoço e o rosto um tanto vermelho do pouco tempo que passara na praia — Só estou aqui para limpar minha consciência.
— Claro — ri — Lucas, se você dormir agora, eu soco seu estômago.
Ele acordou assustado.
— Perdão, princesa. Eu tô virado, sabe como é.
— Pelo visto eu estraguei o feriado de todo mundo mesmo... — apoiei o rosto sobre a mão, fingindo tristeza.
— Você salvou o meu — sussurrou Leo, no meu ouvido. Senti a nuca arrepiar e sorri sem perceber.
- Ei, vocês dois! — disse a Clarisse — É namoro ou amizade?
- Como assim, tem alguma coisa? — Lucas indagou, bocejando.
- Ah! Aí tem coisa sim. Anda, me contem.
— Desculpa, não fiz as horas de apresentar à vocês meu namorado? — sorri para o Leo.
Ele me beijou e sorriu.
— Amo você — sussurrou.
— Nojentos... — cantarolou minha melhor amiga.
Alugamos algumas bicicletas e rodamos o parque algumas vezes. Faltavam apenas três dias para o fim de tudo aquilo e eu queria estender ao máximo.
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— Lisse, me leva pra casa? Eu estou precisando dormir, de verdade. — Lucas falou, se apoiando na garota.
— Vou chamar um carro.
— Está ficando na casa dele? — perguntei um tanto confusa com essa intimidade extrema.
— É, nossas mães se conhecem e ela só me deixou voltar desde que eu não ficasse sozinha — respondeu Clarisse, dividindo a atenção entre mim e o aplicativo no celular — Vamos então, Lu. Amanhã a gente volta, belezinha?
— Claro — abracei-a — Obrigada.
— Eu prometo que amanhã vou estar naquele pique pra te pegar de jeito, menina. Nada desse trapo aqui não — brincou Lucas, arrancando um revirar de olhos do Leo.
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O corpo do Leo ao lado do meu equilibrava nossas temperaturas. Tudo se conecta quando o amor está no meio. Ou o amor conecta tudo. O homem quando ama a natureza, é o conectado à ela na mesma proporção que um homem que não ama, mas ele só percebe essa conexão, quando ama. Talvez o amor seja percepção.
Abri os olhos. O Sol se punha para mais um dos meus últimos dias no Brasil. Ponderei sobre o fato de não ter aproveitado o máximo dessas pessoas que agora faziam tanta diferença para mim. O tempo que eu perdi não me entregando ao que era meu de verdade, à felicidade com a qual eu tinha sido agraciada. Agora eu tinha apenas dois dias para aproveitar o doce daqueles sentimentos.
Olhei para o motivo de tanta paz e sorri. Passei meus dedos pelos cabelos dele, como tinha feito há um tempo atrás. Não tem carinho mais terno que o cafuné. Acalma as pessoas. E pelo pouco que entendo do Leo, sei que ele estava nervoso com toda essa história. Ele não me contava, mas também não falava com a tranquilidade que lhe era característica. Ele abriu os olhos.
— O que foi? — perguntou sorrindo.
— Eu só gosto de te ver mesmo — respondi num sussurro — O sol já vai se pôr, Leãozinho.
Ele sorriu e olhou para o céu laranja que nos cobria. O telhado mais bonito que podemos ter é o céu em um pôr do Sol.
O Leãozinho. Caetano Veloso escreveu essa música em homenagem à um belo leonino. Mas para sempre me lembraria meu querido Leonardo.

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