CAPÍTULO 5

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E V A N G E L I N E

Suspiro, sentindo que o cheiro do Gregório e pela primeira vez isso me acalenta, por saber que foi apenas um horrível pesadelo, e minha família jamais me deixaria dormir na rua. O frio que atinge meus pés, me faz resmunga, e me obrigo abrir meus olhos, levantando-se de um salto ao perceber a névoa do amanhecer me envolvendo.

O casaco pesado do Gregório, estava sobre mim, e quando olhei para o outro lado da rua, vi seu corpo grande virar, e partir. — Ele guardou meu sono por toda a noite?! — Aperto o couro macio entre meus dedos, tentando acalmar as batidas do meu coração.

Sentada a varanda, vejo minhas irmãs chegarem. Elas parecem acabadas, e vejo que Camila está com o rosto machucado, e vou com pressa até ela.

— Não seja boba! Isso é o menos que acontece. Se ainda não percebeu, somos prostitutas, e não importa quão grande está minha barriga, ninguém realmente vai aliviar para mim. — Me empurrou, antes de dar três batidas suaves na porta.

Meu pai abriu a porta, e estendeu a mão, e vi minhas irmãs colocar algumas moedas, e por fim entrarem. Ele me olhou, e continuou com a mão estendida, nervosa, enfio minha mão no bolso do casaco, e poderia soltar um suspiro de alívio, ao sentir o metal gelado contra meus dedos.

— Aqui. — Coloco duas moedas, a mesma quantidade que minhas irmãs, e ele dá um sorriso, abrindo espaço para que entre.

Corro para meu antigo quarto, e vejo apenas uma esteira no chão frio. Não existe mais a cama, ou qualquer outra coisa, e fico em choque por isso. Escondo o casaco, e conto exatas oito moedas de cobre, se tiver que dar duas a meu pai todos os dias, terei para cinco dias.

Suspiro, encostando na parede fria. — Por que estou fazendo essa conta absurda?! São minha família, e não deveria precisar pagar para passar a noite com eles.

— Ei! Vamos trabalhar, que a casa não se limpa sozinha. — Minha mãe avisou na porta e meu coração quase salta do peito, em meio ao susto.

— Tudo bem. — Levanto-me, indo atrás dela. — Minhas irmãs não vão dormir?! — vejo as duas com roupas para lavar.

— Se quiserem roupas limpas, não. — disse óbvio. — Quando terminar seus afazeres, pode descansar um pouco.

Vou no automático para a cozinha, e me vejo limpando tudo novamente, porque parece que nenhuma limpeza é suficiente. A dois anos, acho que essa cozinha era do mesmo jeito, mas com dispensa mais cheia, e quando fui morar com o Gregório, sua casa era extremamente limpa, mesmo sendo cuidada apenas por ele.

— Está sorrindo por quê?! — o questionamento, veio da minha irmã, e neguei por não está sorrindo. — Soube que o caçador partiu hoje cedo para a floresta. Ele realmente te deixou. — Me olhou com indiferença, e saiu.

Agora estou onde queria, mas, não me sinto nada realizada. Os dias que se seguiram, dei a meu pai todas as manhãs moedas, e quando entreguei as duas últimas, senti meu estômago apertar de medo pela próxima noite. Me peguei olhando a rua de terra, esperando um vislumbre que seja do Gregório, como se ele fosse voltar e me estender a mão mais uma vez. Quando o dia amanheceu, meu pai já estava na porta do meu quarto, e estendeu a mão para receber o pagamento.

— Não tenho dinheiro. — O sorriso que ele deu foi aterrorizante, e me vi sendo arrastada escada abaixo sem mais.

— Meninas! — minhas irmãs me olharam com pena, e me senti tremer por isso. — Vão até a dona Eleonor, diga que a garota do caçador, hoje vai estar à venda. — Tento me soltar na sua mão, apenas para receber um tapa estalado.

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