Capítulo Vinte

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Ryen Denver

— Queria entender qual a sua fixação e do Aidan por exercícios. — falei enquanto segurava os pés de Julian, que fazia abdominais. Sua pele cor de chocolate brilhava sob o sol quente e o suor escorria por seu corpo, os cabelos que antes estavam livres, agora estavam trançados. Ele riu um tanto ofegante.

— É... bom. — respondeu entre uma subida e outra. — Se você... fizesse... entenderia. — duvidava muito, a única atividade que gostava de fazer que me deixava ofegante e suada é sexo, fora isso, nenhuma me atraia.

— Quem sabe um dia. Ainda estou com dores da aula de boxe que Aidan me deu. — ele não pegou nenhum pouco leve comigo na aula de boxe, meus braços, pernas e barriga ainda doem, só estou reclamando mais porque ontem fomos até a praia e eu depois de quinze anos senti a água do mar novamente.

O nosso dia no litoral de Nova Jersey foi maravilhoso, nós jogamos vôlei, tomamos sol, tomamos sorvete e comemos outras comidas de praia, talvez eu tenha passado um pouco de raiva vendo a atenção que Aidan atraia, o que me tranquilizava era saber que ele é todo meu, e apenas meu. Não era tão possessiva com meus antigos namorados, mas com nenhum deles, eu tinha tanto a sensação de certeza. Nunca acreditei em almas gêmeas e seguia não acreditando, para mim amor é construído todos os dias, foi assim que vi meus pais amarem. Por mais estranho que seja admitir, eles podem ter se sentido atraídos sexualmente na primeira vez que se viram, mas só atração não constrói amor, são os pequenos detalhes que sim.

Me sentia assim com Aidan, por mais que sentisse muita atração por ele, era a forma que ele cuidava de mim que me fez me apaixonar por ele. Aidan acordava todo dia e deixava o café pronto para mim, mesmo sem eu pedir, resmungava da minha bagunça, mas arrumava... e ontem quando me levou para perto do mar, foi a atitude mais bonita que ele podia ter comigo. Amar a praia estava intrínseca em mim, minha mãe passou a vida próxima ao mar e o amor que ela sentia passou para mim, porém depois do afogamento não tinha mais coragem de chegar perto. Sentir a areia entre os dedos, o sol queimando a pele, o cheiro da maresia e o som das ondas quebrando. Mas o mar se tornou território proibido para mim, sentia o puxão em me aproximar, só que o medo era maior. Medo de cair em outra correnteza e dessa vez não ter ninguém para salvar e eu morrer com água salgada me afogando, tomando o lugar do meu sangue e do ar.

E ontem, eu consegui senti-lo de novo. A água morna encostando na minha pele, as cócegas que o sal fazia na pele, as bolhas que o mar produzia quando suas ondas quebravam, foi novo e familiar ao mesmo tempo. A felicidade explodiu no meu peito e não consegui conter as lágrimas, naquele momento eu voltei a ser a pequena Ryen quando foi a primeira vez na praia, uma alegria infantil me contaminou, não consegui ir muito longe, contudo sabia que não deixaria se perder a sensação de felicidade que senti. Voltaria à praia e iria entrar no mar.

— Está distraída. — Julian atraiu minha atenção novamente. — E bronzeada.

— Ontem eu e o Aidan fomos à praia. — explico, vendo sua sobrancelha se erguer. — Não faz essa cara. — empurro de leve seu ombro. Solto os pés de Julian e ele se senta cruzando as pernas.

— É que eu fico feliz de ver você assim.

— Assim como?

— Sorridente, feliz, não parece mais ter uma sombra nos seus olhos. — ele diz, sorrindo para mim. — Antes você não parecia tão leve, quero dizer, você sorria e se divertia, mas algo parecia te prender e agora você está livre.

— Eu me sinto livre. — eu realmente sentia, mesmo com a culpa ressoando bem baixinho no meu interior, não sentia mais as memórias lutando para se libertarem, batendo nas paredes da minha mente, gritando e fazendo barulho, praticamente implorando para sair. Elas estavam quietas, nunca ia poder o passado e não adiantava lutar contra ele, só me restava aceitar e lidar com os sentimentos dentro de mim.

Não Conte a Nossa Verdade - Livro II [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora