Capítulo Trinta

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Ryen Denver

O apartamento se tornou tão sufocante que não conseguia ficar mais dentro dele, as paredes pareciam se fechar à minha volta, diminuindo o ar dentro dele, fazendo a minha respiração ser difícil e dolorida, o ar queimava as vias aéreas a cada puxar dos meus pulmões, ardiam como fogo as lágrimas que ainda escorriam devagar pelo meu rosto, lentas, cansadas de percorrem um caminho imposto desde cedo.

Pego meu celular, vendo as horas, quase nove horas, uma hora e meia que tudo aconteceu, noventa minutos, noventa minutos entre a felicidade que eu sentia para a dor que parece me consumir de dentro para fora. Noventa minutos entre a chegada de Elizabeth e meu estado atual, quanto tempo ela ficou dentro do apartamento? Nem um minuto. Ela nem entrou, ficou parada na porta assistindo incrédula a cena que se desenrolava em sua frente. Mas aqueles poucos instantes duraram horas, cada pequeno instante valeram horas, horas e mais horas.

A barra de notificação atualiza com uma mensagem de Julian, ele pergunta porque Taylor nervosa e ansiosa pediu para ele e Flora virem até o apartamento me ajudar. Olho para a mensagem sem ter forças para responder o porquê de Taylor ir atrás dele dessa forma. Com o aparelho ainda em mãos me esforço para responder meu amigo, os dedos deslizam fracos pela tela, quase sem encostar, a resposta é digitada da mesma forma que me sinto agora, dolorida e sem raciocínio.

Ryen:

A mãe de Aidan esteve aqui e viu nós dois juntos...

Ainda não processei direito o que aconteceu, foi muito rápido.

Julian:

Eu não sei o que te dizer, Ryen. Sinto muito.

Julian me responde com sinceridade e isso me conforta, porque ele poderia dizer inúmeras palavras a fim de me confortar e dizer que tudo vai ficar bem, mas a verdade é que nem eu e nem ele temos certeza se tudo vai ficar bem. Em algum momento, eu sei que vou precisar encarar a realidade do que houve aqui e seguir em frente, independente de Aidan, independente do que eu sinta, porque se ele não quiser ficar comigo... se ele não quiser, por mais doloroso que seja pensar nessa possibilidade, eu vou precisar aceitar.

Queria ter mais confiança em nós dois, porém a forma que ele deixou o apartamento sem nem ao menos se preocupar com si mesmo... Não me passa nenhuma segurança.

Uma parte de mim diz que devo ter mais confiança em nós dois, já que passamos por situações tão difíceis quanto, passamos pelo ódio inicial quando cheguei aqui desesperada por conseguir qualquer tipo de afeto e no lugar recebi uma recepção odiosa, seus olhares cheios de julgamento e frieza, nós superamos isso, devagar, mas superamos. Superamos a crise e a verdade que lancei sobre ele, sobre a noite do acidente como bebi demais e mal conseguia voltar para casa e que, em meio ao medo de voltar com o amigo de Brian, mandei mensagem para meu pai pedindo para me buscar, mas ele nunca chegou porque naquela maldita ponte tinha um caminhoneiro que perdeu o controle do volante. Ele ouviu as minhas desculpas desesperadas, ele me segurou quando me perdi no meio das lembrança e da minha cabeça fudida pela culpa.

Superamos a minha volta, quando pensei que ele nunca mais olharia para mim do mesmo jeito, que visse no lugar da garota que chegou aqui quebrada e se reconstruindo, uma assassina que levou o pai dele. Uma garota burra que bebeu demais numa festa e não tinha como voltar para casa. Eu continuava tentando superar, porque uma parte de mim se sentia continuamente culpada por ter bebido numa festa com meus amigos e então namorado, continuava tentando superar as consequências de uma mensagem...

Entretanto, diferente de mim, Aidan aceitou, ele me perdoou e, dentro de minha ignorância, eu imaginava que não teríamos mais problemas, eu pensei que agora teríamos a chance de vivermos em paz, pois já tínhamos passado por tanta coisa, os nossos caminhos se uniram de uma forma trágica e uma grande parte de mim desejava, ansiava, que o seu fim fosse completamente diferente do seu início. E por um tempo, ele parecia que seria diferente, contudo, ouvindo com sinceridade a verdade que ressoava dentro do meu coração, eu e ele nos enganamos a maior parte do tempo.

Não Conte a Nossa Verdade - Livro II [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora