Capítulo Dez

2.7K 258 61
                                    

Ryen Denver

A felicidade não cabia em mim. Parecia que finalmente podia respirar depois de tantos dias embaixo d'água.

O capacete impedia o vento de atingir o meu rosto, mas a sensação de liberdade ainda é presente. Aquele sentimento de indecisão e dúvida tinha se extinguido quase por completo, sabia que mais tarde precisávamos conversar sobre tudo que havia acontecido, porém não seria hoje. Hoje não seria o dia, hoje nós iríamos ficar juntos sem conflitos, apenas nós dois aproveitando a presença um do outro, igual a antes.

Deixamos o prédio juntos, ele indo com Elizabeth encontrar o corretor de imóveis e eu indo encontrar com tio Joseph na universidade para resolver a questão das provas e trabalhos finais, apesar de toda a felicidade que estava sentindo, sentia a preocupação em relação à isso, pois não queria me atrasar no curso, ter que repetir um período seria péssimo.

Andar de moto em Princeton é um tanto nostálgico, me faz lembrar da primeira vez que vim até aqui, de descer e ter todos os olhares voltados para mim e os sussurros sobre mim escorregando como cobras por toda a minha pele, maldosos e cheios de veneno. Mas naquele primeiro dia, também encontrei Flora e Julian quando sentei na árvore deles.

Estaciono a moto e tiro o capacete, procurando por Tio Joseph, ele iria me acompanhar na conversa com o reitor, ele tinha vindo cheio de laudos médicos e comprovantes de doações feitas a instituição, segundo ele, poderia convencer a reitoria a ser mais brando comigo, já que o meu pai tinha sido um benfeitor da universidade. Não tinha o costume de usufruir da influência de Adam para conseguir o que queria, na maioria dos dias, eu nem lembrava que ele era rico, minha vida e da minha mãe sempre foi simples, porém confortável, não precisávamos de muito luxo. Nós tínhamos uma casa legal e confortável, fazíamos viagens simples, ela tinha sua floricultura, nós vivíamos bem. Claro que eu estudava em uma universidade da Ivy League sem precisar de bolsa e de empréstimos estudantis e não teria dez anos de dívida por causa dos meus estudos, tinha uma moto cara que ganhei quando passei na Columbia, porém fora isso, eu e Theresa estávamos vivendo de forma normal.

Quando vim para Nova Jersey foi mais fácil ver o dinheiro do meu pai, o carro do Aidan, o apartamento onde ele vivia... Tudo respirava dinheiro, apesar de que Aidan não ligava muito para luxo, ele era tão simples quanto eu. O único dia que realmente me deparei com toda a fortuna de Adam foi quando o testamento foi lido e ouvi todo o montante de dinheiro e ações que tinha direito, não fazia ideia de como deveria administrar tudo aquilo, por fim, deixei na mão do administrador de papai, até então ele estava lidando bem com o dinheiro.

E bem, não precisava citar Elizabeth, que parecia exalar dinheiro seja nas roupas quanto na postura. A calça, a camisa, os sapatos, os óculos, puta merda aquela bolsa deveria custar uns vinte mil dólares!

No fundo, eu não queria precisar praticamente ameaçar o reitor, não que tio Joseph tenha dito ameaça, mas estava subentendido. Preferia pensar que as minhas notas seriam o suficiente para resolver a minha situação na universidade, entretanto sabia que o dinheiro seria um peso valioso a meu favor.

— Ryen? — escuto uma voz distante me chamando. Virei em direção da voz encontrando meu Tio Joseph ao lado da sua BMW prateada, o terno perto de risca bem cortado com uma gravata azul escura e a pasta de couro na mão, muito parecida com a Oliver, a barba ruiva com alguns fios brancos assim como o cabelo ruivo cheio com pequenas mechas brancas. Ele parecia estranhamente uma raposa, astuta e serena.

— Tio Joseph! — ele me alcançou e logo me abraçou. Seus braços me apertaram, pude ouvir sua maleta no chão.

— Olha só você, parece tão mais leve! — ele me afastou, apertando as minhas bochechas. — Oliver falou que tinha cortado o cabelo, mas não pude acreditar. — apertou mais uma vez minhas bochechas antes de me soltar. — Ficou bonito, diferente, gostei.

Não Conte a Nossa Verdade - Livro II [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora