Primeiro Beijo

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Quando éramos crianças e ainda frequentávamos o primário eu me apaixonei pela primeira vez.

Me lembro como se fosse ontem, eu estava sentada no meu lugar de costume, já estávamos quase no meio do ano letivo quando ela se transferiu para a nossa escola. Claro que àquela altura do campeonato elas não conseguiriam se enturmar sem ajuda, mas para a felicidade daquelas duas eu existo nesse mundo.

Ei e Makoto eram lindas garotas com peles tão brancas quanto a neve e longos cabelos lisos e escuros. Tão imaculadas que pareciam bonecas Hina*. Eu mal podia esperar pela temporada do fim de ano para vê-las em seus kimonos pomposos e fotografá-las um milhão de vezes. Elas se sentaram próximas de onde eu me sentava, Ei ocupou o lugar ao meu lado e Makoto o lugar imediatamente à frente dela. Pensando bem, eu não acho que elas realmente precisavam de mim. Elas teriam se virado bem dependendo apenas uma da outra, mas eu precisava estar perto delas, pois havia algum magnetismo que eu em minha pequena e delicada mente de menina seria incapaz de compreender por alguns anos.

Quando Ei derrubou sua borracha e ela rolou até perto dos meus pezinhos, eu não hesitei em abaixar para pegar para ela. Nossas mãos se encontraram e nossos olhares também, pela primeira vez, eu me senti nervosa e meu rosto se esquentou sem que eu entendesse. Ela sorriu quando eu lhe entreguei o pequeno objeto cor de rosa.

-Aqui e-está.

-Obrigada.

Foram as primeiras palavras desajeitadas que trocamos. Sentindo o toque delicado de suas brancas mãozinhas de boneca, eu tinha a plena certeza de que ela precisava ser minha amiga. E foi assim, decidida, que no final da primeira aula, quando o sinal tocou anunciando o intervalo, eu rapidamente me aproximei das duas com meu melhor sorriso e as melhores intenções que poderia guardar em meu pequeno coraçãozinho de raposa.

-Sejam bem-vindas à escola Hanamizaka, Ei-chan, Makoto-chan. Eu me chamo Miko, Yae Miko, mas vocês podem me chamar de Miko-chan, já que vamos ser amigas. -As presenteei com meu melhor sorriso cheio das minhas pérolas brancas que chamava de dentes de leite. Pensando agora, eu devia ser completamente adorável também àquela altura.

Ei não me respondeu imediatamente, apenas afirmou com a cabeça, e Makoto me sorriu em retorno tomando a dianteira das relações interpessoais das duas.

-Obrigada, Miko-chan. Se importaria de nos mostrar a escola? Estudávamos em casa antes e por isso estamos um pouco perdidas. Espero que possamos ser boas amigas. -Ela coçou a nuca um pouco desajeitadamente e desviou o olhar envergonhado.

-C-Claro! -Respondi eufórica. -Como primeira amiga e representante de classe, tudo que vocês precisarem podem falar comigo!

Eu mostrei a escola a elas e nós conversamos sobre muitas coisas naquele dia... Quero dizer, eu e Makoto conversamos. Ei apenas nos acompanhava em silêncio observando tudo atentamente. Ela era bem mais quieta do que a irmã, mas não se afastou de nós em momento algum. Na verdade, isso continuou dessa forma por algum tempo.

Ei era uma criança introspectiva e demorava bastante a se soltar com os outros, enquanto Makoto era mais responsável e carismática. Elas também tinham um irmão mais novo problemático, mas não vamos falar muito dele, até porque essa é a minha história de amor e não a história de como eu empurrei aquela peste na piscina acidentalmente umas 50 vezes para fazê-lo calar a boca.

Eu persisti com o objetivo de me tornar amiga delas até que ele se concretizasse, então quando nós chegamos ao ensino médio até mesmo escolhemos juntas para qual escola iríamos, dessa forma não precisaríamos nos separar.

A adolescência foi um pouco mais confusa do que a infância e muito mais desconfortável, pois foi quando meus sentimentos começaram a se tornar mais óbvios e eu me encontrei na situação de ter que aceitar que mesmo que meu sentimento por Makoto-chan fosse absolutamente fraterno e amigável, as coisas eram diferentes com Ei. Eu não queria apenas me contentar em andar com ela no recreio, e quando fazíamos festas do pijama eu queria estar junto com ela dentro do cobertor dela aninhada no calorzinho de seu corpo, e isso não era nem um pouco fraterno da minha parte.

Boneca Hina (EiMiko)Onde histórias criam vida. Descubra agora