25. Trovões

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OHANO

– Estás mesmo decidida a ficar? – pergunto pra Laura enquanto arrumo minhas roupas na mala.

– Sim – diz ela encostada na pequena varanda do quarto – E tu estás mesmo decidido a partir?

– Sim – respondo simples.

– Então vamos nos separar de novo? – pergunta ela mais triste do que eu esperava.

– Depende somente de ti – confesso mesmo sabendo que vamos discutir por isso.

– Depende de ti também Ohano, porquê não ficas? – pergunta ela num tom mais alto mas eu não quero discutir.

– Eu preciso encarar a realidade e dizer tudo o que tenho por dentro... Pra elas – explico e ela me olha surpresa.

– Mas tu só vais brigar e arranjar mais problemas... Eu sei que tu tens que ir, mas talvez não para ficar – diz ela mas eu não concordo.

– Laura, eu não posso ficar... Desculpa – digo simples e ela me olha mais decepcionada ainda.

– E ele? – pergunta ela com olhos brilhantes como um cristal.

– Ela?! – corrijo e continuo – Cuidarás bem dela até que eu resolva tudo e depois eu volto para cuidar de vocês.

– Ohano... – diz ela num tom inseguro e eu entendo completamente o medo e a insegurança presentes na voz.

– Laura... É que eu não posso deixar a minha mãe sozinha neste momento onde tudo está virado de cabeça pra baixo – digo e ela me olha de uma forma diferente como se finalmente começasse a entender.

– A Vitória? – pergunta ela mesmo sabendo a resposta.

Confirmo com a cabeça.

– Eu vim sem falar com ninguém e até tu dizeres pra Alícia que eu estava aqui, ninguém sabia do meu paradeiro – explico-lhe calmamente – Tu sabes como a minha mãe é e o pior é que a situação na Stant também está muito mal, então eu tenho medo de como ela possa ficar sem mim.

– Eu entendo – diz ela sorrindo mas eu vejo que ainda está escondendo algo – Eu vou ficar bem até tu voltares... Se voltares.

– Se eu voltar, Laura?! Independente de quando, tu sabes que eu vou voltar... – digo mirando a sua barriguinha – Mas isso não anula o fato de poderes vir comigo. Se o problema é os teus pais, tu podes vir morar comigo.

– Não é isso – diz ela rapidamente.

– O que é, então? – pergunto de volta e ela começa a chorar, o que realmente me entristece o coração.

– É que... – ela tenta dizer mas eu sei o quão é dificil confessar algo do coração – Eu tenho medo. Tu sabes como as pessoas da nossa cidade são e o que certamente dirão quando souberem da minha gravidez... Eles vão me julgar e dizer coisas más para nós e eu sinceramente não quero que ele ouça nada disso.

Agora eu entendo o medo dela.

Só acho estranho ver a Laura com medo de algo que não seja trovões.

Ohaura IIOnde histórias criam vida. Descubra agora