Ohaura II

16. Namorar Escondido

OHANO

Acordo cedo demais para um domingo.

Mas aquele não era um domingo qualquer, era o domingo em que eu jogaria a final do campeonato de xadrez que eu comecei há alguns meses atrás.

Depois de tantos atrasos, este dia finalmente chegou e com ele trouxe uma ansiedade que eu nunca tinha sentido antes.

O dia estava lindo e depois de tudo o que aconteceu na casa da Mila há alguns dias atrás, eu sinto que eu tenho realmente que ganhar este jogo.

Talvez com o tempo eu fui dando pouco importância aos meus treinos e ao meu foco mas este é algo realmente importante para mim e fora toda a pressão vinda da Mila, também há uma pressão de não querer desapontar as pessoas que mais amo.

Apanho as minhas roupas de corrida e saio de casa num treino extremamente desgastante e bom.

Quando volto eu encontro a minha mãe na cozinha com o cheiro mais delicioso que há no mundo.

– Bom dia, mãe – digo medindo o humor dela que tem estado a mudar muito ultimamente.

– Bom dia, querido – diz ela e eu percebo que está tudo bem felizmente.

– Eu andei pensando... – começo lentamente e ela levanta as sobrancelhas sorrindo para mim.

– O que? – pergunta ela quebrando o suspense.

– Andei pensando e eu reparei no quanto a minha vida mudou nestes ultimos meses – confesso e ela sorri para mim como quem diz "Não me digas! Eu nem tinha reparado".

– Mas isso é bom... Quer dizer que estás a passar pelas fases da vida – diz ela fatiando um bolo de laranja.

– Sim mas quero dizer, parece que tudo na minha volta mudou também – explico melhor – Antes eu nem afastava 50 metros de casa e agora eu estou em todos os cantos da cidade.

O riso que se seguiu a esse comentário foi o hilário e eu não pude deixar de gargalhar também.

– Isso é um facto – diz ela ainda sorrindo.

– A tua vida também mudou, não é? – pergunto e ela cora todinha.

– Este bolo parece estar delicioso - diz ela mudando de assunto e agora é a minha vez de gargalhar (doce vingança)

– Como não estaria se foi feita pela melhor mãe do mundo? – pergunto e ela me abraça mesmo vendo que estou todo suado.

– E tu és o melhor filho do mundo... Principalmente quando tomas banho - diz ela ainda sorrindo.

Faço cara de ofendido antes de subir as escadas a correr para tomar um banho frio.

*****

Depois do banho fiquei no quarto ensaiando algumas jogadas pela milésima vez (mesmo com muita vontade de ir comer o bolo). Mas achei que o sacrifício era válido visto que logo eu estaria jogando com o melhor jogador de algum lugar por aí que eu não tive a decência de pesquisar.

– Aqui não é nenhum restaurante – digo no mesmo momento que desço a escada.

No princípio o barulho do carro chegando logo cede pareceu estranho mas imediatamente eu entendi quem era.