35. Amor

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LAURA

Eu sempre fui muito certa em minhas convicções, mesmo quando elas não eram as melhores. Eu tinha certeza de tudo e isso bastava. Eu não duvidava de mim ou das minhas capacidades. Não questionava o que iria ou não conseguir...eu apenas fazia.

É por isso que eu nunca acreditei em perdão. Não pela mágoa, que muito já guardei, mas pela certeza de que de nada vale o perdão, ou o ser perdoado se não houver arrependimento. É tão lógico que chega a ser caótico quando um olhar te deixa confuso em relação a isso.

E ta tudo bem duvidar e ter medo...isso não nós define apenas nos deixa alerta, até porque acreditar cegamente é burrice. E eu não vou minimizar o quão idiota venho sendo por acreditar tão fielmente que o "Ohaura" vai dar certo...mas eu preciso disso.

O ser humano precisa se enganar inumeras vezes apenas para degustar do pouco da felicidade que a vida propõe, porque caso contrário veremos a vida como ela realmente é: um filme de terror que conta a história de um circo assombrado onde o palhaço e o vilão nada mais é do que nós mesmos. E acredite essa visão é aterrorizante.

E é pensando nisso que minha mente sente vontade e necessidade de acreditar no semblante arrependido e cabisbaixo da pessoa sentada na cadeira da minha secretária mirando calmamente meu rosto procurando palavras.

Eu preciso me enganar, ainda que seus olhos me implorem pela verdade nua e crua.

Eu preciso me enganar e acreditar.

– Podes falar...eu estou ouvindo! – pontuo encarando o rosto que já foi motivo de pesadelos.

– Eu sei que vai parecer hipócrita eu estar aqui... – ela respira como se o ar no quarto fosse pouco –...e te pedir para me perdoar mas eu estou aqui.

– Na verdade é realmente hipócrita, mas eu ainda quero ouvir. – digo sem rodeios - Eu preciso entender como é que tivemos que ir tão longe ao ponto de estarmos aqui!

– Quando eu sai daqui naquele dia, eu jurei que tinha feito a coisa mais certa de toda a minha mediocre existência...–seu semblante agoniado me pedia para desaparecer mas eu quis ficar e ouvir tudo –...eu havia protegido o meu filho. Caralho, eu não tive a chance de ser mãe mas eu havia protegido o meu filho. Sabes o quão bem eu me senti com isso?

–Não sei, porque tudo o que fizeste foi egoísta demais para se pensar assim...– sou sincera enquanto me afastava de aeu olhar que pareceia querer ferir-me até a alma e vejo ela assentir suspirando

–Quando eu saí daqui e entrei no meu carro eu fiquei olhando a rua e jurando para mim mesma que o que eu fiz era o certo... –riu-se cansada –...eu vi os teus irmãos chegarem, e ouvi os gritos mudos de cada um deles enquanto Thomas saia contigo, suja de sangue correndo em busca de um socorro mínimo. Eu vi o Gustavo segurar Alícia que se debatia de medo e então eu vi o olha de Luccas...ele não me via, nenhum deles. Mas eu vi a dor estampada em cada um deles e então eu vacilei...

–Quanto tempo tu ficaste aqui? - pergunto sentindo todo meu corpo vacilar e ela riu pelo nariz enquanto secava as lágrimas

O sol lá fora parecia tão cansado quanto nos as duas e anciava veementemente por um descanso sutil e por um perdão por seu esplendor. O céu pintado de varias cores exalava certezas e cá dentro as dúvidas dançavam e faziam músicas

–Eu fiquei aqui até Thomas voltar...– ela constata com um sorriso triste

–Até o dia seguinte...– me lembro do que meus irmãos contaram e encaro novamente o sol...

–Eu me arrependi Laura, e me culpei. Eu mal soube o que tinha acontecido e eu me culpei, e quando eu soube me lembrei dela, e senti a tua dor...– soluço. – ...a dor que carrego a 18 anos veio como um furacão matando cada parte de mim...eu deixei o meu filho, perdi a minha filha...e eu quase matei o meu neto.

Ohaura IIOnde histórias criam vida. Descubra agora