Capítulo 13 -

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Não sei ao certo há quanto tempo estou aqui, pra começo de conversa fiquei desacordada uns
três dias, apenas delirava nós poucos momentos em que acordava.
No início até tentei contar, mas logo parei de querer saber que dia do mês, da semana ou
tentar adivinhar as horas, contudo já deveria estar com Vitor quase uns três meses.
Preciso ir a busca da minha irmã, é o que mais me inquieta. Se não fosse por ela viveria
encantada por aqui mesmo.
— Vitor.
— Oui? — respondeu-me em francês, charmoso como sempre.
Nossa, tudo que ele faz soa bem, que situação, acho que me apaixonei, não é possível.
— Pode falar, senhorita marmelada.
Ele me faz rir.
— Quantos idiomas fala? Você é poliglota por acaso?
— Bom, assim... Falar, entender e escrever, fluente?
Sacudi a cabeça dizendo que sim. Ele começou a contar nos dedos.
— Fluente assim, só o português mesmo, mas de intrometido até no bororó eu me arrisco num
bom dia. — disse ele divertido e eu gargalhei junto.
— Engraçadinho!
— Mas o que você ia dizer quando chegou?
— Que preciso ir à busca da minha irmã, o que me aconselha? Como me preparar pra ir?
— Não vou te deixar ir só. É perigoso.
— Já fez muito por mim, não precisa me acompanhar.
— E se uma cobrinha ou qualquer outro animal selvagem cruzar seu caminho? Não vou te
ouvir gritar — bromeou ele. —Sabe em que direção ela deve ter ido?
— Norte!
— Certo! Faltava quanto tempo de voo pra você e a quantos quilômetros por hora você
estava?
— Estava a 80 km/hora, faltava aproximadamente cerca de uma hora e meia a duas horas.
— É, está longe! Teremos então aí uns dois dias de caminhada, fazendo poucas paradas.
— Eu já fiz o caminho de Santiago de Compostela, mais de 100 quilômetros.
— Ok, mas não era numa floresta, havia uma boa estrutura, não seja teimosa!
— Só não quero dar trabalho.
— Imagina e outra, não ficarei tranquilo sem saber se você chegou bem, não tem como me
ligar para avisar, não é mesmo?
— Certo! — dessa vez fui eu a dizer essa palavra sempre usada por ele.
— Me fale mais sobre esse lugar, quem são essas pessoas? — quis saber ele.
— Um dia fiquei presa num elevador e entrei em pânico, sou claustrofóbica, esse é meu
ponto fraco. Havia uma mulher comigo nesse momento e ela foi maravilhosa no intento de me
acalmar.
— E?
— Quando saímos do elevador, ela me disse onde poderia encontrá-la caso quisesse
conversar. Após algumas semanas senti vontade de voltar a falar com ela, pois ela havia
conseguido algo que em anos de terapia não tinha tido muito progresso.
Ela curiosamente me falava de como as coisas poderiam ser futuramente e isso assemelhavase
ao que estava descobrindo no trabalho, por isso foi a primeira pessoa com a qual eu falei
sobre a IA.
Parei um instante para apreciar nossa bela vista. Estávamos sentados na parte de fora da
cabana, com os pés pendurados.
Esse lugar me trazia paz, me encantava verdadeiramente.
Ele me olhou aguardando que eu voltasse a falar.

— Isso tem um ano, mesmo tempo em que comecei a descobrir os planos da smart plan, meu
trabalho é fornecer informações para a inteligência de Estado, porém meu superior imediato, o
Freddy presta toda informação obtida a smart, onde o dono majoritário é seu irmão Antoni, o
que é inconcebível e para piorar a um mês começaram a fazer esses testes de controle da
mente, Paulo, Henrique e eu descobrimos que estavam fazendo isso com moradores de rua,
ficamos revoltados.
— Não sei como aconteceu para injetarem a substância neles, os percebi diferente da noite
pro dia.
— E como foi com você?
— Me voluntariei, acreditava piamente que em mim não faria efeito e de fato não fez, apenas
tive uma terrível dor de cabeça.
— Há alguém em que possa confiar para fazer isso parar?
— Não confio em ninguém! Nunca revelei tanto sobre meu trabalho, como tenho feito com
você.
— Obrigado pela confiança!
— Bom, mas voltando a comunidade. Não poderia falar nada com ninguém sobre meu
trabalho, nem mesmo comentava nada com minha irmã, porém falei com a Nádia, a mulher
do elevador, ela nunca duvidou de mim, eles já viviam desapegados de quase tudo que uma
cidade pode oferecer. Começamos aí um plano de sobrevivência para quando chegasse o
momento.
— De que forma? Isso tudo me parece algo tão surreal, distante.
— Existe um submundo que poucos têm acesso, é uma deep Web da vida.
— E como seria essa sobrevivência? Abandonar as cidades? Se isolar no campo?
— De início sim, plantando, colhendo, pescando, sem tecnologias, entre outras coisas.
— Mas podemos decidir se deixamos ou não que apliquem em nós qualquer substância, não?
De que forma poderiam obrigar o mundo a concordar com algo assim?
— Isso é um dos gargalos para eles e tão pouco eu sei te responder nesse momento, mas
confesso ter medo de um regime totalitário.
Ele respirou profundamente, com os olhos fitos em um lugar qualquer e semblante sério.
— E se isso não vier a ocorrer?
Se o plano deles não for adiante?
— Ficarei imensamente feliz pela população, porém a comunidade já vivia buscando uma
emancipação urbana e eu pago a conta por saber demais.
Na verdade quem paga é Marcy, que precisou aderir a isso pelo simples fato de sermos irmãs.
— Não se sinta culpada!
— É inevitável sentir culpa. — dessa vez sou eu a olhar um lugar qualquer, havia tirado um
peso das minhas costas, era bom poder desabafar.

A ForagidaOnde histórias criam vida. Descubra agora