Capítulo 17 - Uma chance.

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Quando voltei pro acampamento com Vitor, Olívia e Thiago ainda estavam lá para minha
surpresa. Achei que já teriam partido com o ímpeto de me entregar.
— Achei que já estivessem longe! — fui sincera, nossa como foi horrível ouvi-lo me
chamando de psicopata, contudo doeu menos que ouvir Vitor dizer que não estava apaixonado
por mim, mas ainda assim havia me dado aquele beijo que me fez sair da órbita terrestre,
agora estou ainda mais confusa.
— Resolvi dar a chance que Vitor pediu, chance de ouvir a sua versão.
— Ok, mas quero que saiba que essa chance não me é nenhum favor, porque não fiz nada de
errado, tenho minha consciência tranquila ainda que tudo indique o contrário, sou inocente.
— Quero ouvir o que tem a dizer.
— Quero deixar claro, que tão pouco confio em você nesse momento, sei que deve haver uma
boa soma em dinheiro sendo oferecido para quem me entregar e só pra constar, estou por
tudo, faço o que for preciso para defender quem eu amo.
— Você está me ameaçando?
— Não ameaço, apenas comunico.
E eu preciso de um banho primeiro e depois vamos conversar. — antes que ele pudesse dizer
mais alguma coisa eu me virei em direção a cabana. Olívia e Vitor apenas nos olhavam em
silêncio, pude ver que este sorria com lábios apertados.
— Ela me ameaçou e eu ainda vou com a cara dela, dá pra entender?
— Seguramente porque você diria e faria a mesma coisa caso estivesse no lugar dela.
Ouvi-os dizerem, ainda que estivessem distantes.
A tarde caía, tomei meu banho, vesti uma calça jeans surrada, minha blusa de moletom por
cima da camiseta, pois na floresta o cair da tarde sempre tornava o ar mais fresquinho e
úmido.
Eles três estavam sentados em volta da fogueira, cada um com uns pequenos peixes
enfileirados em galhos finos, assavam o que parecia ser lambaris.
Ao me aproximar vi que havia uma porção deles em outro galho que seguramente era pra
mim.
— Estes são meus? — ainda assim resolvi perguntar, Vitor disse que sim e me convidou a
sentar.
Sabia que os outros estavam ansiosos para me ouvir, então comecei.
A medida que ia falando o semblante deles iam se tornando mais sérios, mais inquisitivos,
não pareciam duvidar de mim, notava certa perplexidade.
Um momento ou outro Thiago perguntava algo, Vitor me ajudava a falar com o que já havia
falado pra ele e às vezes ia passando batido por mim. Olívia me olhava fixamente e
balançava a cabeça positivamente em concordância com o que lhes contava.
Ao final, minha narrativa foi mais fácil do que eu imaginava, o que me deixava aliviada. Era
desgastante falar sobre isso e seria pior ter que ficar me esforçando por tentar convencer de
que falava a verdade.
— Não havia outros colegas de trabalho em quem pudesse confiar? —Thiago perguntou por
fim.
— Como disse, minha proximidade maior era com Paulo e Henrique, eu não sei se alguém
mais desconfiava, não sei em quem mais poderia acreditar e depois foi tudo tão rápido, não
imaginava que aquele seria meu último plantão.
— Eu acredito em você, Jordana. Meu sobrinho é um nerd super entendido sobre IA e já
havia me contado certas coisas, só não imaginava que estava tão avançado assim, pensava que
seria coisas para muitos anos a frente.
— O que é IA? —Thiago virou-se para a namorada perguntando.
— Inteligência Artificial. — respondemos ao mesmo tempo.
— Não entendo nada sobre essas coisas — completou ele.
— Pois é, creio que a maioria da população. — ponderei.
— Estão dizendo coisas horríveis sobre você nos jornais.
— Posso imaginar, Thiago. — Então a Thalita morreu mesmo?
— Sim e atribuem a morte a você.
— Canalhas! — Me levantei enfurecida nessa hora. — Conheço a família dela, devem estar
me odiando, se perguntando o porquê teria feito algo assim. Thalita era muito querida,
sempre nos levava algo preparado pela mãe. Ela ficou sem carro há uns dois meses atrás e a
levei em casa algumas vezes, a mãe dela me fazia entrar e tomar um café da manhã reforçado
pós-plantão.
Lágrimas brotavam em meus olhos, engoli em seco, não costumava chorar, mas aquela
lembrança doeu absurdamente dentro de mim.
— Achei a coisa mais linda aquele cuidado de mãe, senti saudades de viver algo que nunca
tive. A mãe dela deve estar destroçada e acha que fui eu quem matou a filha dela.
Vitor levantou e me abraçou e assim não fiz mais esforço para me conter e chorei livremente,
chorei de soluçar como nunca havia feito. Chorei por Thalita, chorei por Paulo e Henrique,
por Marcy, enfim chorei por mim, pela vida que nunca mais voltaria a ter. Meus olhos
ficaram inchados e sentia que a ansiedade tomava conta de mim, meu coração palpitava como
se fosse sair pela boca e Vitor tentava me acalmar. Ouvia cada vez mais distante a voz deles e
apesar de ter consciência de tudo, não conseguia falar, Olívia me olhava tendo aquela crise e
chorava. Vitor tirou meu agasalho, pois eu suava e me carregou até a cabana, sentou-se no
chão da sacada e me sentou eu seu colo, fiquei sentada de lado com a cabeça apoiada em seu
peito, ouvindo que ele me dizia para respirar devagar e assim foi passando a crise, logo Olívia
me trouxe água e isso me ajudou todavia mais a me acalmar.
Não queria conversar após isso, não é motivo para me envergonhar, mas é inevitável, não
queria ter tido isso na frente do Vitor, ele mais uma vez me ajudava de alguma forma. Não
fosse a situação em que me encontrava de verdade eu faria como as moças modernas e pediria
ele em namoro caso ele não me pedisse antes, mas de fato iria querer ouvir a resposta para me
certificar que sim, que ele era meu namorado, isso me fez lembrar de Olívia dizendo sobre seu
relacionamento com Thiago, que achava que eram namorados apesar dele nunca haver
perguntando.
Isso me fez abrir um breve sorriso, ele sorriu de volta.
— Já está melhor graças a Deus. Quer se deitar um pouco?
—Sim, por favor!
Ele me deu um beijo na testa e levantamos, ele me ajudou a deitar e disse que se precisasse
era só chamar.
Estava me sentindo muito cansada fisicamente e esgotada psicologicamente, assim que logo
adormeci.

A ForagidaOnde histórias criam vida. Descubra agora