CAPÍTULO SETE| a conselheira

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"Neste mundo, há apenas duas tragédias: uma a de não satisfazermos os nossos desejos, e a outra a de os satisfazermos

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"Neste mundo, há apenas duas tragédias: uma a de não satisfazermos os nossos desejos, e a outra a de os satisfazermos." - Oscar Wilde

Violet parecia um vulto florido rodopiando ao redor de Lucienne que, em poucos dias de convivência, aprendera a gostar da garota

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Violet parecia um vulto florido rodopiando ao redor de Lucienne que, em poucos dias de convivência, aprendera a gostar da garota. O fato era que Violet trazia um tipo diferente de vida ao Sonhar, Morpheus parecia apreciar mais sua existência e todas as coisas deste mundo, ele ficava leve. E isso a tranquilizava.

Era mais um dia atarefado no Reino dos Sonhos e seu mestre ficaria distante pela maior parte do tempo, pelo menos era o que Lucienne pensava até ver a cabeleira escura despontando entre as portas de entrada da biblioteca. Morpheus se aproximou rapidamente, curvando-se com ela sobre os livros abertos na mesa, fingindo despreocupação. Lucienne não era tola, entretanto, e notava cada olhadela que ele roubava na direção da garota.

- Mestre... - ela começa, uma risada nervosa escapando - Pensei que ficaria o dia todo fora hoje.

- Terminei mais cedo do que pensei - ele retruca rapidamente, há um minúsculo sorriso divertido nos lábios dele. Isso atordoa Lucienne. - Pensei que pudesse ajudá-la hoje, parece estar cheia de coisas para fazer.

Lucienne fecha os olhos e suspira, contendo-se para não ajeitar os aros grossos do óculos sobre o nariz. Sabia muito bem porquê ele estava ali e provavelmente negligenciara de forma totalmente irresponsável os seus deveres diários. Ela concorda e força um sorriso, uma ideia um pouco perversa rodeia sua mente.

- Sabe, Milorde, talvez haja algo que possa fazer por mim...

Ele sequer olhava para ela, sua atenção total estava focada em Violet que ignorava sua presença pelo bem da sanidade de Lucienne.

A bibliotecária não sentiu remorso algum em enviar Morpheus para os arquivos inferiores, um lugar escuro e empoeirado, onde apenas as traças de livros viviam. Violet se divertiu ao vê-lo emburrado batendo os pés escada abaixo.

- Por que ele ficou tão chateado? - Violet questionou, surgindo por cima do ombro de Lucienne feito uma aparição.

- Porque quer ficar perto de você, querida.

Os olhos de Violet se arregalaram e ela desabou sobre a única cadeira disponível ao longo da mesa. O comentário de Lucienne a atordoara ao mesmo passo que seu rosto ruborizou pelas lembranças do modo que Morpheus havia tocado seu corpo naquela noite no lago. A forma como seus dedos passearam pela pele dela e apertaram a carne. O desejo...

- Violet?

Com um salto, a garota volta para a realidade e força um sorriso despreocupado. Lucienne a encara como quem sabe cada pensamento que passa pela cabeça dela e seu rosto quase explode de vergonha.

- Violet, querida - ela se aproxima e toma as mãos da garota entre as suas -, você sabe, não sabe?

Violet balança a cabeça, confusa. Lucienne suspira, pela enésima vez.

- O que?

- Ele gosta de você, Violet.

- Não gosta, não.

A garota se levanta e dá as costas para Lucienne, enfia o rosto entre as mãos por um segundo e tenta fingir que está fazendo algo muito importante na estante a sua frente. Lucienne a segue.

- Sim, ele gosta. E você deveria parar de mentir para si mesma. Todos podem ver, até Mervyn nota a diferença quando você está por perto.

- Ele não pode gostar de mim! - A voz estridente de Violet ecoa e ela se arrepende imediatamente, cobrindo a boca com a mão. - Não pode, Lu. Eu estou morta e ele é um tipo de deus imortal. Ele não pode.

Lágrimas ameaçam surgir e antes que elas possam escapar, Lucienne abraça Violet. É reconfortante como o abraço de uma avó, e ela relaxa imediatamente contra o peito da bibliotecária.

- Nem deus, nem imortal, querida. Ainda assim, ele é tão homem quanto você é mulher, há um coração em baixo daquele peito, e há sentimentos que por mais cabeça dura que ele seja, existem.

- Não é justo, Lucienne. Não posso fazer isso com ele.

- Não - os dedos da bibliotecária acariciavam o cabelo de Violet numa tentativa de acalento -, mas pode amá-lo enquanto estiver aqui.

Violet ergue o rosto do peito de Lucienne com os olhos marejados e cheios de incerteza, a bibliotecária deixa um carinho quase materno no rosto da menina antes de se afastar dela apenas para que pudesse desamarrotar seu fraque. Ela segura o rosto de Violet com as duas mãos e limpa as lágrimas intrusas.

- Não tenha, medo, querida.

Com um aceno, Violet tenta se recompor e respira fundo várias vezes. Com a coragem renovada, ela se enfia na escada em espiral que leva para os arquivos abaixo, quase caindo diversas vezes no processo.

Os arquivos são escuros e empoeirados, exatamente como ela imaginou que seriam.

- Morpheus? - Ela grita da base da escada, onde a luz de cima ainda atinge algo, há um certo desespero em sua voz. - Morpheus!

De trás de um corredor, ele surge, com os olhos preocupados e um vinco entre as sobrancelhas que suaviza apenas quando ele a enxerga. Antes que possa processar, Violet dispara em sua direção e se joga contra ele. Morpheus joga tudo em seus braços no chão para recebê-la e eles quase caem com o impacto. Ela enfia o rosto no peito dele, deixando-o envolvê-la com os braços.

- O que é tudo isso? - é a primeira vez que ela ouve Morpheus rir, é leve e natural, e Violet daria sua alma para ouvir mais dela, para ouvi-lo gargalhar até doer a barriga.

Após ser colocada de volta no chão, Violet não se afastou. Morpheus não tirou as mãos da cintura dela, pelo contrário, a manteve bem perto dele, colada ao seu peito. Ela não estava desviando o olhar ou o evitando como fazia as vezes, chegava a ser um pouco desconcertante olhá-la nos olhos.

- Agradeça a Lucienne, Milorde.

Antes que ele tenha tempo de ficar confuso ou de se sentir afetado pela forma como o título escorregava da língua dela, quase sensual, Violet o surpreende. Estendendo o corpo na ponta dos pés, ela esmaga a boca contra a dele. Aproveitando a proximidade, seus dedos se enfiam entre os fios escuros da nuca dele, movimentando-o como queria conforme explorava cada cantinhos dos lábios rosados e macios. O gosto de Morpheus era bom, assim como sua pele era sempre macia e fresca. Como num sonho, ela ri.

Morpheus não perde tempo novamente, ele a ergue e esmaga o corpo dela entre o seu e uma das estantes, derrubando alguns livros de registros no caminho. Ela ri e um gemido escapa quando ele volta a beijá-la como se fosse o ar que ele precisava para viver, Morpheus se entregou completamente, a tocava com os lábios, com o queixo e com o nariz, memorizando o sabor dela, seu cheiro, a maciez da pele.

Alguns minutos se passam até que eles se separem, os lábios inchados e vermelhos, a respiração totalmente irregular e expressões extasiadas. Morpheus encosta sua testa contra a dela e sorri, não um pequeno e quase imperceptível como sempre, mas largo e contente. Violet traça seu lábio inferior com o polegar.

- Acho que está pronta para o seu próximo desejo, Violet - ele sussurra, segurando o riso -, mas antes precisamos colocar essa bagunça de volta no lugar.

𝐓𝐑𝐀𝐆𝐀-𝐌𝐄 𝐔𝐌 𝐒𝐎𝐍𝐇𝐎, The SandmanOnde histórias criam vida. Descubra agora