Capítulo Único

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Nunca pensei um dia chegar
E te ouvir dizer
Não é por mal
Mas vou te fazer chorar
Hoje vou te fazer chorar [...]

Pato Fu - Canção Pra Você Viver Mais


Nos arredores da zona 29, Capital do Oeste. Novembro.

O zunido de destruição e os gritos e gemidos tinham silenciado. A noite estava quieta e o tempo parecia imóvel. A lua de outono, cansada e carmesim, aluminava o horizonte indefinido acentuando a quietude sinistra que os envolvia. Só ocasionalmente se ouvia o choro queixoso de alguma criança, que caminhava a esmo na deses­perada tentativa de encontrar os pais.

Fragmentos de névoa de fumaça deslizavam sobre os corpos dos mortos. O chão estava coberto com os restos mortais dos heróicos guerreiros Z que deram sua vida na esperança de proteger a Terra dos temíveis androides. Entre eles Piccolo e Dendê levando consigo a espernça das esferas do dragão.

O jovem Gohan de treze anos riu diante da desagradável cena. Carnificina. Vegeta um sobreviventes da batalha contra as máquinas assasinas teria muita sorte se conseguisse ver o próximo amanhecer. Tinha perdido sangue demais para se curar sozinho. E sem as sementes do deuses seu fim estava próximo.

O seu próprio ferimento era superficial se com­parado ao dele, contudo doía como manifestação de solidariedade.

— Duas horas — disse Gohan, esforçando-se para dar um tom esperançoso à voz. — Três, no máximo, e a senhorita Bulma poderá cuidar de você. Estamos quase lá.

Propositadamente e ignorando os gemidos que o orgulhoso príncipe dos Saiyajins se esforçava para abafar, o adolescente tratou de se ocupar. A tensão crescera até um ponto insuportável dentro dele e agora Gohan sentia-se narcotizado, como se caminhasse nas bru­mas de um pesadelo.

Vasculhando dentre os cadáveres achou uma mochila perdida e uma garrafa com um pouco de água dentre os destroços do que um dia foi uma escola secundaria.

— Veja quanto consegue beber, Vegeta.

Vegeta afastou a garrafa. Ele tinha visto homens morrerem em combate inúmeras vezes, conhecia os sinais de uma ferida irremediavelmente fatal, sua mente estava reconhecendo que ele não viveria.

A dor era terrível, paralisante. Percebeu estar deitado em meio a uma poça do mesmo sangue que vazava entre seus dedos.

Mas como foi...

Fechou os olhos por um instante, revivendo o início daquele dia nefasto.

À distância, brasas vermelhas e finas espirais de fumaça marcavam o lugar onde antes existira o prédio da prefeitura da Capital do Oeste. Nisso, os primeiros gritos soaram, como o prelúdio do começo do fim, e tudo se transformou no próprio inferno.

Um ataque aéreo acontecera. Casas e prédios que um dia tinham formado a metrópole haviam se transformado em escombros. Tudo que restava eram brasas queimando e o cheiro enjoativo de fumaça.

Aquelas criaturas mais pareciam uns demônios em forma, humana, com uma força hercúlea esgueiravam-se dos golpes com a agilidade de uma pantera. Os amigos de Kakaroto tentavam inutilmente anular as forças inimigas.

Um berro de dor foi ouvido, seguido de muitos outros, e então um tenebroso silêncio de morte os envolveu. O único som que Vegeta podia ouvir era o dos batimentos de seu coração. Suas roupas estavam empapadas de sangue e de suor. Arrepios subiam por seu espinhaço.

Uma Carta Para Você   Ps.  As Palavras que Nunca Te DireiOnde histórias criam vida. Descubra agora