03 - Brazilian Girls

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Saí do elevador com tanta raiva que não me surpreenderia se tivesse fumaça saindo de meus ouvidos. Ainda não conseguia acreditar que ele tinha mentido para mim. Marchei em direção ao bar e me joguei em um daqueles bancos altos em frente ao balcão. Assim como tudo o mais naquele hotel, o Apocalypse bar exalava riqueza. Cada copo, cada mesa e cada cor branca e preta eram milimetricamente calculados para dar um ar de elegância enquanto o esquema de luzes produzia uma intimidade típica daquele tipo de ambiente noturno. Eficientemente o bartender apareceu na minha frente perguntando o que eu gostaria de beber. 

- Quero um shot de tequila. Quarto 1306 – informei, mais áspera do que pretendia. 

Ele depositou o copo na minha frente e me esforcei para dar um sorriso junto com o agradecimento. Afinal, o cara não tinha culpa se o babaca do meu pai tinha me enganado. Virei a bebida de uma vez e, enquanto ela ainda queimava em minha garganta, acenei para que ele trouxesse mais um. Não queria pensar em todos os planos que tinha feito e que meu pai querido tinha arruinado. Preferia ficar bêbada. 

De esguelha vi uma garota ocupar o banco ao meu lado, mas estava ocupada pedindo por uma mais rodada de bebida. Acho que o álcool já estava fazendo efeito por que dessa vez enrolei um pouco a língua para murmurar um "obrigada" e, quando o fiz, o bartender ficou parado, me olhando. 

Arqueei a sobrancelha em uma pergunta silenciosa e ficamos por um momento nos encarando em silêncio até que uma risada suave nos interrompeu. Virei a cabeça e encontrei a garota ao meu lado nos analisando, seus olhos avelã brilhavam de divertimento. 

- Ela quis dizer "obrigada" – falou, virando-se para o cara das bebidas. 

Compreensão passou por seus olhos e ele assentiu, sorrindo, antes de se virar e ir atender um homem na outra extremidade do balcão. Virei o corpo em direção à loira e reparei que ela era muito bonita. Seu cabelo, que tinha o comprimento um pouco abaixo do ombro, estava todo jogado sobre seu ombro e modulado por ondas impecavelmente feitas. Seu nariz era perfeitamente esculpido e sua pele era o exato exemplo daquela frase "pele de pêssego". E, para completar, ela usava um vestido preto e lindos saltos brancos com bolinhas pretas. Se já não estivesse levemente alcoolizada, teria me sentido constrangida pela minha aparência meio desleixada naquela calça jeans, blusa cinza e jaqueta jeans. Pelo menos estava de salto. 

Deixei os pensamentos irrelevantes sobre nossas roupas de lado e me concentrei no mais importante. 

- O que foi isso? – indiquei, com um leve balançar de cabeça, o lado para o qual o bartender tinha ido. 

- Você falou obrigada – sorriu. 

- Ah! Falei? – franzi o cenho e olhei para o copo vazio em minha mão. – Talvez isso aqui seja mais forte do que eu pensei. 

- Sobe depressa, não é mesmo? – sorriu. – Por isso fico com minha boa e velha cerveja – levou o copo aos lábios como se para enfatizar seu ponto. 

- Hey! – exclamei ao perceber algo. – Você me entendeu! E não tem sotaque – analisei-a de cima a baixo. - Brasileira? Você não parece muito brasileira. 

Soltou outra risadinha. 

- Brasileira. Nascida e criada no Brasil, mas sou metade escocesa. Por parte de mãe – estendeu a mão. – Summer Campbell. 

- Alexis Duquesne – retribui o cumprimento. 

- Mas e você,Alexis , é brasileira? 

Assenti. 

- Nasci lá, mas me mudei para Toronto quando tinha dez anos – murmurei, entediada. - E depois para San Francisco quando tinha treze, e para Madrid quando fiz quinze. E atualmente moro em Sidney. Tudo graças ao meu querido pai – cuspi a última palavra e virei o líquido em meu copo. 

See the same sunriseOnde histórias criam vida. Descubra agora