Cap 4: A Primeira Missão

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A expressão das duas permanecia calma, mas havia algo a mais por trás daqueles olhares serenos. Ainda processando tudo o que acabara de ouvir, soltei, quase sem pensar:

– Então… quer dizer que vocês são minhas filhas também?

Mie riu levemente enquanto continuava a cortar o que parecia ser algum tipo de vegetal local. Emi, por sua vez, cruzou os braços e me encarou com um olhar quase maternal.

– De certa forma, sim. Se fizéssemos um teste mágico de linhagem, nossos fluxos de energia seriam compatíveis. – Ela parou por um instante, medindo cada palavra. – Mas não significa que você seja exatamente nosso pai. Você é... uma versão dele.

Versão dele? Essas palavras soavam estranhas, mas ao mesmo tempo faziam sentido. Eu não sou Tatsuo Shimizu. Pelo menos não mais. Mas saber que, de alguma forma, havia uma ligação real com elas me deixou desconfortável.

Antes que eu pudesse pensar em algo para dizer, Emi se aproximou novamente, o semblante agora mais sério.

– Tatsuo, isso precisa permanecer em segredo. Se os Ceifadores de alto nível souberem que alguém veio de outro mundo com o rosto de Tatsuo Shimizu, eles não vão gostar. Existem muitos inimigos dele que ainda estão vivos, assim como ceifadores que o odiavam. Se descobrirem que, de alguma forma, ele “voltou à vida”, não hesitarão em te caçar... e matar.

Aquelas palavras trouxeram um frio incômodo ao meu peito. Não era medo, mas uma sensação de que eu estava entrando em algo muito maior do que imaginava.

– Por isso, em hipótese alguma, tire essa abóbora na frente de qualquer um. É sua única proteção.

Eu assenti devagar e, sem dizer nada, segurei a abóbora e a coloquei de volta na cabeça. Senti o feitiço se reativar imediatamente, envolvendo meu corpo com aquela familiar sensação de segurança.

– Certo. Eu vou manter isso em segredo. – Fiz uma pausa, olhando para ambas. – Mas... gostaria de poder visitar vocês mais vezes.

Emi sorriu pela primeira vez desde que começamos aquela conversa.

– Será um prazer, Tatsuo. Queremos conhecer você melhor, mesmo que não seja exatamente o pai que tivemos. Nosso pai morreu quando ainda éramos pequenas.

Aquela última frase me atingiu de um jeito estranho. Senti um aperto no peito, como se algo me dissesse que eu tinha uma dívida não paga com elas, mesmo que eu não fosse realmente o ceifador que conheciam.

– Eu vejo vocês mais tarde.

Sem esperar resposta, virei e saí do salão. Jean estava me esperando do lado de fora, encostado em uma das colunas do grande portal.

– O que foi que vocês conversaram? – perguntou ele, curioso.

– Falamos sobre chá. – respondi de forma casual, sem parar de andar.

Ele ergueu uma sobrancelha, claramente desconfiado, mas não insistiu. Um instante depois, ele ergueu a mão, e um brilho azul envolveu nós dois, nos transportando de volta ao QG.

Assim que chegamos, Ronny, Akeno e Adam estavam reunidos, como se estivessem esperando por nós. Ronny, o mais curioso de todos, foi o primeiro a falar:

– E aí? O que foi que houve?

– Elas gostaram de mim. – respondi, ajeitando a foice nas costas. – Acho que causei uma boa impressão. Só isso.

Ronny me olhou por um segundo, claramente querendo mais detalhes, mas decidiu não insistir.

– Consegui uma missão. – disse ele, mudando de assunto.

– Nossa primeira missão? – perguntei, cruzando os braços.

– Sim, e parece que vai ser interessante.

Eu apenas assenti, preparando-me mentalmente para o que viria a seguir. Mal sabia eu que aquela seria a missão que nos colocaria no caminho de algo muito maior do que qualquer um de nós esperava.

Ronny cruzou os braços, encostado na parede, enquanto nós três esperávamos ele se explicar. Pela expressão dele, dava para ver que ele estava se divertindo ao nos deixar curiosos.

– Certo, pessoal. Aqui vai: nossa primeira missão será na cidade chamada Fábrica das Águas Sagradas. – disse ele, com aquele tom sério, mas ao mesmo tempo empolgado. – É lá que fabricam todas as poções e feitiços que usamos. Eles possuem águas especiais, únicas no reino, capazes de produzir poções extremamente eficientes.

Eu já tinha ouvido falar dessa cidade, mas nunca imaginei que fosse algo tão importante.

– Por causa disso, a segurança por lá é reforçada, já que eles estão sob constantes ataques. Apesar disso, é uma cidade belíssima. – continuou Ronny. – Nossa missão é caçar e neutralizar a criatura que anda roubando a fábrica todas as noites. Vários ceifadores tentaram resolver o problema, mas não conseguiram. Por isso, chamaram ceifadores de nível alto.

– Que nível? – perguntei, já curioso.

Ronny abriu um sorriso discreto antes de responder:

– Classe B. Esse é o nível da missão.

– Como assim “classe”? – Akeno perguntou, franzindo o cenho.

Ronny suspirou, como se estivesse prestes a explicar algo óbvio.

– As missões dos ceifadores são divididas em cinco classes: D, C, B, A e S. As de classe D são simples e servem para iniciantes, como proteção de caravanas e resolução de pequenos problemas. Classe C já envolve risco moderado, como caçadas de monstros pequenos ou investigações em vilarejos. Classe B, que é o que temos agora, é considerada uma missão de alto nível, onde enfrentamos adversários mais poderosos e situações perigosas. As de classe A e S... bom, espero que demoremos um pouco antes de receber uma dessas.

– E essa criatura que estamos indo caçar… o que sabemos sobre ela? – perguntou Akeno.

– Nada além do que eu já disse. Ninguém sabe o que ou quem está roubando a fábrica. Por isso, a missão é investigar, caçar e neutralizar.

Ronny nos olhou, esperando por uma reação. Eu apenas assenti. Era exatamente o tipo de coisa que eu estava esperando.

– Estão prontos? – ele perguntou.

– Sempre. – respondi, sentindo a adrenalina começar a correr.

Ronny ergueu as mãos, e em um instante, nossas armas e equipamentos surgiram diante de nós. Peguei minha foice e a prendi nas costas. Akeno ajeitou suas espadas gêmeas na cintura, e Adam verificou sua corrente com lâminas nas pontas.

– Vamos acabar logo com isso. – disse Adam, com aquele jeito direto de sempre.

Ronny abriu um portal, envolvendo-nos em uma luz azul brilhante. Um instante depois, estávamos de pé, diante da entrada da cidade. A Fábrica das Águas Sagradas estava à nossa frente, com suas torres de vidro e canais brilhando sob a luz da lua. Parecia um lugar saído de um conto de fadas, mas sabíamos que a missão estava apenas começando.

Reapers: Ameaça nas SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora