Cap 48: A Mãe Veneno

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A paisagem que me cercava era a definição de desolação. Um mundo devastado por forças além do entendimento humano, com nuvens densas e púrpuras cobrindo o céu e o cheiro de morte impregnado no ar. Eu caminhava entre as ruínas de uma cidade que outrora devia ter sido vibrante. Os prédios estavam despedaçados, carros abandonados, e corpos, tanto humanos quanto de criaturas grotescas, espalhados pelo chão.

Foi quando encontrei um grupo de sobreviventes, escondidos dentro de uma construção parcialmente intacta. Eles estavam feridos, com roupas rasgadas e olhares marcados pela exaustão. Um homem mais velho se aproximou de mim, mancando.

- Quem é você? - ele perguntou, segurando uma faca como se aquilo fosse proteger sua vida.

- Apenas um viajante. O que aconteceu aqui? - perguntei, abaixando a cabeça para entrar no local.

O homem hesitou, mas outro sobrevivente, uma jovem, respondeu por ele:
- Meses atrás, ela chegou... A Mãe do Veneno.

O nome dela fez minha mente processar as informações como peças de um quebra-cabeça.

- Luthra, não é? - eu disse, encarando o grupo.

O velho assentiu, sua expressão ficando ainda mais sombria.
- Ela trouxe destruição. Primeiro, envenenou os rios, depois os campos. Quando a fome e a sede começaram a matar, os monstros apareceram, como se ela tivesse convocado todo o inferno para este mundo.

Eu me ajoelhei próximo a um dos feridos, um garoto que não devia ter mais de 15 anos, com um braço enfaixado de forma precária. A situação era terrível.

- Quanto tempo isso durou? - perguntei.

- Meses - o velho respondeu.

"Meses", pensei comigo mesmo. Para mim, parecia que haviam passado apenas dias desde que acordei naquele lugar de trevas, mas para eles...

O caos, que sempre sussurra em minha mente, aproveitou o momento.
- Ah, meu caro emissário, a noção de tempo entre os mundos é caprichosa. Para eles, passaram-se meses. Para você, talvez dias. Para outros, minutos. Essa é a natureza das fendas e do multiverso.

"Fendas... malditas fendas", pensei, mas não respondi ao caos.

Eu me levantei e olhei ao redor.
- Luthra será cuidada. Pessoalmente.

As pessoas me olharam com desconfiança e esperança. Talvez não acreditassem em minhas palavras, mas isso não importava. Eu sabia o que precisava fazer.

- Antes disso, porém... - murmurei, erguendo a mão direita.

Concentrei-me, e um pentagrama verde brilhante surgiu no chão abaixo de todos eles. Uma luz intensa os envolveu, curando feridas, fechando cortes e até limpando seus corpos dos efeitos do envenenamento. O garoto com o braço enfaixado o moveu como se nunca tivesse se ferido.

- O que é isso? - ele perguntou, incrédulo.

- Apenas o começo.

Os olhos de todos se fixaram em mim, mas eu não tinha tempo para mais explicações.
Luthra, a Mãe do Veneno, havia condenado este mundo, e eu era o único capaz de enfrentá-la.

- Fiquem aqui e cuidem uns dos outros - eu disse antes de sair pela porta destruída.

Ao pisar de volta no mundo devastado, meu corpo parecia mais leve e ao mesmo tempo mais pesado. A responsabilidade de um emissário não é algo fácil de carregar. Mas eu prometi a mim mesmo que faria o que fosse necessário, custe o que custar.

O ar ao redor era pesado, envenenado por uma energia tão maligna que quase parecia pulsar. O cenário era um cemitério de esqueletos, espalhados como peças de um quebra-cabeça macabro. Cada osso contorcido contava uma história de dor e morte. No centro do caos, uma figura destacava-se, envolta por uma aura púrpura e esverdeada.

Reapers: Ameaça nas SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora