Eu costumava acreditar que minha vida era tranquila e segura. Aos vinte anos, eu trabalhava meio período em uma pequena livraria da minha cidade natal e passava o resto do tempo lendo mangás ou sonhando acordado com aventuras épicas. Para mim, a realidade era simples, previsível, e eu estava bem com isso.
Até aquele dia.
O dia começou como qualquer outro: meu turno na livraria terminou ao entardecer, e saí caminhando pelas ruas iluminadas por um pôr do sol alaranjado. A brisa carregava o aroma das flores de cerejeira, e eu estava perdido em pensamentos sobre a história que tinha acabado de ler. Talvez por isso não tenha visto o carro.
O som dos pneus cantando no asfalto foi a última coisa que ouvi antes do impacto. Meu corpo foi arremessado, o chão sumiu, e a escuridão me envolveu. Senti a vida escapando de mim, um frio que começou no peito e se espalhou por todo o corpo.
Mas, ao invés do vazio, algo inesperado aconteceu.
Abri os olhos e vi uma figura sombria ao meu lado. Ele tinha olhos prateados que brilhavam como faróis no escuro, e uma foice reluzente pendia de suas costas. Era intimidante, mas havia algo nele que me dava uma estranha sensação de calma.
— Não é sua hora — disse ele, sua voz reverberando como um trovão distante. — Mas, para viver, você terá que aceitar o que está por vir.
Antes que eu pudesse perguntar o que isso significava, ele tocou minha testa com dois dedos. Fui envolvido por uma energia que parecia arrancar minha alma e me jogar em outro lugar.
Quando abri os olhos novamente, estava em um campo verdejante que parecia se estender infinitamente. O céu era de um azul tão perfeito que parecia surreal, e o ar tinha um perfume doce e reconfortante. Não havia mais dor. Eu me levantei devagar, ainda confuso, e vi, ao longe, uma mansão imponente com paredes cobertas de trepadeiras e janelas de vidro colorido que refletiam a luz do sol.
Foi lá que encontrei o homem novamente. Ele se apresentou como Felix.
— Bem-vindo ao mundo dos ceifadores — ele disse, segurando uma abóbora que emitia uma luz suave e pulsante. — Este lugar existe entre o físico e o espiritual, uma ponte para proteger o equilíbrio entre os dois mundos. Você foi escolhido, Tatsuo.
Eu mal conseguia compreender o que ele estava dizendo. — Por quê? Por que eu?
— Há algo especial em você, uma energia que precisa ser contida e moldada. — Ele estendeu a abóbora. — Este é um contentor. Sem ele, seus poderes se descontrolariam, e seu corpo não resistiria à força que você carrega.
Relutante, coloquei a abóbora na cabeça. No mesmo instante, senti algo quente e poderoso me preencher. Era como se ela estivesse segurando uma tempestade dentro de mim.
— Agora, você precisa treinar — disse Felix.
---
As primeiras semanas foram um inferno.
Felix não era exatamente paciente. Ele me fazia correr até minhas pernas cederem, levantar pedras enormes e me concentrar em meditar por horas. Meu corpo doía, minha cabeça girava, e, várias vezes, pensei em desistir.
Foi quando conheci Sthefany, sua neta de dez anos. Ela aparecia durante os intervalos com chá fresco e um sorriso que parecia iluminar o lugar.
— Por que você está sempre tão sério? — ela perguntou um dia, enquanto me entregava uma xícara.
— Acho que não tenho muita escolha — respondi, enxugando o suor da testa.
Ela me olhou com um sorriso travesso. — Meu avô é duro com você porque sabe que você pode fazer coisas incríveis.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Reapers: Ameaça nas Sombras
FantasyTatsuo quase morre depois de um acidente, mas é mandado para um outro mundo antes de morrer. Felix da a oportunidade dele se torna um ceifador. Agora ele tem que se adaptar e se acostumar naquele mundo que é tão diferente do seu. No entanto, ele irá...