Capítulo 3

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Melane Silva

Dias Atuais

De longe eu o observo, a vontade de ir falar com meu filho é grande mas o medo é maior ainda. A alguns anos tomei a grande decisão de fugir da vida que levava com BM, não aguentava mais as surras frequentes por qualquer motivo e menos ainda o fato de ter perdido meu bebê. Tentei seguir em frente com Christian, sabia que não poderia tirar tudo dele novamente e todos os dias eu pensava sobre isso.

O medo de ser morta a cada vez que BM chegava em casa drogado, palavras que saiam dos lábios dele doíam mais que todos os socos ou surras de cinto.Sim, ele adorava me deixar cheia de marca e me jogar na cara o porquê eu estava com ele e relevei tudo pelo homem que está agora admirando a praia; Meu Christian!

Depois de um tempo de meses em meses eu chegava nele e falava sobre irmos embora e a reação era sempre falando que queria ficar com o pai... Isso me magoava mais do que qualquer coisa mas não poderia continuar ali e foi pouco antes de seu aniversário de 11 anos que dei a palavra final.

Ainda não acredito que dei poder de escolha para uma criança de 10 anos, eu estava doida e desesperada, afundando em um navio sem qualquer método para não morrer afogada.

Me lembro bem daquela noite...

Flashback on

- Amor, precisamos ir embora. - os pequenos olhos castanhos me encararam com lágrimas.

- Por quê, mamãe? Eu quero ficar com o papai.

- Christian, por favor...Eu te amo, dou minha vida por você, mas não podemos ficar aqui mais. - Seus bracinhos me rodeiam com força e um gemido de dor trava em minha garganta junto com as lágrimas.

- Me deixa ficar! Eu quero ficar com o papai, ele me mandou embora por que não sou filho dele?

- Não... - o aperto mais e sinto o seu perfume.

- Eu quero morar aqui, ele me faz feliz, demorei para ter um papai que me ensina a jogar bola, andar de bicicleta, me dá meus remédios quando a mamãe tá doente e que cuida de mim...

- Mas a mamãe não pode ficar aqui, Christian ! - minha voz sai rouca e não passa de um sussuro. - eu não aguento mais ficar aqui, fiz de tudo pra continuar e tentar, por você mas não dá mais ! Eu não aguento mais fingir. - o choro sai livre junto com meus soluços.

- Titio falou que você tá triste com o papai. - olho seu rosto redondo e afirmo. - Mas que se eu for embora, papai não vai aguentar, eu quero ficar pra cuidar dele.

Meu coração se partiu em inúmeros pedaços e o aperto no peito veio com tudo, fazendo com que finalmente a fixa caí-se, não poderia jogar ele contra BM e nem o obrigar a vim comigo com risco de passar necessidades e não ter certeza do dia seguinte. O amor que ele sentia por aquele ser que ele chamava de pai era grande, não poderia simplesmente o jogar nos ombros e mandar esquecer todos esses quase 6 anos juntos.Poderia o deixar doente o que seria pior pois sabia que no momento que eu tentasse fugir não teria volta. No momento se passou um frase em minha cabeça que minha professora falou um dia...

O verdadeiro Amor, que é o Amor Incondicional, é Amar, pensando em primeiro lugar na felicidade do outro, e não pensar em primeiro lugar na sua própria felicidade. O verdadeiro Amor é olhar para os olhos e para o rosto do outro e vê-lo feliz. É em primeiro lugar, fazer  e querer ver o outro feliz.

O verdadeiro Amor é o Amor altruísmo, generoso, bondoso e compassivo. - Mario

- Quero que você me promete uma coisa Christian Silva. - enxuguei as lágrimas que desciam por meu rosto e ele apenas afirmou com a cabecinha. - Me prometa que será sincero e bondoso.Seja sempre puro e verdadeiro.Seja um homem bom.
E nunca se esqueça; Maktub

- Eu prometo mamãe. - sei que ele ainda não entendia tão bem o que estava acontecendo mas era um menino esperto. Tirei a borboleta do pescoço e coloquei em sua mão.

- Eu te amo, não importa o que aconteça ou o que digam - o abraço e dou um último beijo - Eu sempre vou te amar independente do que aconteça.

Flashback off

Sim, eu fui embora deixando metade de mim para trás. Depois de duas noites apenas peguei meu cartão de crédito e dinheiro, não levei nenhuma peça de roupa ou sapatos  que comprava simplesmente para preencher o vazio e gastar o dinheiro de BM. Na minha cabeça além do alívio e relaxamento em fazer compras ainda estava me vingando, como se torar o dinheiro dele para que ele não gastasse com putas e me vingando por cada marca em minha pele.

Fingir ser uma boa esposa e escreve várias cartas para Chris se lembrar de mim, Paula o entregaria cada uma no momento certo. Hoje o admirando de e longe agradeço pelo homem que ele é, converso com minha amiga por um telefone público e escrevo cartas para que ela leve.

O começo depois que fugir foi difícil, eu tinha juntado dinheiro e até roubado algumas notas de BM e depositado no banco, ele estava sempre drogado de mais para perceber que algum bolo de dinheiro havia sumido e eu aproveitava. No final fui para em uma kitnet e encontrei emprego em um bar mas logo sai e fui para uma livraria alguns meses depois, seguindo em frente do jeito que dava e tentando não pensar em tudo que passei.

Assim que ele levanta e vai em direção da moto, sei que meus minutos para o admirar acabaram, queria tanto o abraçar e falar o porquê de tudo mas não poderia. Então apenas o olho pilotando para longe e tenho a esperança de poder ver meu filho logo. Sempre vinha na saída da escola para o ver de longe, nós meus horários de almoço, mas com o tempo ele simplesmente começou a estudar em casa segundo Paula, era raro os momentos que eu conseguia o ver e hoje foi um desses, quem me dava informações e hoje foi exatamente ela que descobriu na onde ele estaria essa tarde e eu corri por vários metros até o achar e me esconder em uma barraca fingindo tomar água de coco com um enorme chapéu na cabeça.

Assim que se passa alguns minutos vou pela rua, feliz por ver ele e triste por não pode me aproximar.A noite já estava chegando, então era hora de dar meia voltar e ir para casa.

Suspiro lembrando das roupas que tenho que lavar e de algumas louças, faço também uma lista mental do que era necessário lá para casa.Gostava dessas distrações, me impedia de pensar, principalmente nele; BM vez ou outra me vinha a cabeça, depois da minha grande fulga nunca mais o vi, e uma parte de mim agradecia e a outra ainda estava partida por tudo que rolou.

Atrás das Grades - Second seasonOnde histórias criam vida. Descubra agora