Melane Silva
Observo as mesas com algumas pessoas e o silêncio que preenche a biblioteca, fazendo com que o tic tac do relógio fizesse eco pelo lugar.
Adorava trabalhar aqui, mas as vezes o silêncio era meu maior inimigo. Algumas vezes servia para lembrar do passado e me fazer pensar no que poderia ter feito diferente, meu filho era um homem já e estava feliz por isso, mas o passado me deixou grandes marcas.
- uhm - um limpar de garganta me faz sair da minha bolha e me obrigo a sorrir para Fred, o meu chefe.
- Oii - minha voz soa animada então rezo para que ele não perceba. Já tem quatro anos que trabalho aqui e ele é o único que não me julgou e me manteve no emprego apersas de tudo.
- E aí ? Como você está ?
- Estou bem e você ? - tento corresponder ao seu sorriso.
Fred é um homem de 43 anos, mas sua pele negra o faz parecer bem mais novo, junto com o sorriso bonito de dentes brancos e alinhados que fazem muitas clientes ficarem de quatro por ele. Sei que alguns só veem exatamente pelo meu chefe, da pra notar o olhar de decepção de cada uma quando aparecem e ele não pode está, em geral cuido sozinha daqui, raramente ele fica fora do escritório ou viajando a procura de novos romances ou livros de coleção para as estantes.
- Ótimo ! Obrigado. Vai chegar alguns livros mais tarde, preciso que você os lance no sistema, junto com as etiquetas com o valor e já coloque nas prateleiras. Pode fazer isso por mim, por favor ? - Como se nega algo pra um homem tão gentil e educado ? Tirando o fato de que ele é meu chefe e eu não poderia nem cogitar essa ideia. Em todos esses 4 anos Fred nunca me tratou de outra forma que não foi como um verdadeiro amigo, ele sabia que eu tinha uma história complicada mesmo nunca tendo contado.
Saio de trás do balcão e ando até algumas prateleiras arrumando os livros que foram tirados do lugar e recolhendo outros para botar a etiqueta de preço. As manhãs ali eram sempre mais tranquilas, então assim que termino vou dar mais uma conferida no computador para conferir se separei certo os pedidos.
Ando pelos corredores e confiro que não há mais ninguém no espaço para ir até a porta e a trancar, viro também o papel de fechado para o almoço. Vou para a pequena cozinha que tem em anexo ao lugar e pego minha marmita na geladeira e levo ao microondas, tinha feito somente um arroz temperado é legumes cozidos, não gostava mas me obrigava a comer.
Como o mais rápido possível, hoje era dia de encontrar com Paula, embora fossem momentos raros esses não conseguia deixar de pensar em tudo que deixei para trás, então adiantaria tudo que precisava e sairia mais cedo.
Olho mais uma vez para o relógio e não mudou nada nos últimos minutos, parece até mesmo que o ponteiro está andando para trás e eu não posso me atrasar. Um aperto no meu peito tem me encomodando nas horas que se passaram e só se intensifica, pego um papel e começo a escrever uma carta para Christian. Não sabia se ele leria mas uma segunda carta mal não faria, sorrio lembrando do meu menino e de como ele estava a algumas semanas atrás.
(...)
Finalmente os ponteiros bateram o meu horário de ir embora e com a biblioteca vazia não tinha problema fechar alguns minutos antes, Fred já tinha ido para uma de suas viagens e sua prima apareceria amanhã para fazer a contagem do caixa. Ando até a porta e viro o letreiro dizendo que a loja está fechada e rodo a chave trancando, ligo junto o alarme e saio pela porta de trás depois que pego minha bolsa.
O encomodo no meu peito continua então o esfrego e pego o telefone, não tem nenhuma notificação na tela então apenas continuo o caminho até o Bar copo sujo que servia ótimas porções, ali era meu ponto de encontro com minha amiga.
Olho pelo pequeno lugar em busca de Paula e sorrio para a atendente, não encontro ela mas ando até a mesa distante que me dá uma boa vista da entrada. Olho todo instante o horário no celular, nossos encontros não custavam a demorar muito, não queria minha amiga apanhando por minha causa.
Me mexo desconfortável na cadeira, olho mais uma vez para a porta e a atendente que já veio duas vezes me pergunta se eu queria fazer meu pedido. Já se passou 30 min que estou sentada na mesa tomando um suco enquanto tento botar pra dentro um pastel gigante que comprei pra distrair, levanto a mão e peço a conta, não posso esperar mais. Suspiro e tento ensaiar um sorriso meia boca para a atendente, que me olha sem graça sabendo que levei um bolo.
Caminho para fora do bar em direção a minha casa, não ficava muito longe, tinha que trocar de roupas e dar um jeito na casa. Me sinto encomodava a cada passo que dou, olho para trás e não vejo ninguém olhando para mim ou com uma atitude suspeita, posso estar sendo paranóica de uns dias para cá mas me sinto vigiada. O barulho de passos correndo me faz olhar para trás bem na hora que um cano gelado encosta nas minhas costas e meu grito é sufocando em minha garganta pela mão que tampa minha boca em seguida. Sou empurrada para a parede, meus ossos reclamam pela força usada junto com meus seios que mesmo com o bojo do sutiã sofreram com o impacto.
- Fica quieta e não grita, se você gritar a bala vai comer patricinha. - afirmo com a cabeça e tento segurar as lágrimas.
A arma faz pressão em minhas costas, mas a mão libera minha boca e me puxa para o carro que estaciona ao nosso lado no meio fio, sou empurrada com violência para dentro, não entendo o que estava acontecendo mas tento raciocinar, em momento nenhum me pediram dinheiro então poderiam apenas querer me matar por vingança. Lágrimas descem por minhas bochechas, oro em silêncio e lembro das pessoas que eu amo.
Encaro o homem estranho do meu lado que em momento nenhum abaixou a arma, penso em pular nele e tenta pegar o objeto, mas o carro é pequeno e eu não sei atirar.
Me sobrando somente uma opção; a barganha, não era boa nisso mas pela minha vida valia a pena tentar.
- Moço, por favor... Eu não tenho dinheiro... Pode ficar com tudo que eu tenho. - fungo, meu desespero faz minhas palavras saírem emboladas.- mas não me mata... Pelo amor de Deus !
- Cala boca porra! - seu grito me faz encolher no canto do veículo contra a porta. - fica quieta e só abre a merda da boca quando manda ! Entendeu caralho?
Mexo a cabeça em afirmativo e tento limpar o nariz e as lágrimas com a blusa que uso. Mas ele coloca uma toca preta em minha cabeça, me impossibilitando de saber para onde estamos indo antes de amarrar meus pulsos. Soluço alto.
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Atrás das Grades - Second season
RomansaNão sei ao certo o que aconteceu e em apenas uma noite as coisas mudaram. Eu que estava me acostumando com o rumo que minha vida estava levando e começando aceitar que poderia dar certo e que ainda havia esperança... Mas foi um mero engano, mais u...