País da Overdose

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Pov Okane

Você já esteve no inferno? Não? Eu já! As vezes, era muito claro e frio, como o horário do banho, jatos de água gelada contra a minha pele, como o chão frio da solitária.

As vezes, era quente e claustrofóbica, como a sela lotada, ou úmido e abafado, como a solitária.

E eu sentia muito medo, todos os dias. Medo quando os presos começavam a brigar, medo quando alguém me tocava. Medo quando Luka "demorava" a vir me ver. E quando dormia, temia não acordar, não ver mais o rosto dele. E...e principalmente, medo quando o diabo vinha até mim.

O próprio satanás em pessoa, Marcelo Colucci. Aquele maldito, desgraçado, queria que eu confessar o crime, que o filhinho bastardo dele cometeu. E quando eu me recusava, começaria tudo de novo, me arrastavam para passar pelas mesmas coisas de costume, a sessão de suplicio e a danação eterna. O banho gelado, as surras...humilhações.

Assassino

Mentiroso

Drogadinho

Órfão

Vadiazinha do Colucci jr

E tudo que me cabia fazer, era chorar, e como eu chorava. Por que eu havia aprendido, que quanto mais eu implorava, mais eles se divertiam, pior ficava. Então eu só me escolhia, e deixava acontecer. E então, me jogavam de volta a solitária.

Paz? Estou rindo da sua ingenuidade agora! Porque quem me dera, eu estivesse sozinho.

"Olá, docinho."

Bill e Charlie, os gêmeos do turno da noite. Na sala escura, com apenas uma fonte de luz, iluminando parcialmente o lugar, eles estavam no centro, vestindo máscaras de palhaços monstruosas. Eles me encurralavam, riam alto, enquanto me cutucavam e me agarravam. Queria me escolher num cantinho e tampar os ouvidos, como eu fazia quando papai e mamãe brigavam, como eu fazia quando os meninos mais velhos gritavam comigo por não ter conseguido roubar nada útil. Mas eu não podia, os gêmeos não deixariam. Eu me lembrava de também haver gêmeos, quando eu ficava nas ruas, eles também não eram legais.

"Seja um bom menino, bebê e olhe pra nós" dizia Bill

"Você não quer brincar? É feio evitar as visitas " dizia Charlie

Eu só senti vontade de vomitar! Não queria os dedos calejados de ambos em minha pele, não queria o corpo deles colado ao meu. Dedos grosseiros, corpos cheirando a suor, desodorante barato e cigarro...e não os dedos macios e gentis, do meu namorado, as palavras sussurradas com seu sutaque argentino, em meu ouvido, seu cheiro caro e refinado. Eu só queria meu Luka aqui, me garantindo que ficaria tudo bem, que ele me protegeria. E sentia novamente como aquele menininho assustado, sabendo que o Superman não existiria, e não viria salva-lo.

Então eu fechava os olhos, imaginando um sorriso zombeteiro, o perfume Chanel e braços finos em volta de mim.

Minha casa, meu lar, meu amor.

* * *

- Como você está ? - pergunto com um sorriso, ao ver meu loirinho irritadiço.

- Péssimo, meu namorado está preso.

- Sinto muito, tenho certeza que ele é inocente.

Ele revira os olhos e ri, se segurando pra não chorar.

- Eu sei!

Nos encaramos,ele aperta minha mão, e eu sorriu ainda mais. Eu queria abraça-lo, beija-lo, deixar com que ele me abraçasse enquanto eu dormia. Me movo na cadeira, tentando não transparecer o quanto meu corpo doía, o quanto eu estava apavorado. Se eu contasse, Luka surtaria e confrontaria Marcelo, esquecendo completamente o plano de Mia e Roberta, para conseguir provas contra o Colucci mais velho. Mas isso é o de menos, ele poderia se prejudicar, sabe-se lá o que aquele maldito poderia fazer.

- Acabou o tempo. - Diz o policial.

Mas já ? Vinte minutos é tão pouco.

- Eu volto amanhã, Sushi.

- Por favor.

Luka faz um carinho no meu rosto, não podíamos nos beijar. Mas ele junta nossas testas.

- Eu vou te tirar daqui.

- Eu sei!

E ele vai embora.

- De volta pra sua sela, coisinha imunda.

Mais um dia!

* * *

Deixa eu te contar um segredo. Eles me davam drogas, aqui dentro. Eu não queria, estava tentando me afastar disso, queria ter uma vida normal, feliz e longe se vícios, com meu loirinho, quando saísse desse inferno. Primeiro, eles tentavam me sobornar com elas, mas quando perceberam que eu estava resistindo, que eu não queria usa-las...a tática mudou, acredito que a intenção era me fazer seder enquanto tinha crises de abstinência.

Eu não cedi!

- Vamos garoto, se você confessar, vamos te dar o quanto você precisar.

Não, eu não ia confessar algo que eu não fiz. Meu Luka não pode pensar que eu sou um criminoso, eu não suportaria viver com isso.

- Vamos coisinha, é só confessar, você mesmo está se torturando.

- Você mesmo está se fazendo sofrer.

Eu escuto vozes de todos os lados, vocês e ecos de todas as direções. Estava tudo girando, embaçado. Sinto-me cair e cair e cair, como a Alice caindo da toca de coelho, em direção a um mundo mágico e colorido. Riu baixinho, tudo a minha volta dançava em cores bonitas e brilhantes. Rostos desformes de pessoas que eu conheciam, apareciam diante de mim.

Será que eu estava morrendo?

"Okane agarra no galho da vida e da morte" dizia o rosto distorcido de Dixon

"Dessa vez parece que Okane não teve sorte" Jana ria e apontavam pra mim, eu ri junto.

Eu ri tanto, sinto meu coração acelerar contra o meu peito, doía muito. Saindo vontade de vomitar, tudo ao meu redor girava. Me deito no chão, tentando ficar menor. Porque eu estava no meu quarto?

"SUA VADIA" papai ?

"A POR FAVOR HERNANDO, EU SÓ FIZ EXATAMENTE O QUE VOCÊ FEZ COMIGO" mamãe ?

"EU DEVIA TER ESCUTADO MEU PAI, VOCÊ É UMA RAMEIRA DE BAIXO ESCALÃO"

"PELO MENOS EU NÃO TIVE FILHOS BASTARDOS"

"AMÉLIA É MIL VEZES A MULHER QUE VOCÊ NUNCA SERÁ. OLHA PRA VOCÊ, JÁ FUI UMA MULHER ATRAENTE"

"A CULPA É SUA, E DA PORRA DA CRIANÇA QUE VOCÊ FEZ EM MIM"

Me encolha ainda mais, os ursinhos do meu quarto riam enquanto ficavam gigantes, vindo em minha direção com os braços estendidos. Eu gritava por ajuda, mas ninguém vinha. Meu corpo começa a se debater, espuma sai pela minha boca.

O que está acontecendo comigo?

"Covuciona no canto do quarto" diz MJ sorrindo.

Andi bê Emília riam, apontando enquanto davam voltas ao meu redor.

"Foi o que você fez comigo, Okane. Você quase me matou"

- P-perdão...

"Perdão? Ela quase morreu, e a culpa é sua!"

"Sua culpa"

-M-minha culpa...

"Sua"

"Sua culpa"

Minha culpa...

"Lacrimeja enquanto sua visão distorce" Esteban olha pra mim de cima, ao lado de Marcelo, que sorria.

Luka sorri pra mim e segura meu rosto, apertando meu nariz, eu me debato, tentando respirar. Ele sussurra divertido :

"Okane, no país da overdose"

"CORTEM A CABEÇA" berrou a voz de Marcelo Colucci.

E então, tudo ficou escuro!

* * *

Não me matem crianças, ainda a esperança, ela é a última que morre 😉

Okane - no país da Overdose Onde histórias criam vida. Descubra agora