Capítulo 45

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Depois de sairmos da mansão, ninguém falou nada, nem nossas filhas. Quando chegamos em casa preparei alguns sanduíches e coloquei as meninas para dormir. Cheryl foi para o quarto e permaneceu lá. Eu não estava chateada com ela, só queria entender porque ela escondeu isso. Entrei no quarto e ela ainda estava vestida com a roupa do enterro, estava olhando para o nada, com um olhar vazio.

- Cherry! - A chamei, mas ela parecia em outro mundo. Me aproximei e toquei seu rosto. - Amor, tudo bem? - Era uma pergunta idiota, eu sabia que não estava nada bem.

- Você me perdoa?

- Pelo o quê?

- Por não ter te contado sobre o Logan.

- Por que não me contou? - Os olhos dela se encheram de lágrimas. Pude ver culpa, dor e decepção.

- Existem ocasiões da nossa vida que a gente quer tanto que não tenha acontecido, que acaba realmente esquecendo por um tempo. Pra mim aquela era uma lembrança distante de algo que não deveria ter acontecido.

- Vem. - A puxei. - Vamos para a banheira e você me conta lá. - Me despi rapidamente e ajudei Cheryl a se despir.

Primeiro nos molhamos no chuveiro, enquanto a banheira enchia. Eu a enchi de beijos, afinal eu sabia que ela precisa de apoio e carinho, muita coisa estava acontecendo, principalmente para ela. Depois fomos para banheira, onde Cheryl se sentou entre minhas pernas. Ficamos em silêncio por um tempo, até que ela soltou um logo suspiro.

- Eu tinha dezesseis quando meu avô disse que eu iria ficar noiva e me casar com Nick. Ele era um bom homem, manipulador, mas não era mal. Eu sempre soube que era gay, sempre. Ele disse que me ajudaria, Vero diz que ele me estuprou, mas... eu permiti.

- O que ele disse?

- Ele disse que me ajudaria a tornar as coisas mais fáceis, que depois da nossa primeira vez eu iria começar e... que era isso que eu precisava para mudar meus gostos. Eu não via como estupro, na minha cabeça eu achava que ele queria me ajudar, até quando eu pedi para ele parar.

- Você pediu para ele parar?

- Sim... - Notei a voz de Cheryl embargada. - Eu me arrependi, não queria mais, não estava sentindo nada, nada mesmo, não conseguia sentir... mas ele não parou. Eu me sentia tão culpada, tão culpada por tudo ter acontecido. - Eu a abracei mais forte.

- Não foi culpa sua, a culpa é dele, você era só uma menina. - Ouvi o soluço de Cheryl. Ela chorou por um tempo e eu chorei junto.

- Quando eu descobri que estava grávida, Vero me ajudou muito, eu não quis abortar, na minha cabeça não era certo. Eu tinha dezesseis anos Tee-Tee, eu não podia dar uma vida descente para ele... Aquele ser tão pequeno, tão inocente, não podia condená-lo a uma vida injusta. Ele seria um bastardo como eu, teria que comer na cozinha, teria que viver entre os empregados, mesmo sabendo que tinha o mesmo sobrenome dos outros. Imagina ele no natal quando todos estivesse em volta da árvore recebendo presentes e ele tendo que ficar no quarto. Eu não podia dar uma vida dessas para ele, por isso preferi que ele vivesse com uma família que desse tudo isso para ele. Que o amasse de verdade e não porque ele poderia dar algo a eles.

Eu não sabia o que Cheryl havia passado, na verdade ela nem se quer falava muito sobre aquilo, por mais que Robert tivesse dito que eu via o que queria, eu pude notar que Cheryl havia sofrido muito com o desprezo deles. Mal pude pensar como deve ter sido passar os natais daquela forma, não poder se sentar a mesa e comer com seus 'familiares'. Mas havia algo ainda que eu não entendi, o porquê dela denfedê-los com tanto afinco.

- Por que então os defende? Por que ainda continuamos indo aquela mansão que só nos faz mal?

- Mercedes foi sua única família, mesmo sem lhe dar muitos abraços, sendo maldosa, ainda assim ela cuidou de você e ela era a única figura materna que você tinha. Você a amava, não a amava?

- Robert era cruel, manipulador, ditador, mas ainda assim era meu avô, mesmo assim ele esteve lá entende? Quando me casei com Heather, eu não esperava mais ninguém além de Vero, mas ele estava lá. Quando Heather morreu foi a mão dele no meu ombro que de certa forma me consolou.

- Você acha que ele pode ter...

-Não! De jeito maneira. Depois do que aconteceu com Nick ele prometeu que nunca mais se meteria nos meus relacionamentos.

- Ele não cumpriu, estamos aqui.

- Sou eternamente grata a ele por não ter cumprido essa promessa. - Ela beijou minha mão.

- E sobre seu filho, o que irá fazer?

- Eu não sei... eu pensei que ele fosse me desprezar, dizer que eu sou uma péssima mãe, que eu o abandonei, mas ele apenas me abraçou e disse que era muito me conhecer, que eu era mais bonita do que na foto. - Cheryl colocou as mãos no rosto e começou a chorar novamente. - Eu por muito tempo tentei me acostumar com a ideia de que seria rejeitada, de que ele me acharia uma péssima mãe quando me encontrasse, que gritaria perguntando porque fiz aquilo. Mas ele foi tão carinhoso, me abraçou e disse que estava feliz em me conhecer.

- Tenho certeza que ele sabe que você não é culpada.

- Mas eu sou... eu o deixei.

- Você só o deixou para ele ter uma vida melhor. Uma vida de amor e cheia de carinho. Seu avô era presente na vida dele?

- Sim. Segundo ele meu avô sempre ia visitá-lo, disse que meu avô falou sobre mim, em como eu era forte que iria amar conhecê-lo, mas que não estava preparada para conhecer ele.

- Ele não perguntou sobre nada, quem era o pai? - Cheryl ficou em silêncio por um tempo.

- Nick está morto... Logan não tem pai.

- Foi isso que disse a ele?

- Foi isso que ele cresceu ouvindo.

- Ele te disse isso?

- Sim.

- Você não pretende dizer a ele quem é o Nick?

- Nick já está morto, só precisa voltar para o caixão.

- E sobre a família, como Logan será visto?

- No momento ninguém pode saber quem ele é.

- E o que pretende fazer agora que sabe que tem um filho, você vai participar da vida dele?

- Não posso recuperar o tempo perdido, mas tentarei ser o mais presente possível para ele, por isso... - Cheryl se virou, parecia receosa. - Eu gostaria que ele viesse morar aqui conosco.

Aquilo havia me pego de surpresa, eu queria que ela fosse presente na vida do filho, mas não havia pensado na possibilidade dele morar conosco, até porque não o conhecia, não sabia os hábitos e seus costumes, eu tinha duas meninas em casa, não podia deixar qualquer um entrar assim, bem ou mal, Logan era um desconhecido.

- Mas e a família dele?

- Quem o criou era uma senhora, ela morreu ano passado e me avô dava dinheiro para ele morar sozinho.

- Ele não tem mais ninguém? - Cheryl negou.

- Se você não for a favor, eu vou entender, eu posso comprar um apartamento para ele.

- Vamos conversar com as meninas e se ficar tudo bem para elas ele pode morar aqui.

- Está tudo bem para você? - Ela me encarou.

- Sinceramente? - Ela concordou. - Não acho bom que ele venha morar com a gente.

- Tudo bem. - Cheryl saiu da banheira, acho que havia ficado chateada. - Eu vou arrumar um local para ele.

- Amor... - Sai da banheira também. - Você está chateada? - Ela negou. - De verdade?

- Não estou chateada, entendo seu posicionamento Tee-Tee. - Ela beijou minha testa. - Vou ir beber uma cerveja com a Vero, tudo bem? - Ela saiu do banheiro.

- Você volta hoje?

- Não, vou dormir na casa dela. - Sim, Cheryl havia ficado chateada, era raro ela dormir fora de casa, só fazia isso quando estava chateada com algo em casa ou quando era muito necessário.

Só imaginar o Kit Connor. ❤️

MASKS - ChoniOnde histórias criam vida. Descubra agora