Capítulo 1 - Estalactites surgem no corpo do leão malvado.

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Bem, eu nunca escrevi sobre a minha vida antes sabe? Então me perdoem se eu não souber como começar a contar essa maluquice toda, além disso é uma looonga história sobre como tudo isso começou e acabou.
Vocês já devem saber sobre esse papo de deuses gregos no empire state e nova Iorque, crianças super dotadas iguais o Xmen...Bem. A minha história é sobre isso. Não sobre X-Mens ( infelizmente!!), Mas sobre a vida da pobre Agnes. A propósito, pode me chamar de Agnes Blackburn por enquanto, apesar de esse não ser o meu sobrenome verdadeiro. Eu sei o que está pensando: "Que enrolação! Pula logo pra parte interessante", tudo bem apressadinho, ou apressadinha.
Tudo começou quando eu estava na casa dos meus "pais" adotivos, os Blackburn. Era terça feira e eu estava terminando minha lição de álgebra, enquanto as palavras, números, se embaralhavam na minha visão ( digamos que eu tinha sérios problemas de concentração) e eu sentia uma pontada forte de raiva e frustração. Eu era educada em casa ( Eu sei, bizarro), porque meus pais adotivos não confiavam em mim para frequentar escolas, diziam que eu assustaria as outras crianças ou causaria confusão. Eles basicamente não confiavam em mim para sair de casa, nem confiavam em mim para nada. Naquela dia não fora diferente.
Eu estava sentada no sótão ( que por sinal era meu quarto), o assoalho velho rangia sempre que eu mudava a posição das pernas e entrava pouquíssima luz pelas janelas. Poderia ser um cenário assustador pra qualquer pré adolescente de 13 anos, mas eu já estava acostumada e até que gostava de ficar sozinha no sótão pouco iluminando. Era o único lugar que eu tinha paz e sossego naquela casa, já que os Blackburn viviam me ordenando coisas.
Quando eles chegaram em casa naquela tarde, eu pude ouvir o barulho das chaves do senhor Moore batendo umas nas outras em um tilintar. Aquela era minha parte menos favorita do dia, porque era quando eu tinha de ouvir as mil e uma reclamações sobre eu ser uma grande inútil e preguiçosa, por não ter arrancado uma raiz de erva daninha do jardim.
Eu sei o que estão pensando, "Mas Agnes, por eles adotaram você se te odeiam?" Bem. É complicado, mas a mais ou menos uns 6 anos atrás, quando uma tia distante do Sr.Moore adoeceu ( Uma velha cheia de grana que morava no Upper East side ) decidiu escrever o testamento no nome do sobrinho...com uma condição, é claro, que ele tivesse um herdeiro. A tia do Sr.Moore não tinha filhos e temia que toda a fortuna da família fosse parar na mão do estado, eu sei, papo chato e complicado. Mas foi aí que o bode expiatório 'eu', entrou na história. Eu tinha 7 anos e parecia o alvo perfeito daqueles dois malucos, o resumo é que eles ficaram com a fortuna da tia e eu fiquei com pais adotivos horríveis.
Eles me alimentavam mal, não me deixavam sair de dentro da casa, não me deixam falar com ninguém, nem mexer nas coisas da casa, nem falar no geral...E eu ainda ficava responsável por grande parte das tarefas domésticas. Além de me fazerem sentir culpada por coisas que não eram minha culpa, como da vez em que o chão da sala rachara ao meio. Como uma criança de 11 anos teria rachado o chão? Fala sério.
Seis anos se passaram e eu estava no sótão.
- Agnes, desça aqui agora. - Ouvi chamar a Sra.Blackburn. Revirei os olhos com um suspiro, larguei o caderno perto da minha cama e desce a escadinha de incêndio ( eu mal tinha direito a uma escada de verdade).
Quando cheguei a sala de estar, Sra.Blackburns passava os dedos sobre o móvel do corredor. Ela usava um casaco de tweed, estilo Preppy, da Channel. Estava sempre de salto alto de bico fino e o cabelo preso em um coque firme. Tinha uma expressão enjoada de quem havia comido e não gostado.
- Isso está emporcalhado de poeira, o que foi que eu lhe disse? - A voz ácida e aguda dela ressoou enquanto torcia o nariz. Senti vontade de lhe responder que ela me dissera para fingir que não existo, e pessoas inexistentes não limpam coisas!- Limpe agora.
Balancei a cabeça com o lábio torcido e fui até a cozinha buscar um pano. " Eu já disse Rebecca, essa menina é uma inútil. Devíamos contratar uma empregada" Moore dizia na sala de estar, ele possuía uma voz irritante que era exatamente a voz que se espera de um milionário de meia idade, arrastada e levemente aguda. " E deixá-la o dia inteiro de bobeira? Não, de jeito nenhum. " Fiquei tão zangada, que sentia um calor percorrer meu crânio. Eu sempre procurava manter a postura calma, sempre que eu me descontrolava, coisas péssimas aconteciam. Rachaduras surgiam no chão, nas paredes, as vezes sentia como se tivesse rachaduras no meu cérebro. Sem contar... Bem, deixa pra lá.
Porém, se eu soubesse o que estava prestes a acontecer naquela noite, talvez eu não tivesse reclamado tanto daqueles dois patetas.
Depois de me mandarem para a cama sem jantar e explicarem mais uma vez o tamanho da minha insignificância, a casa estava silenciosa. Apenas o som dos carros na avenida, gatos brigando e os vizinhos com som alto, claro, apenas mais uma noite na bela nova Iorque...
Era nesse momento que eu geralmente descia para fazer uma boquinha quando me deixavam sem jantar. E bem, meu estômago estava roncando depois de tanto tempo sem comer, mas quando eu pus meus pés no chão, ouvi o grito da senhora Blackburn lá em baixo. Senti um arrepio na espinha e meu estômago revirando. No início, achei que bandidos tivessem invadido nossa casa ou coisa parecida. Achei melhor ficar quietinha para que não lembrassem que eu estava lá, até que...
" Não! Ela está lá em cima! Deixe a gente em paz!" Ela gritava desesperada em súplica. Tinha um forte desespero em seu tom de voz.
" Ótimo" pensei " Eles vão me usar de isca contra assaltantes", decidi me esconder dentro do armário. Minhas mãos tremiam bastante, eu sabia que eles eram dois babacas mas não pensei que me usariam de escudo humano assim. E por mais zangada que estivesse, eu estava mais apavorada. Apenas o som da minha respiração acelerada podia ser escutado naquele momento, até que...
A Senhora Blackburn gritou pela última vez em seguida de Moore.
Antes que eu pudesse tentar fugir pela janela, ouvi passos pesados batendo na madeira do sótão. Foi aí que eu tive certeza de que morreria...Eu não tinha feito nada, não tinha visto o mundo, não tinha feito amigos, não tinha nem mesmo assistido todos os filmes de Harry Potter! Ou Star Wars...
Um som de garras arrastava pelo assoalho. Meu coração batia na minha garganta, quando comecei a sentir as rachaduras no meu crânio. Eu estava tão assustada, que isso começara a acontecer como sempre acontecia. Quando eu percebi, as paredes estavam craquelada cheias de aberturas, o chão tremia assim como minhas mãos, um barulho insurdecedor de madeira rachando.
- Apareça, semideusa. Não tenho medo do seu poder!- Uma voz rouca e grave disse, chegando perto de onde eu estava. Quando eu dera uma olhada pela fresta do armário, não acreditei.
Não era uma pessoa, longe disso. Era um animal horrendo, uma espécie de leão gigantesco, com um rabo com formato de ferrão de escorpião, asas de morcego em suas costas peludas e musculosas. " Certo, estou sonhando. Isso é um grande pesadelo" foi o que eu pensei de início, mas a sensação que eu tinha era tão real, que logo eu descartei essa ideia. Apesar de estar tentando me meter medo, ele parecia chocado com a destruição que algo estava causando na casa.
O bicho rondava meu quarto quebrando minhas coisas, ele era tão pesado que o som era estampido e seco no chão de seus passos.
Estava torcendo para que ele não me encontrasse, mas não confiei muito nisso. Ele provavelmente tinha um faro apurado e logo me acharia dentro do armário da maneira mais patética possível.
- Apareça logo e matarei você rapidamente e sem dor. - A cauda de escorpião batia em tudo, quebrando qualquer possibilidade de esconderijo. Foi aí, que ele percebeu a presença do grande guarda-roupas cor de café, fixou seus olhos felinos e afiados no mesmo. - Achei você...
Quanto mais o bicho se aproximava, mais eu apertava meus olhos. Eu estava frita, já devia começar as minhas orações antes de ir para o céu. O bafo quente do animal, ou o que quer que aquela droga fosse, começara a invadir o armário.
Eu deveria estar morta agora.
O chão inteiro desabou debaixo de nós, uma porção de madeiras pesadas bateram no teto do armário. Bati meus cotovelos e pernas com muita força, meu rosto e lábio estavam definitivamente cortados. Estar dentro do armário me salvara da queda e dos escombros, mas não de me ferir, porém naquele momento uma espécie de adrenalina invadiu o meu corpo. Sai de dentro do guarda-roupas depressa, observando a casa toda demolida e o monstro desaparecido debaixo do concreto. Aquele com certeza era o segundo andar, mas não tinha certeza se duraria muito mais, as rachaduras debaixo de mim ficavam cada vez maiores, tornando o chão frágil.
Foi aí que o leão com asas saltou de dentro de uma porção de concreto e gesso, formando uma neblina de poeira branca. Eu estava me tremendo inteira, não de medo dessa vez, de adrenalina e ódio.
- O que você quer aqui!? O que você é!? - Fiquei em posição ereta, encarando os olhos do monstro sem dar para trás. Não sabia de onde vinha tanta coragem assim.
- Vinha atrás do seu cheiro! Ele é impregnante. Agora chega de conversa, garotinha. - Ele se posicionou nas patas da frente pronto para saltar em cima de mim, como aqueles leões do National Geographic. Ele era o leão ( é claro) e eu era o antílope indefeso que seria devorado em rede nacional.
Quando o monstro executou seu salto, minha visão escureceu completamente. Parecia ter saído completamente do ar, um zumbido era a única coisa que eu ouvia. E com um flash, pam! O monstro se encontrava no chão com um baque. Seu corpo estava todo perfurado com estalactites brilhantes, de vidro, estava igual um ouriço do mar, jogado aos meus pés.
Ao meu despertar, eu não conseguia acreditar no que eu estava vendo.

Agnes Morana e os olimpianos Onde histórias criam vida. Descubra agora