Capítulo 2 - Uma voz sinistra me diz para onde ir

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Depois de me recuperar do choque tremendo, me aproximei do cadáver do monstro. A casa tivera parado de rachar ( ou talvez eu tivesse feito parar) felizmente, consegui caminhar em volta do monstro sem mais risco de tudo desabar para o primeiro andar.
Vocês já viram um diamante ao vivo? Não aqueles artificiais, as zircônias, mas diamantes verdadeiros brilhantes, indestrutíveis. Bem, como alguém que convivera muito tempo com pessoas milionárias, eu sabia identificar um diamante verdadeiro quando eu via um, e caramba...Aquelas estalactites, elas eram diamantes reais, diamantes valiosos e reais e enormes. O corpo do monstro estava repleto de diamantes ensaguentados, diamantes do tamanho de espetos de churrasco. Eu não conseguiria mensurar o valor daquelas pedras mesmo que eu tentasse e na verdade, naquele momento, isso não me interessava ( Afinal, tinha um monstro morto bem na minha frente). Eu estava perplexa encarando aqueles vidros belos e prismáticos. Eu fizera aquilo!? Mas como? Como eu pudera ter destruído a casa inteira e ainda por cima invocado facas-diamante para me defender daquele ser... mitológico? Afinal, o que era aquele animal gigante?
Ele definitivamente era real, seu pelo era eriçado e fedorento. Suas asas tinham uma pele grossa, como a de um morcego de fato e seu rabo era asqueroso como de um escorpião gigante. Aquilo só podia ser um Manticore, o monstro híbrido dos mitos gregos. Perseu, o herói filho de Zeus enfrentara um em uma das histórias de suas aventuras. Mas como diabos ele tivera parado ali na minha frente? E tentado me matar, ainda por cima.
E provavelmente matado meus pais adotivos.
"Meus pais adotivos" me lembrei. Desci correndo pelas escadas cheias de entulho, quando cheguei a sala de estar, uma cena terrível estava montada. Não vou descrever com muita precisão o que eu vi naquela noite, mas os dois estavam mortos, definitivamente. E a sensação de estar ali naquele momento, fora terrível. Um frio percorreu meu corpo e minha espinha. Aquilo tudo era uma grande cena de horror e eu não podia ficar ali mais nenhum minuto. Eu recolheria as minhas coisas que não estavam destruídas, mantimentos e alguns dólares e fugiria para bem longe dali. Quando subi ao segundo andar novamente, o corpo do animal sumira. O único rastro de sua existência eram as estalactites de diamante que estavam jogadas no chão.
Essa não é a melhor das idéias tudo bem? Quando uma coisa dessas acontece, o correto é chamar as autoridades, mas como eu iria explicar para eles que um monstro ( Que não estava mais lá) matara meus pais adotivos e que alguma coisa dentro de mim, fez a casa desabar? Isso estava fora de Questão. Eu tinha era que dar o fora da ali o quanto antes. Para onde? Eu não tinha a mínima idéia.

Eu não sabia me localizar pela cidade, nem pegar ônibus ou metrô, já que eu nunca era permitida sair de casa. Além disso eu estava imunda e cheia de poeira, ninguém queria ser solidário e me dar informações, principalmente se tratando das 2 horas da manhã ( uma dica, se você estiver em nova Iorque as 2 da manhã, não peça informação, não fale com ninguém e de preferência ande rápido e mal encarado). A única coisa que fiz a noite inteira foi andar sem rumo pelas ruas com uma maxi bolsa Dior (foi a primeira coisa que eu encontrei na pressa), completamente tonta pelas luzes de semáforo e faróis de carro. Depois de 3 horas andando, comprei um ticket de ônibus para uma ilha no sul, chamada Long Island. Eu tinha visto algumas fotos de Long Island no meu livro de geografia e a única coisa que eu sabia era que ficava perto da praia. Por alguma razão, foi o primeiro lugar que me passou pela cabeça quando pensei em fugir, aquela bela paisagem praiana e tranquila era tudo de que eu precisava.
O vendedor de ticket não pareceu contente de vender uma passagem para uma criança esfarrapada, as 5 horas da manhã. Mas eu agarrei o ticket e fui em direção ao ônibus que estava prestes a sair da rodoviária.
Pude relaxar no banco pela primeira vez depois de horas de caminhada. Sabe? Eu não saia muito, mas também não era uma total ignorante. Eu sabia o que era uma rodoviária e felizmente cheguei até uma em segurança. Se é que dá pra dizer dessa forma.
Larguei minha bolsa do lado do banco, fiquei alerta observando a janela enquanto o ônibus arrancava, tentei permanecer acordada, mas meus olhos pesavam demais. Apaguei completamente.
Tive um sonho esquisito, do tipo que eu costumava ter sempre, mas esse fora ainda pior que os outros. Eu estava em um lugar muito frio e escuro, todo feito com pedras negras e entalhos assustadores. Era uma espécie de palácio. Foi então que eu ouvi uma voz grave e sombria ressoar pelas paredes de maneira muito alta.
" Seu destino é Montauk, criança. 3141, acampamento meio sangue. "
Aquela voz era tão assustadora quanto era familiar. Eu tentava encontrar de onde ela vinha, mas sem sucesso.
- O que é Acampamento meio sangue? Eu não...
Acordei em um sobressalto com alguém cutucando meu ombro, era o motorista. Tínhamos chego ao fim da linha pelo que eu pude perceber. Olhei de um lado para o outro procurando as janelas e percebi que eu tinha dormido demais, deveria ser cerca de 6 horas da manhã.
O motorista pediu para que eu saísse e envergonhada eu peguei minha bolsa e sai do ônibus, ainda mais sem rumo do que no início da jornada. Agora eu pelo menos tinha um lugar para procurar. Pode parecer loucura ( bem, toda essa história pode parecer loucura) mas eu decidi seguir a dica do meu sonho. Decidi ir para Montauk, 3141. Não sabia quem tivera me dado a dica, nem se era uma armadilha ou coisa do tipo. Mas que outras opções eu tinha de qualquer forma?

Comi uma porção de bolachas de pacote e continuei andando pelas calçadas praianas de Long Island. Fazia um dia tão bonito que eu mal lembrava de toda a catástrofe que tinha acontecido. Eu era uma criança de 13 anos que nunca tinha visto a praia, ou sequer tido um dia para relaxar e aproveitar. Apesar de tudo que acontecera horas antes, eu não podia evitar de me sentir livre daquele lugar e daquelas pessoas, principalmente em um lugarzinho tão bacana.

Vocês devem estar pensando que tudo deu certo e que cheguei ao tal acampamento sem problema algum. E se você pensou assim, preciso deixar um aviso antes de seguirmos...No decorrer dessa história NADA nunca será tranquilo. E eu queria ter dado esse aviso para mim mesma naquela hora.

Agnes Morana e os olimpianos Onde histórias criam vida. Descubra agora