Capítulo 5 - O acampamento meio-sangue.

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Eu lembrava de bater a cabeça com muita força em algo duro, logo e a última coisa que eu senti foi a grama roçar meus dedos. Uma luz laranja em borrão estava próxima de mim, eram daquelas tochas medievais, de um arco de madeira com vinhas, e a escritura " Acampamento Meio-sangue, sound". Eu poderia ter dormido, ou poderia estar morta, a segunda opção era com certeza a mais viável diante daquela loucura que tinha acabado de acontecer a mim. Do jeito que eu era sortuda, provavelmente estava morta. Era uma grande surpresa para mim que eu chegara tão longe antes de finalmente sofrer uma queda irreparável.
Porém, eu acordei.
A sensação era a mesma de quando eu tivera Coqueluche no feriado de Natal. Minha garganta parecia seca e irritada, meu corpo inteiro estava doendo tanto que parecia ter sido apedrejado por uma plateia medieval enfurecida. Quando eu abri meus olhos minha visão estava bastante embaçada, mas fui recuperando a mesma aos poucos. Os borrões foram virando figuras geométricas e depois formas mais complexas, enfim enxerguei uma maca, um abajur, um vaso de plantas verdes. Movi minha cabeça de um lado para o outro e senti a pior sensação do mundo ( que me acompanharia em outras aventuras anos depois) eu não tinha a mínima ideia de onde eu estava. Eu não sei se você já desmaiou em algum lugar e se acordou em outro, bem, se sim, deve entende o que eu digo.Fui recuperando minha consciência o suficiente para tentar entender o que tinha acontecido, se eu tinha desmaiado no acampamento, provavelmente estava em um quarto de hospital, mas não um hospital normal, um hospital meio antigo. Geralmente esses acampamentos de verão pra jovens tem uma espécie de enfermaria para caso você seja picado por uma porção de abelhas graças a Erika Chesterfield que empurrou você de cabeça em um ninho, específico, eu sei. Mas aquele lugar era muito diferente das enfermarias de acampamento, era toda de madeira pesada, com amarrações de cordas prendendo as colunas, algo rústico. Também tinha algumas colunas gregas e o mais estranho, um busto de um cara usando uma coroa de louros, uma coisa típica dos museus sabe? Algumas pessoas andando de um lado para o outro com um uniforme muito feio cor de laranja, pareciam até um tipo de guarda de trânsito, mas eu não podia exigir tanto de pessoas que provavelmente cuidaram de mim de graça.  Sentia minha cabeça rodar e meus braços fracos, quando me apoiei nos mesmos senti como se estivesse tendo uma crise de tendinite ou coisa parecida, quando olhei ao redor, alguns garotos e garotas da minha idade estavam transitando ( os caras de camiseta laranja). Pessoas muito bonitas, foi isso que notei primeiro, eram provavelmente os enfermeiros do lugar. Além disso, uma vista do mar e um campo gramado estavam logo diante de mim. Não pude deixar de notar o cheiro fresco de alfazema e o som longínquo de ondas do mar quebrando. Afinal, estávamos em Long Island, a ilha cercada de mar e praias belas.

Quando me dei conta de que eu estava no destino que Phill prometera, devem imaginar como me senti. Perdida e irritada? Não. Claro que não, me senti aliviada. Se tudo aquilo que tinham dito era verdade, então significava que eu não era uma estranha sozinha! Tinham outros estranhos como eu, em algum lugar do mundo e esse lugar era aquele e veja bem, não pareciam fãs de My Chemical Romance, o que era um alívio ainda maior – Brincadeira, é claro–.  O problema é que significava que eu de fato fazia rachaduras e tremores acontecerem e que aquele casal de patetas estava morto por minha causa, porque aquele monstro viera atrás de mim. E apesar de eu odiar eles com todas as minhas forças, eu não queria que morressem – Só as vezes!– e muito menos que morressem porque eu tenho algum tipo de poder das trevas. Não que eu achasse que poderia haver poder mais sombrio e macabro do que o poder deles de manipulação, tortura psicológica e maus tratos com adolescentes em formação, mas vocês bem que sacaram onde eu quero chegar.
Como eu disse, quando eu cheguei ao pé da colina meio-sangue, desmaiei de exaustão ( o que não é uma boa maneira de iniciar as coisas certo?) e só acordei – Pelo que fui informada – 2 dias depois ( era bastante exaustão). Eu não lembrava muito bem como eu tinha subido a colina, também não lembrava o nome de Phill ( o que é vergonhoso já que passamos o total de 2 dias juntos e ele era a primeira pessoa a me tratar com simpatia ) nem o que tinha acontecido a ele, também estava preocupada com o que pudera ter acontecido nesses últimos dois dias dormindo, será que eu ronquei ou babei? Bem, até hoje nunca me disseram.
– Bom dia, senhorita. – Disse um garoto de cabelos loiros e bronzeado dourado. Tinha olhos claros de um tom de verde quase menta, os cabelos curtos e arrumadinhos pro lado. Ele se parecia um pouco com um surfista de revista adolescente, com o estilo todo mas que claramente nunca pisara em uma prancha. Ele provavelmente não tinha mais do que 15 anos, mas parecia tão sonele quanto um médico adulto. – Você devia estar mesmo cansada, já está aqui a 2 dias.
Apertei os meus olhos e eu devia estar com uma careta muito feia de dor, porque como eu disse, meus braços estavam moles como espaguetes. Mas me sentei para encarar o menino enquanto esfregava minha própria cabeça. Eu tinha quase certeza que tinha quebrado meu braço na subida da colina quando fui atacada por aquele abutre voador com cara de mulher, mas meu braço parecia perfeito. E eu também não tinha lá certeza de nada depois de bater a cabeça tão forte, então decidi fingir que estava tudo normal.
– Sei que deve ouvir muito essa, mas quem é você? – Esfreguei a minha cabeça dolorida mais um pouco. Meu estômago estava muito embrulhado mas ao mesmo tempo faminto. E coincidentemente eu estava sentindo cheiro de sorvete de cheesecake de frutas vermelhas logo ali, pertinho de mim, mas não via cheesecake nenhum, só um copo com bebida dourada.
Tirando o foco do meu estômago, eu finalmente percebi a falta de alguém, procurei meu amiguinho sátiro, mas ele não estava em lugar algum. Eu sabia que ele pelo menos morava naquele lugar, então devia estar bem. Ou Pelo menos bem melhor do que eu estava.
– Eu espero que esse seja o acampamento pra semideuses e não uma armadilha. – Minha voz soou tão feia que senti vontade de ficar calada para sempre. Eu não conseguia parar de girar meus olhos por toda a parte, aquele lugar inteiro era tão fascinante. A luz do sol que batia perto da minha cama, o céu azul e as árvores eram a coisa mais linda que eu vira em tempos, pode parecer meio sentimental da minha parte – Se acostume, sou bastante – mas aquele lugar já parecia mais meu lar que qualquer lugar que eu já pisara na vida. Se fosse mesmo o acampamento meio-sangue, então eu já estava completamente satisfeita.
– Eu sou o Duncan. Sou enfermeiro daqui. E sim. Esse é o acampamento – Duncan sorriu e sentou em um banquinho. Ele também estava usando uma camiseta laranja, mas tinha um crachá branco grudado nela, aonde dizia " Enfermeiro sênior" em letras bronze. Ele também tinha uma corrente com um pingente de lira dourada, pendurada. Pra vocês que não sabem o que é uma lira ( e com razão, é um instrumento pouco interessante ) é uma arpa pequena. – Pediram para que eu lhe desse as orientações. Seu nome é deve ser Agnes né?
Ele puxou um panfleto do bolso da calça.
– Ahn... É? – Franzi a minha testa encarando o menino confusa.
– Bem, é sim. Você perdeu a memória ou... – Ele começou a fuçar alguns papéis em cima da mesa de cabeceira.
Dei uma risadinha travessa.
– É sim. Eu tô só brincando. Pra quebrar o gelo. Prazer, Duncan. Sou Agnes sim. – Estendi meu braço fraco em direção ao Duncan, que fez uma expressão de surpresa e apertou minha mão. Senti aquela vontade constrangedora de continuar rindo da piada depois que ela já passou, mas me mantive. Não podia irritar a primeira pessoa com quem eu tivera contato naquele lugar. – Pode me mostrar onde é a casa grande? Eu preciso falar com um homem-cavalo chamado Quiron. Pelo menos é o que eu sei.

Agnes Morana e os olimpianos Onde histórias criam vida. Descubra agora