Capítulo 7 - Faço amizade com um ladrão de 14 anos.

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A maioria das pessoas vai – Com muita sorte e principalmente aquelas que não semideusas – ter esse tipo de experiência de quase morte poucas vezes ou até nenhuma em toda a vida e eu francamente, gostaria de poder dizer o mesmo sobre mim. Quando meus pulmões se encontraram completamente carentes de oxigênio e eu tive plena certeza de que estava morrendo, mas como nenhuma certeza minha jamais é confirmada, eu acordei. Acordei daquele jeito que vocês devem imaginar, assustada, molhada e cercada de gente.
Eu estava novamente na enfermaria do acampamento, deitada sob uma maca de couro, quando meus olhos abriram tomei um susto. Ergui meu corpo depressa vomitando muita água e puxando o ar com muita força para dentro dos meus pulmões.
– Deuses, achei que você tinha matado ela. – Uma garota de cabelos castanhos estava olhando para mim com uma expressão preocupada, lançou um olhar de censura para a minha companheira de canoagem. Quando me lembrei que estávamos juntas em uma canoa quando tudo aconteceu, senti minhas bochechas esquentarem de tanta vergonha. – Que bom que acordou, novata. Se mais um campista tivesse morrido na canoagem, nós íamos pedir para que a atividade fosse banida.
Espera aí, alguém já havia morrido no lago? Caramba, quantas pessoas precisavam morrer para eles decidirem que era uma má ideia colocar gente dentro daquela coisa?
– Eu não sei o que houve, estávamos na boa e a canoa virou de repente. – Disse Avery um pouco constrangida, talvez ela tivesse decidido finalmente que eu estava falando a verdade sobre sentir vibrações esquisitas naquela água. – De qualquer maneira, que bom que está bem.
Ela suspirou com uma expressão de poucos amigos, parecia achar que a culpa era minha pelo ocorrido. Seus cabelos trançados estavam encharcados assim como suas roupas. Eu não achava que a culpa era totalmente minha, eu tinha avisado que era uma péssima ideia me colocar naquela canoa, tinha avisado sobre a vibração esquisita, mas aquela garotinha se achava mais esperta e sabichona do que eu, o que tudo bem. As pessoas tinham o péssimo costume de achar que eu era burra, só porque eu sou um pouquinho desatenta.
– Eu tô legal, já posso sair. – Sentei-me na maca e pus os meus pés no chão. Quando ergui meus olhos o horizonte girou um pouco.
– Não sei se é uma boa, você deveria fazer uns exames e...– Disse a menina enfermeira, ela tinha olhos de bolitas negras. Parece com uma enfermeira adulta, zangada, severa. Todo mundo naquele lugar parecia ser mais velho do que realmente era, depois eu fui descobrir que isso se dava por nós termos que crescer e aprender a cuidar de nós mesmos muito cedo.
Avery interrompeu.
– Deixa ela ir logo, não seja dramática. – Ela cruzou os braços e saiu da enfermaria.
A enfermeira balançou a cabeça negativamente de cara fechada. Deu de ombros para mim como se estivesse libertando um passarinho da gaiola. Sendo assim, decidi ver o que o acampamento tinha para me mostrar. E achei pertinente passar no chalé onde eu estava alojada e talvez tomar uma ducha já que eu estava encharcada. No meio do caminho de volta, fiquei me perguntando se era uma boa ideia contar ao diretor de atividades sobre o que eu tinha sentido lá no lago. Também tinha a ocasião em que eu sonhara com aquela voz profunda enquanto eu viajava de ônibus. Mas no fundo, eu não confiava suficientemente em ninguém para contar aquelas coisas, talvez só em Phill, mas ele salvara minha vida e me trouxera para aquele lugar seguro, ele merecia minha confiança.
De qualquer forma achei melhor não bancar a esquisita ainda mais do que eu já estava sendo.

O chalé não estava muito cheio aquela hora do dia, todo mundo estava lá fora fazendo sei-lá-o-quê. O que era até que muito bom, eu poderia ficar ali mesmo, descansando as ideias ou talvez procurar um lugar onde tivessem livros – Eu não lia muito, já que eu tinha sérios problemas com palavras embaralhando na minha vista – era um bom momento para começar uma vida nova de garota intelectual que lia 300 livros por mês. De qualquer forma, peguei uma muda de roupas secas junto daquela camiseta laranja terrível. E eu não era muito boa em reparar nas coisas, mas dessa vez reparei que tinha um garotinho no mesmo chalé que eu, já tinha notado que ele não era de falar muito, e naquela tarde no entanto, ele não fazia nada de especial, ele geralmente ficava sentado nos cantos em silêncio. Eu já estava no acampamento a duas semanas e tinha notado ele, nos jantares e intervalos, ele costumava sentar longe de todo mundo, também não falava muito e estava sempre zangado. As vezes uma garotinha ( devia ter uns 6 anos ) ficava perto dele também, mas assim que ela descobriu ser filha de Atena, mudou de chalé para o lugar branco e engomadinho do chalé 6 – O que foi um intervalo de tempo bem rápido, talvez ela já soubesse..–. Eu sei que disse que não reparo muito nas coisas e acabei de descrever uma porção de coisas, mas veja bem, era tudo muito novo para mim. Difícil era não perceber pessoas como ele.
No fim, nós dois dividíamos o chalé 11 naquele momento  – Digo “naquele momento” porque eu não achava realmente que era filha do deus Hermes –. A minha paternidade olimpiana ainda não tinha sido mostrada ( e assim se perdurou por um longo tempo, mas isso é outra história), então eu e o menino acabamos ficando no chalé 11 mais um tempo.E mesmo depois de estar abandonada ali a tanto tempo, eu sinceramente não conseguia ficar tão zangada quanto eu deveria, apesar de não ter sido reclamada, ser horrível em todas as atividades do acampamento e de quebra ainda não ter nenhum amigo, eu estava vivendo melhor do que nunca. Pensei que se eu que tinha uma vida horrível antes dali e estava bem, o que poderia ter acontecido de tão grave para o garoto continuar tão chateado mesmo depois de 2 semanas no acampamento?

Agnes Morana e os olimpianos Onde histórias criam vida. Descubra agora