Capítulo 6 - A água me odeia.

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Nem o "Bug do milênio" tinha me preparado para aquilo. Não que o acampamento não fosse um lugar lindo e maneiro, mas eu era a última pessoa do mundo que se adaptava a natureza. Falando sério, eu era uma garotinha mais industrial e da cidade e não só porque eu realmente detestava ir para o mato, mas também porque eu matava todas as plantas que eu tocava. Todas as vezes que meus pais adotivos me pediram para cuidar das plantas, elas simplesmente murchavam instantâneamente, ficavam marrons e sem vida em menos de segundos. Um lugar onde eu estava cercada de coisas verdes e árvores não era exatamente o ideal levando em conta todas essas circunstâncias, mas era o único lugar que eu tinha para morar agora. Eu precisava ser mente aberta com tudo.
Assim que consegui me acalmar do completo surto eminente que me estava acometendo, Philoctetes, meu amigo bode me mostrou o resto do lugar inteiro. Me guiou em direção aos 12 chalés que ficavam em formato de U e era aonde os campistas dormiam ( determinados por seus pais Olimpianos, é claro). Deixe que as divas do Olimpo saibam disso, mas eu particularmente não gostei de chalé algum, todos eram demais para mim. O chalé 1 ( chalé do deus dos raios, Zeus) era demasiado claro, tinha janelas demais, era grande e frio demais. O chalé 2 ( da esposa dele, Hera) era tão sem graça que nem vou perder tempo falando sobre ele, já o 3, bem, esse era o chalé de Poseidon, deus dos mares e tal. Não sei se fui clara sobre não me dar bem com a natureza, mas isso inclui os mares também, então, hã-hã, também me parece um pouco clichê escolher esse. Agora vem os mais interessantes, já que esses eram cheios de gente. O primeiro – na verdade, o quarto – era o chalé de Deméter, deusa dos grãos, das colheitas, das pessoas naturebas e da comida saudavél. Sua faixada era em tons de verde, bege e marrom, justamente como as plantas e o solo mesmo. As crianças – Na verdade eram só 4 – eram de tons de pele bronzeados, olhos castanhos, roupas simplórias e cabelos cacheados. Uma das menininhas estava sentada diante de um vaso de girassóis. Era tudo tão tranquilo que quase tive vontade de sentar em uma cadeira e apreciar o crescimento da grama...Brincadeira.
Se vocês estão se sentindo relaxados com o chalé de Deméter...Parem. Porque agora vou falar do chalé menos relaxante desse lugar. Chalé 5, o chalé de Ares. Ele já começa sendo vermelho, de sangue, de ira, vermelho de fluidos dos seus inimigos. O chalé de Ares tinha uma cabeça empalhada de um porco selvagem e não, não estou falando do Pumba de Rei Leão. Estou falando daqueles Javalís medonhos, zangados com olhos de fogo prontos para devorar o próximo bocó que aparecer, ele era o animal patrono de Ares ( e até consigo ver semelhança) então ele ficava em cima da emenda do telhado do chalé, ''tomando conta'' dos filhos dele. Falando neles, eram todos fortes, ou gorduchos, ou ambos. Estavam sempre zangados, eram rudes e mal educados, gostavam de andar por aí zoando os outros como excelentes valentões, e eu não gosto deles. Nesse diário você vai ficar sabendo de uma porção de vezes em que eles me fizeram maldades.
O chalé 6, chalé de Atena merece uma atençãozinha mais para frente da minha história, então fiquem calmos, ainda vou faalr sobre o lugar.
O chalé 7 era o chalé do irmãozão de Ártemis ( uma das razões para ela ter decidido odiar homens) e o chalé desse cara fala muito sobre ele. Era no geral feito de madeira clara, delicada, cheio de detalhes em ouro. Extremamente extravagante e chamativo, gostava de ser o chalé mais brilhante do acampamento inteiro...Sabem de quem estou falando certo? Apolo, o deus purpurina do sol e tudo o mais. Os filhos dele em maioria coisinhas cheias de charme, bronzeados, com sorrisos bonitos, cabelos macios e brilhantes. Ele estavam envolvidos na enfermaria do lugar e nas cantorias em volta da fogueira, eles eram encantadores na verdade, durante meu passeio quase não pude evitar ficar olhando para lá.
O chalé ao lado dele ficava vazio, era o chalé da deusa donzela Ártemis. Era muito bonito em mármore branco e com detalhes em azul. Tinha uma grande meia-lua logo na porta, era até que bem convidativo, mas ninguém tinha permissão para entrar, só as caçadoras de Ártemis, mas essa é outra história.
O chalé 9 era bacana, era o chalé do deus Hefesto. Ele comandava as forjas e o fogo, então seu chalé era aconchegante mas ainda assim utilitário. Era feito em sua maior parte em metal e madeira, não era tão charmoso quanto o de Deméter, ou tão extravagante quanto de Apolo, mas era legal. Os meninos e meninas pareciam fortes para mexer nas forjas, tinham rostos amigavéis e pareciam ser muito prestativos e atarefados andando de um lado para o outro.
Eu poderia facilmente deixar esse chalé de lado, o chalé 10, da deusa Afrodite. Sabe? Não gosto e nem nunca gostei da figura dela. E caramba, os deuses sabem o tanto que essa mulher aprontou para mim durante toda a história, mas vamos lá. O chalé era extravagante também, cheio de flores e adornos para tentar embelezar por fora o que estava podre por dentro...quer dizer, continuando... As crianças dela eram bonitas ( duh), meio metidas ( DUH) e bem, não quero tomar tanto espaço disso falando dessas coisinhas sem-graça.
O chalé 11 trataremos no próximo parágrafo, então deixemos ele de lado um instante. Vamos tratar aqui sobre o chalé do homenzinho barrigudo com péssimo gosto para camisas, Dionísio. Era um chale adornado de madeira escura, com vinhas e esculturas que lembravam uvas por toda a parte. Ele tinha apena dois filho ( Com sua falta de charme não me admira), dois garotinhos de bochechas cor-de-rosa que deviam ter no máximo 6 anos. Eram pequenos bonachões fofinhos e não tenho mais nada para acrescentar.
Na minha primeira semana, fui enviada para o chalé 11. Ele era o chalé em homenagem ao deus dos viajantes Hermes, e por ser o deus de tal ele recebia todos os campistas novos que chegavam – Pelo menos essa era a regra – e levando em conta que geralmente os deuses não reclamavam (que é como chamamos quando um deus avisa ao mundo que é seu pai ou mãe) seus filhos muito depressa, aquele chalé era lotado de jovens. Mas eu não tinha do que reclamar, o quartinho que eu costumava morar era no sótão escuro e empoeirado da nossa antiga casa, morar em um chalé velho com outras crianças não parecia ser a pior coisa. Mesmo quando ele estava abarrotado de bagunça, barulhos e tinha uma fila extensa para o banheiro toda a vez. Além disso, por serem tão desorganizados o chalé de Hermes sempre perdia a competição de assiduidade do acampamento onde você ganhava água quente no chuveiro como prêmio.
Eu ficava no canto do chalé, na área leste encostada em uma parede com meu colchonete e uma mochila com artigos de toalete. Era a parte menos iluminada mas também a menos úmida do lugar, então no geral eu estava muito bem. Minha cama era improvisada e não era exatamente um hotel 5 estrelas, minhas coisas ficavam a mercê da honestidade dos filhos de Hermes ( que cá entre nós, não era muito prestigiada) para não ser roubada. Eu sei que parece uma situação terrível, mas logo eu seria reclamada e teria um chalé mais legal, pelo menos eu tinha esperança nisso. Logo eu faria novos amigos e não me sentiria tão sozinha ou tão deslocada como eu estava me sentindo naquelas primeiras semanas.
Eu sempre fui péssima com atividades físicas e vocês devem saber que pros gregos o culto ao corpo e ao bom estado físico era super importante, por isso tive que me inscrever em algumas. Também tinha o fato de que nós precisávamos treinar para nós defenderemos de monstros quando saíssemos em missões ( umas atividades designadas para coisas variadas, tipo os 12 trabalhos de Hércules sabe?). Uma pena que minha coordenação motora era tão ruim.
Naquele dia específico, eu tinha uma aula de canoagem. Eu devia ter acreditado nos meus instintos e não ter aceitado fazer parte daquilo.
– Tudo bem, pessoal. Se alinhem perto da borda. Vou escolher as duplas – Disse uma menina de tranças longas pretas. Ela estava usando a camiseta do acampamento e era a líder do chalé 6. Ela possuía um apito prateado pendurado no peito. – Novata, você vem comigo.
Balancei a cabeça positivamente ainda mais nervosa do que no início. Aquilo significava que uma campista mais velha iria me assistir controlar uma canoa, iria me pressionar e pior, se eu virasse o barco, ela se afogaria junto comigo. Tinha muito mais sob minha proteção do que eu gostaria – Foi nesse momento que eu decidi que não era a garota da canoagem –  mas já era tarde demais. Eu tinha decidido me inscrever naquilo e agora não podia acabar passando vergonha na frente de todos os campistas.
Eunão sei em qual momento exato eu tive certeza de que tudo daria errado, talves entre o momento em que não havia um colete salva-vida ou quando eu deixei os remos cairem no lago, de qualquer forma eu estava certa.
Entrei na canoa com meus joelhos trêmulos me perguntando que espécie de aposta eu tinha perdido para me submeter a aquela situação.
– Anda, novata. O barco não morde. –  Disse a campista impaciente enquanto enfiava os remos nas conexões da canoa. Quando consegui entrar no barco, tropecei no remo que jogou agua no relógio "Casio" prateado no pulso dela. A menina esfregou rapidamente na camisa laranja. –  Caramba, eu nunca vi alguém com tanto medo de água na vida.
–  Deus, me desculpe. Eu nunca fiz isso antes –  Cocei a minha testa me agarrando com força no fundo da canoa de madeira, que estava bambaleando na água de maneira assustadora.
A garota, que se chamava Avery, lançou-me um olhar com quem diria "É mesmo? Jamais imaginei que você nunca subiu em uma canoa, desajeitada", eu apenas engoli em seco e torci para que aquela brincadeira acabasse logo. Eu não sei explicar qual o problema comigo e com a água. Somos só completamete incompativéis, como água e óleo, não conseguimos nos unir. Quando eu estava no acampamento de verão das irmãs freiras do orfanato onde eu vivia com 6 anos, fui colocada para buscar água do lago para o banho. Eu não tenho a lembrança clara do que aconteceu, mas jurei ter visto uma mão trasnparente feita de água puxar o meu braço com força para dentro. Se a Srta.Bunick não tivesse aparecido, talvez eu tivesse me afogado, pois apareci dentro do lago como pura mágica. O mesmo acontecia com lugares altos e o céu especificamente, qualquer coisa envolvendo altura e Agnes era a solução perfeita para o caos. Era estranho, principalmente se levarmos em conta que a água é comandada pelo deus Poseidon e o céu pelo seu irmão Zeus...Por que será que eles simplesmente me odiavam? Éramos tipo família certo? Afinal, todos os olimpianos são familiares em algum grau o que é...nojento.
Eu e minha parceira de canoagem estavámos indo até que muito bem, mas eu ainda sentia uma vibração estranha vindo do lago. Era como um letreiro neon me mandando voltar para a superfície e eu não estava dando-lhe atenção.
–  Isso vai durar muito? –  Perguntei. Avery revirou os olhos.
–  Você não faz o tipo atleta né? – Ela suspirou.
–  Não, mas não é isso. Tem algo estranho com o lago.
–  O que? Você fala com o lago? – Ea franziu a testa, mas não de maneira irônica, parecia curiosa.
–  Não, não. Esquece, é só intuição. – Só tive tempo de soltar um longo suspiro antes de sentir um baque muito forte no casco do barco. A canoa virou com força como uma roleta, ficando sob nós duas. O peso do casco de madeira me fez ser puxada para dentro do lago – Se bem, que a sensação era como ser puxada por um chicote –  e fui afundando cada vez mais rápido. A luz da superficie do lago estava sumindo de pouco a pouco assim como meu oxigênio. Mais uma vez senti como se a minha vida estivesse por um fio, eu estava sufocando e afundando cada vez mais e não tinha solução de ser salva dessa vez. Meu ar estava no limite e vi minha visão escurecer cada vez mais...

Agnes Morana e os olimpianos Onde histórias criam vida. Descubra agora