Capítulo 4 - Queda livre.

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O garoto acabou por ser Phill ( Na verdade o nome dele era Grego e por favor, não me peçam para escrever), eu não entendi muito bem o que ele quis dizer sobre " ser um sátiro protetor do acampamento", mas o fato de ele me conhecer e saber onde o acampamento ficava me fez refletir se eu deveria mesmo segui-lo. Não é todo dia que uma pessoa que não conhecemos sabe exatamente quem somos, onde morávamos e até pra onde estamos indo, pra mim parecia algo bastante misterioso e talvez...mágico. Eu precisava chegar até esse tal lugar, talvez eles tivessem explicações sobre o que eu era, quem era aquele monstro peludo ou aquelas meninas malucas. Mas depois de esbarrar em tantos "seres" eu não sabia mais em quem confiar ou se no mínimo podia confiar em alguém. Por isso, não se espantem com a cena ridícula a seguir.
– Por favor, senhorita. Abaixe essa faca! Eu não devoro semideuses, sou vegetariano! – O menino de sardinhas e cabelo ruivo tentava inutilmente se explicar. Ele estava suando um pouco de nervoso enquanto tinha as mãos erguidas em defesa. – Estou dizendo, sou Phill, um sátiro, não vim machucar você.
Eu ainda tinha os olhos estaladamente fixos no garoto, como uma completa maluca. Estava começando a sentir pena dele, não podia negar, mas segui com a faca na altura de seu queixo.
– Como  conseguiu uma fotografia minha? – Ergui a sobrancelha suspeita para ele. Vi o rosto do menino se enrubecer. Eu apertava os olhos tentando parecer intimidadora como uma policial malvada dos seriados antigos, bem, eu provavelmente não era assim tão ameaçadora. –  Desembucha, cara.
– Não é o que está pensando! Essa foto chegou no acampamento meio-sangue junto de uma carta que o Quiron acredita ser do seu pai, ou mãe olimpiano. Só dizia que devíamos achá-la e protegê-la. – Ele coçou os cachos ruivos balançando a cabeça positivamente, gaguejava bastante no meio da fala. – Por favor, acredite. Precisamos sair daqui logo, detesto esse cheiro de hambúrguer...
– Como me achou? – Eu baixei a faca ainda de olho no garoto. – Eu estava perdida...
– Com todo respeito, mas seu odor de meio-sangue é bastante forte. Não me admira que tenha sido atacada recentemente. – Tive o instinto de cheirar minha própria camiseta. Será que eu estava assim tão fedorenta? Mas caramba, eu tinha corrido e pego tanto sol, eu merecia um adendo. O garoto parecia bastante convincente na minha visão, o que poderia não significar nada e só que eu era bastante burra para acreditar em qualquer um. Mas novamente, eu era uma criança de 13 anos perdida no litoral nova iorquino, sem julgamentos, tá legal?
– Ah ta, saquei. Desculpe então – Baixei minha faca.
Nós saímos de perto das garotas infernais, dos turistas de camisas bregas e dos piores e mais assustadores vilões: Os Hambúrgueres. Acabamos fazendo nossa parada em um floresta próxima onde poderíamos dormir e assar...nozes? Bem, eu não sabia do que era composta a dieta de um vegetariano, meus pais adotivos eram bem carnívoros. Enquanto pegávamos lenha para a fogueira, Phill me contava tudo sobre o acampamento meio-sangue. Meus olhos brilhavam de deslumbre enquanto ele falava sobre os deuses gregos e crianças especiais, sobre as ninfas e todas as coisas incríveis que pareciam me esperar naquele lugar. Eu parecia mesmo uma criancinha impressionada enquanto ele falava, e eu era mesmo.  Depois de tantas histórias sobre o acampamento, acabei pegando no sono mais uma vez quando menos percebi.
Dessa vez meu sonho foi diferente, eu estava dentro de uma casa feita de algum material escuro e pedregoso, era muito frio lá dentro e eu mal conseguia enxergar alguma coisa.Talvez alguns rabiscos coloridos, umas estrelas penduradas que sinceramente não combinavqm com a estética sombria, alguém parecia estar tentando tornar aquele buraco do inferno mais aconchegante. Tinha uma porta enorme em frente a mim, a maçaneta era de um roxo profundo como de uma ametista lapidada e ela chamava meus olhos tão reluzente. O lado de fora não parecia ser exatamente convidativo porque eu conseguia ouvir umas vozes um pouco secas vindo de lá, como de senhoras de 80 anos que passaram muitos dias em um deserto. E pelas janelas eu conseguia enxergar uma certa iluminação azulada nada interessante.
– Eu sei que você quer ver, você quer saber não é, Morana? Não seja tímida, meu bem. – A voz me convidava, mesmo que aquele não fosse meu nome de verdade, eu sabia que ela estava me convidando para espiar alguma coisa e eu estava muito interessada na coisa, agarrei a maçaneta fria instintivamente sem muitas delongas. Minha mente dizia não mas meu corpo dizia: Vamos logo, dê uma fofocada.
– Ela não consegue se conter diante a curiosidade sobre a morte. – Uma segunda voz dera uma risadinha eufórica, quase engasgada.
– Venha, venha, criança. Veja o que ele causou para si mesmo. Não é divertido?– Uma terceira voz velha surgiu do escuro, ela dizia com um cinismo seco e sem vontade. Senti meu peito estremecer quando ela disse "Ele", eu não sabia quem era, mas minhas mãos tremiam por tal.
Eu abri a porta e me deparei com a imagem mais horrorosa que seria possível alguém ver, três velhas. Velhas feias, acabadas, com aparências putrefadas, se assemelhavam um pouco a aranhas caranguejeiras com suas peles cheias de pêlos espetados, seus olhos já mortos, suas unhas longas como garras de prata.  Elas pisavam em um chão negro que se assemelhava a rochas vulcânicas irregulares  e atrás delas uma paisagem escura, um lago ainda mais que parecia conter todos os segredos do mundo, ele dançava como chamas azuis correndo, eu não podia enxergar ele em detalhes. So faltava uma caixa de som surgir do nada e começar a ressoar System Of a Down e eu com certeza estaria em uma cena de filme de terror perfeita. Ela agarravam um fio engraçado, brilhante parecendo um fio de cobre muito raro, elas não pareciam ter muito cuidado com ele apesar de ele se assemelhar meio frágil. Eu fiz uma cara feia para elas, irritadiça.
– O que vocês querem agora, Parcas? – Eu falei, mas não era eu escolhendo minhas palavras. – Não estou pra papo, sacaram?
Caramba, como eu conseguia falar assim tão cheia de poder e sem medo daquelas coisas?
Elas arreganharam dentes podres para mim, pareciam muito contentes de me contar a boa nova, a boa nova de alguma coisa muito horível que eu sentia que estava para acontecer. Mas elas não se abalaram muito com minha cara feia, na verdade aquilo agradou muito aquelas velhas.
– Olha que pobre fiozinho, tão fino, prestes a arrebentar. – Disse o primeiro monstro com ironia, tinha quase satisfação em sua voz medonha. Senti uma raiva lacerar em meu peito, quis arrancar o fio brilhante daquela velha nojenta, mas me contive a lançar-lhe um olhar de desgosto para ela, analisando-a de cima para baixo.
– Vocês não me balançam com esse papo furado. Ele vai morrer, querem que eu faça o que? Chore? Sumam da minha frente. – Disse impaciente quase alterada, mas eu queria chorar sim, mas não o fiz. – Eu já entendi o enigma. Que genial, vocês já foram melhores.
Pensei que fossem cortar o fio na minha frente, mas não fizeram isso, apenas guardaram o cordão brilhante de volta no tear. Ele guardava muitos fios em seu entorno, incluindo um que eu sabia que era meu. Encarei elas como se fossem minhas servas e eu a grande mestre, movi minhas mãos para que elas sumissem no meio da escuridão e acordei.
Acordei com uma lágrima fina no meu olho esquerdo, estava deitada sob a grama com muita dor nas minhas costas de dormir em um lugar tão duro, eu já tinha dormido no chão algumas vezes mas nenhuma tinha sido tão terrível. Phill ainda dormia tranquilamente, ele tinha deixado suas pernas de bode a mostra durante a noite ( o que era esquisito de se olhar, mas se deixava ele mais confortável) e estava todo enrolado como um bezerrinho. Sentei-me na grama e fiquei olhando para a frente por alguns minutos, ainda sentindo as emoções do meu sonho, tentando entender e absorver tudo aquilo que tinha acontecido.  Era só um sonho, claro, mas ainda me deixava um pouco atordoada aquelas velhas estranhas, aquele fio...Talvez tudo que eu tinha passado tivesse me deixado muito impressionada ou sei lá. Eu podia sentir alguns efeito da paranoia já que eu andava muito alerta e até tinha confundido um guarda-sol com um monstro mas não achei que afetaria meu sono também.
– Phill? – Cutuquei meu amigo bode. – Vamos lá, já amanheceu.
Ele resmungou que precisava de mais cinco minutos de sono, mas eu insisti. Aquele lugar não parecia nada seguro para mim apesar de ser uma campina muito bonitinha. Phill se acordou em um sobressalto gritando “Tarde!”, ele estava aos berros mesmo, foi assustador.
– Hey, hey coelho branco da Alice, relaxa. – Dei um tapinha das costas dele e ele se sentou recobrando a consciência. – Você está pior que eu, cara.
– Desculpe, tive um sonho esquisito com um relógio gigante. – Ele admitiu esfregando a cabeça e vestindo sua touca para esconder os chifrinhos. Também vestiu sua calça falsa de humano para que não fossemos vistos por aí.  – Você dormiu bem? Estamos pertinho do Acampamento agora.
– É, mais ou menos, sonhei com três velhas esquisitas e elas pretendiam cortar um fio ou sei lá. – Franzi a testa sem muitas preocupações. Phill arregalou os olhos completamente apavorado, quase pude ver uma gota de suor frio escorrer por seu rosto.
– Você sonhou com as parcas?! – Ele gaguejou. – E o fio era de quem? Não era meu né?
– Como sabe que o nome delas é esse? – Ergui as sobrancelhas chocada, era como se ele tivesse captado toda a ideia do sonho em poucas palavras – Não sei de quem era o fio, só que era de alguém importante pra mim. Fiquei abalada.
Phill suspirou aliviado, pude ver a calma transparecer em seu rosto novamente. Não no meu, é claro, eu não estava entendendo nada.
– Agnes, os sonhos dos semideuses sempre significam algo. Não quer dizer que seja tão ao pé da letra como você pensa, mas também significa algo. – Ele disse seriamente.
– Mas eu nem tenho alguém que seja assim tão importante. – Pensei, refletindo que de fato eu estava sozinha no mundo desde que eu me lembrava. Não vinha na minha mente um nome sequer de alguém que eu quisesse proteger ou talvez que eu ficasse muito preocupada sobre seu fio...ou vida.
– Ainda. Pode ser uma visão futura.
Meu estomago embrulhou, aquilo não melhorava muito a situação. Legal, eu não tinha ninguém que ia morrer ainda mas aparentemente dali um tempo...
– Mas não esquenta muito com isso agora. – Dizia Phill enquanto nos caminhávamos por uma estrada cheia de árvores. Meus pés doíam demais como se estivessem queimando, eu estava com sede e muito cansada. Minha vida não era das melhores em casa com meus pais adotivos, mas aquilo sim era o verdadeiro inferno. O sol estava a pino aquela hora e nossos estômagos roncando, mas Phill prometera que estávamos perto e que eu só precisava andar mais um pouco.
– O acampamento fica por aqui, na Colina Meio-sangue, você vai adorar viver aqui. – Phill parecia muito alegre de voltar para casa e eu nervosa. – É o lugar mais fascinante do mundo depois do Monte Olimpo, claro. Temos comida a vontade, um anfiteatro enorme e muito natureza, que é a melhor parte!
– Parece bem grandioso, Phill. E como são os... sabe, adolescentes ? – Cocei a cabeça casualmente. Eu tinha tido poucas experiências com adolescentes e nenhuma era boa. Principalmente os adolescentes do acampamento de verão que eu frequentei quando era mais nova. Esperava que os adolescentes semideuses fossem menos ariscos.
– Ah, bem...Eles são bem adolescentes sabe? Eles namoricam, fazem fofoca e brigam as vezes. Mas também são bacanas. – Disse Phill por fim tentando me acalmar, já que eu fizera uma expressão muito preocupada. – Não se preocupa, vão gostar de você. Eu já gosto e mal te conheço.
– Obrigada, Phill, também gosto de você. – Dei um sorriso amigável enquanto puxava minha mochila para cima das costas. Aquela altura do campeonato não existiam muitas maneiras de carregar ela sem sentir dor na lombar, mas felizmente estávamos perto. Perto do meu novo lar.
Fiquei criando várias imagens maneiras de como eu pensava que o lugar poderia ser. Imaginei belas vistas para o mar, uma arquitetura grega antiga e chique, pessoas alegres correndo para todos os lados. Várias casas que comportassem várias pessoas e muita natureza em volta ( como enfatizara meu amigo Sátiro. ) É, parecia um lar mesmo, e eu esperava que fosse. Não tinha mais para onde ir, não podia me manter naquela casa e ela também estava em pedaços. Eu só tinha 13 anos e nem trabalhar eu podia e voltar para um orfanato não parecia uma ideia muito convidativa se querem saber minha opinião.
– Tá sentindo esse tremor? – Franzi a testa para Phill. O chão vibrava sob os meus pés como um telefone-celular em ligação, eu não via nada balançando, nem mesmo meus cabelos, mas meus pés sentiam aquela tormenta no chão.
– Que tremor? Não sinto nada. – Phill deu de ombros numa boa.
– Deve ser só impressão minha. Meus pés doem então talvez seja isso. – Tentei pensar positivo, mas a realidade é que o tremor estava aumentando gradativamente, como se o responsável estivesse cada vez mais perto.
Andamos por mais uns 10 minutos enquanto eu sentia aquele tremor no chão, sob os meus pés. Eu já tinha me acostumado a sensação então nem dei mais bola. Porém, o tremor aumentou abruptamente. A terra não tremia, agora ela balançava como uma toalha de piquenique sendo batida no ar. Estávamos tentando parar em pé enquanto eu olhei para trás tentando encontrar o responsável.
– Vai me dizer que não está sentindo essa agora!? – Eu disse desesperada.
– CORRE! – O menino-bode me agarrou pelo braço e saiu em disparada. Eu corri junto com ele, mas não me contive de lançar um olhar para trás enquanto fazia isso. E aí eu enxerguei o responsável pelo tremor, um homem, careca, de uns 8 metros de altura. Ele só tinha um olho e parecia muito furioso, não sei se é porque ele não tinha cabelo, se é porque só tinha um olho ou se era por culpa nossa, mas ele brandia um porrete de madeira enquanto berrava correndo em nossa direção.
– QUE DIABOS É ESSA COISA GIGANTE!? – Quase perdi o fôlego nessa última palavra. Eu não conseguia correr e falar, era uma falha grande minha.
– UM CI-CI-CI...CI-CI...CICLOPE! – Phill estava tão nervoso que não conseguia pronunciar as palavras corretamente.
– O que a gente faz? – Eu estava esbaforida. Pense em como é passar horas caminhando no sol a pino e de repente ter que correr pela sua vida de um homem gigantesco. Eu estava morrendo de medo de morrer mas também estava morta de cansada.
– Temos duas o-o-opções...ou a gente corre ou MORRE! – O ciclope tinha batido o porrete dele muito próximo a nossas costas. Não tínhamos sido esmagados por cerca de milímetros.
De repente, como se tudo já não estivesse ruim o suficiente, consegui avistar no horizonte próximo de nós, um bando de pássaros laranjas. Bem, quanto mais próximo eles chegavam e quanto mais desciam dos céus mais eu conseguia identificar que não eram exatamente pássaros e sim pássaros-gente. Eram pássaros gigantes com rostos humanos e presas e todo o combo de coisa horrorosa híbrida.
– ÓTIMO, AGORA HARPIAS! – Uma harpia decidiu que era uma boa idéia dar um rasante na gente. Ela mergulhou no ar como uma águia gigante pronta para nos abocanhar, mas conseguimos nos abaixar. A harpia que havia calculado mal seu movimento, subiu novamente para o ar e quando estava quase se recuperando dera de cara no ciclope. Ela gritava como um pato esganiçado e ficou presa no rosto do monstro, ele agarrou o corpo penoso dela com suas mãos enormes e a jogou no chão. Aquela manobra quase tinha nos pego, mas a Harpia nos dera tempo. Ela atrasou o monstro. Porém, tinha companhia e agora suas amigas estavam cientes de que estávamos ali.
Elas tinham sorrisos malignos nos seus rostos humanoides. Pareciam não ver um banquete como nós a muito tempo e definitivamente não deixariam um ciclope grande e burro nos tirar delas.
– Oh não! Temos problemas! – Phill agarrou meu braço me fazendo desviar de uma das passarinhas que tentaram nos agarrar no chão.
Eu estava me pânico com a idéia de ser carregada para o ar por uma daquelas coisas, mas a verdade é que parecia ser a melhor ideia para escaparmos daquele monstro gigante. E se conseguíssemos guiar aquelas coisas para nos largarem no acampamento? Já podia enxergar a tal colina de onde estávamos, mas a chance de não sermos pegos pelo monstro era mínima.
– Eu tive uma idéia maluca! – Disse para Phill enquanto tentava não ser agarrada pela pássaro e não tomar uma cacetada na cabeça do Ciclope. – E se deixarmos elas nos pegarem? Para onde nos levariam?
– Para os ninhos! – Ele gritava enquanto uma tentava bicar seu rosto.
– Não vão nos comer certo!? – Eu desviei de levar outra bordoada na cabeça.
O ciclope berrava, pois além de estarmos sendo atacados pelos pássaros, ele também estava. Elas o bicavam nós olhos e arranhavam sua cabeça careca afim de impedir que ele nos comesse. Eu nunca tinha sido assim tão disputada na vida. Mas aqueles dois pareciam muito afincos em me ter em suas barrigas monstruosas.
– Não ainda! – Ele arregalou os olhos – Não, por favor, não me diga isso, por favor!
– Deixe elas nos pegarem. Eu tenho um plano. – Entreguei na mão dele um cristal pontiagudo que eu tinha pego na lanchonete, quando eu não -propositalmente invoquei eles. Ele parecia apavorado com a idéia ao mesmo tempo que tinha entendido exatamente o que fazer.
Meu plano era o seguinte: Aqueles pássaros não comiam suas presas instantaneamente, elas levavam para o ninho. Significa que teríamos uma carona grátis por alguns metros, o que evitaria que fossenos esmagados pelo ciclope e nós levaria até lá bem mais rápido antes que nossas pernas falhassem. Além disso, apesar de serem fortes, eu sabia que nos dois éramos pesados o suficiente para que elas não conseguissem levantar voo assim tão alto. Quando estivessemos quase sobrevoando a colina Meio-sangue, era só esperar as galinhas voadoras com minha faca e o cristal que elas nos derrubariam no chão. Voila...estaríamos em casa.
– VOCÊ VAI MATAR A GENTE! – Gritava Phill enquanto éramos os dois erguidos no ar pelas penosas. Pude ouvir um choramingo do Ciclope enquanto nos via indo embora em sua frente, quase pude ouvir um estrondo vindo de seu estômago faminto.
Eu odiava voar, odiava mesmo. Sentir aquela ventania nos cabelos enquanto meus pés abandonavam o chão completamente? Aquela era a sensação mais aterrorizante do mundo inteiro e eu podia sentir aquelas garras do pássaro afundando em meus braços enquanto me carregava pelos ares. Suas penas roçavam em meu rosto e o cheiro daquilo era o mais desagradável possível, mas eu torcia para que não durasse muito.
De repente, vi uma colina verde e alta, com extenso campo de morangos em sua volta e aí eu soube: tínhamos de fato chego. Gritei dando o sinal para Phill e nos dois fincamos nossas armas nos monstros, eles gritaram esguelados e nos perderam de suas garras.
Foi aí que eu enxerguei o chão chegando cada vez mais perto e mais e mais perto a cada segundo enquanto eu gritava desesperadamente. O ar cortava meu rosto com violência enquanto eu via em câmera lenta minha queda ao chão.
Bati e tudo ficou escuro.

Agnes Morana e os olimpianos Onde histórias criam vida. Descubra agora