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Hoje é domingo, o dia está nublado.
O relógio marca 8:35 da manhã.

Esses últimos dias foram bem estressantes pra mim. Muita emoção para um corpinho pequeno como o meu.
Aproveito que não consigo voltar a dormir e me levanto. Acho que vou à igreja pela manhã, e quem sabe, caminhar um pouco durante a tarde. Talvez eu deva dar ouvidos às sugestões da minha mãe e de fato fazer terapia.

Acredito que nada é por acaso, que cada pequena coisa é uma peça de um enorme quebra-cabeça, que coopera para que algo seja realizado em nossas vidas. E que através disso, podemos mudar outras vidas também. Mas às vezes, no silêncio da noite, quando são 3am e estou completamente sozinha, me pergunto por que raios teve de ser comigo. Por que justo eu, Camila, fui a escolhida para ter essa maldição?
Pode parecer uma coisa tosca, eu sei, mas sonhar todos os dias com a mesma cena de terror é horrível. Quase como o plot de um filme similar à "A Morte te dá Parabéns". Só que a morte não é minha. Sinto como se eu fosse obrigada a assistir alguém que amo sendo assassinado.

Sem que eu faça nada.

Respiro fundo e estalo o pescoço.
Ficar aqui presa em meus pensamentos não vai mudar minha vida.
A menos que eu seja uma filósofa renomada.
Mas sabemos que este não é o caso.

Troco de roupa, calço meu all star preto e desço para tomar café.
A casa está silenciosa.
Meus pais dormindo, e minha irmã na casa de alguma amiguinha da escola.

Me sirvo com um copo de achocolatado e um pão francês com margarina. Me sinto estranha. Vazia.

Cansada.

Olho para o velho relógio de parede que está há anos sobre a porta da cozinha. 8:50.

Respiro fundo novamente, como se o ar em meus pulmões viesse munido de força e coragem.

Verifico pela oitava vez se tranquei a porta, e ao me certificar que sim, faço meu caminho para a igreja.

A manhã estranhamente gélida em Miami me faz praguejar por não ter decidido colocar uma blusa mais grossa. O vento bate em mim sem dó, sinto uns fios de cabelo escaparem do coque frouxo no topo de minha cabeça.

Huh, curioso. All star, coque frouxo...
Acho que vou começar a tomar café e frequentar um Starbucks. Quem sabe não dou de cara com Harry Styles.

— A paz do Senhor, Camila. Como vai? - O pastor me cumprimenta na porta da igreja.
Aperto sua mão e forço um sorriso. Ah, pastor, se o senhor soubesse...

Me sento em um banco qualquer. Sempre me senti melhor indo pra igreja. Algo me traz paz, calma. Um renovo, eu diria.
Será que eu tranquei a porta?

O pastor se posiciona na frente da igreja.
Está dando início à EBD, Escola Bíblica Dominical.

Gosto de aprender sobre Deus e sobre tudo que aconteceu milhares de anos atrás.
Há no máximo 10 pessoas espalhadas por aqui.

Ele nos pede para abrirmos nossas Bíblias em algum capítulo que não me dei o trabalho de ouvir. Apenas quero que essa dor pare, essa tristeza suma, e esse cansaço se esvaia.

Meia hora depois, estava começando a me distrair com as palavras do pastor, enquando ele pregava com emoção. Sua voz em alto tom, seus olhos lacrimejando. Eu sempre quis sentir isso que ele sente. Sentir Deus desse jeito. Tão forte que chorar seja a única alternativa.
Mas não acho que Deus vá querer saber de alguém como eu.

O tempo passou, e o sol resolveu sair.
Incrível como tomar um solzinho pela manhã sempre me deixa alegre.
Volto para casa saltitante. Contente. Deus é bom.

Eu vi você morrerOnde histórias criam vida. Descubra agora