Capítulo Dois

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Cheguei em casa e fui direto para o banheiro. O dia foi cansativo, Taylor não calou a boca um segundo sequer, e pode parecer até que não, mas é cansativo ouvir a mesma coisa por horas.

Tiro minha camiseta e puxo meu celular do bolso de trás da calça.

Algumas mensagens da Dinah, e outras da Tay perguntando se cheguei bem ou se Lauren xingou alguém e arranjou uma briga. Ignoro-as e abro o app de música.

Bufo ao perceber que estou há um minuto rolando a tela e não surge nenhum nome que me agrade de ouvir enquanto tomo banho.

- Oh, Kaki. - Minha mãe abre a porta subitamente. - O que está fazendo? - se refere a como estou vestida, e por estar com o celular em mãos.

- Não, mama, eu estou apenas escolhendo uma música. - Mostrei a tela para ela, que me olhava desconfiada.

- Claro. Bem, não avisou que chegou, não sabia que estava no banheiro.

- Desculpe. Cheguei agora.

- Você veio andando?

- Não, mama. Vim de carro.

- De carro? De carro com quem, dona Karla?

- Com a Lauren, mama. - disse num suspiro.- Antes que pergunte, ela é irmã da Taylor.

- Quem é Taylor?

- Mãe! A gente pode conversar depois que eu tomar banho?

- Eu sei quem é Taylor. Só quis me certificar que não tinha me enrolado. - Fez um gesto indicando que estava de olho em mim, então saiu dando risada.

~*~

Meu banho acabou sendo harmonizado por meus pensamentos que não faziam sentindo algum. Minha mente é como uma rodovia de mão dupla, onde os carros ora fluem rapidamente o suficiente para mal serem reconhecidos, ora lenta e estranhamente, torturantes com tamanha lerdeza em que vagueiam.

Deito na cama e analiso meu teto já necessitado de uma nova pintura. Talvez fosse legal fazer o desenho de uma Lua com tinta neon. Estrelas e afins cairiam muito bem também. Pensando bem, meu quarto todo está implorando por socorro, e todo esse tempo eu apenas o ignorei.

Sinto meu celular vibrar no meio do colchão, e tateio a cama à sua procura.
- Alô?

"Está viva. Seria melhor se não estivesse."

- Alô?!

"sou eu, Camila. Você definitivamente esqueceu que eu existo, né sua cabritinha desdentada."

- Ah, Dinah. Me perdoe, esqueci de te mandar mensagem. Cheguei faz menos de uma hora, e fui direto para o banho. - Esfreguei o rosto e me sentei na cama.

" Eu não quero suas desculpas, Karla."

Fiquei em silêncio.

" Não vai falar nada?"

- Não quer minhas desculpas. Quer o quê? Meus xingamentos?

"Pelo visto você está ótima."

Desligou.
Dinah às vezes pode ser a definição de drama queen.
Cansada, apenas me deito, mando umas mensagens para ela e abro meu chat com a Taylor.

"sabe, lauren diz que não devo me acostumar com a ideia dela ser chofer das minhas amigas, mas acho que ela gostou de você."

Me sento direito com uma sombrancelha erguida na testa. Estou curiosa.

eu: como sabe? lol

Minutos depois, Taylor fica online e iniciamos uma espécie de conversa.

"ela não chegou de cara fechada. inclusive, me perguntou se eu estava precisando de alguma coisa antes de ir dormir. ela NUNCA faz isso"

eu: isso não quer dizer nada

"eu conheço a minha irmã. você é a primeira amiga minha que ela gosta"

Isso eu já sabia, o charme Cabello é irresistível.

eu: mas isso é óbvio. quem não iria gostar de camila estrabao? im a goddess.

"certo, autoestima personificada. preciso ir. nos vemos amanhã?"

eu: claro, tapada. até amanhã.

Bloqueio a tela e me arrumo para dormir. Gostei de hoje.
Consumida por tranquilidade, quase me esqueço de como tenho medo de dormir às vezes. E ultimamente, minhas crises têm estado piores. Parecem mais reais, com detalhes extras que antes não estavam ali. Deito a cabeça no travesseiro, implorando para que não eu sonhe mais uma vez com essas cenas sangrentas e violentas.

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Está tudo escuro e turvo, sinto a cabeça rodar pesada. Tento falar, mas nada sai. Tento andar, mas não consigo me mover. De repente, contra a luz, vejo uma silhueta feminina. Parece fazer gestos desesperados, como se quisesse impedir alguma coisa. Uma figura que não consigo distinguir se aproxima. Sinto angústia e medo, mas não consigo fazer nada, estou imobilizada, como uma espectadora. De repente um som estrondoso, como um tiro. Ouço pneus derrapando, e por fim gritos desesperados. Finalmente consigo me aproximar, apenas para ver um corpo estirado no chão com o rosto desfigurado, banhado em sangue. Sinto que vou desmaiar, quando a figura misteriosa então se aproxima de mim e, me apaga também.

 

Eu vi você morrerOnde histórias criam vida. Descubra agora