25 - O meu amor de volta

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— Já pode sair, querida. - Linda parou ao lado da mesa

Meio relutante, saio e me sento no banco, de cabeça baixa

— Me desculpe, Linda. É tudo culpa minha. Se eu não tivesse vindo aqui, Hank não teria brigado com o Ian, seus pratos não teriam quebrado e seus clientes não teriam ido embora...

— É. E você teria morrido. Por que não me contou, Camila?

Balancei os ombros. Não sei dizer exatamente.

Linda fechou a lanchonete para evitar quaisquer imprevistos e me deu um café da manhã reforçado. Não sei dizer quando Lauren foi embora, mas ainda bem que foi.

— Foi a gota d'água, Linda. - comentei comendo um pouco de pão - Depois do que ele fez ontem eu percebi que me casar com ele seria assinar minha sentença de morte.

— O que ele fez ontem?

Respiro fundo antes de começar a falar

— Primeiro ele me obrigou a ir à uma festa ridícula na casa de um dos amigos dele. Lá, ele começou a dizer coisas muito pessoais sobre mim, me deixando desconfortável e muito constrangida. Coisas sobre meu corpo, meus defeitos físicos, como eu sou nua... - fecho os olhos e balanço a cabeça - Nós acabamos discutindo lá mesmo. Ele ficou furioso com a ideia de estar sendo envergonhado na frente dos amigos quando eu pedi um pouco de respeito. Fomos pra casa dele e foi onde piorou. Ele já estava alterado pelo álcool, chegou jogando minhas coisas pelo chão da sala. Minhas roupas, meus óculos, ele fez uma grande bagunça. Discutimos mais e ele me deu um tapa no rosto.

— Miserável...

— Ele ficou mais nervoso e me deu dois socos no estômago. Então, me deu um murro no meio da cara, tão forte que eu caí. - seguro meu choro - Enquanto ele me xingava e me humilhava, eu só conseguia pensar em como eu tinha terminado assim. Há sete anos atrás eu estava feliz, no último ano do ensino médio, vivendo o melhor do amor, com o amor da minha vida. Me sinto amarga só em lembrar de tudo que perdi. Linda... ela está namorando alguém?

Linda segura minha mão e respira fundo. 
Sinto meu coração se partir em milhões de pedacinhos.

— O que importa agora, é você ter criado coragem para dar um fim nisso. Agora você precisa denunciar esse canalha para que ele fique muito tempo atrás das grades, querida. Você é tão forte, minha filha. Merece tudo que há de melhor nesse mundo. 

Sorrio torto com suas falas que de certo modo conseguiram me consolar. Verifico meu celular, que estava carregando graças ao carregador emprestado de Linda. Dinah está me ligando via FaceTime. Respiro fundo e atendo.

Ela me olha em silêncio enquanto abre a boca

Chancho... onde você está? Quem fez isso com você? Foi o Ian? Camila eu juro, se esse infeliz tiver feito isso com você eu mesma mato ele, mesmo que eu pegue prisão perpétua por isso! - sua voz falhou algumas vezes

— Foi ele. Estou na lanchonete da Linda.

Estou indo aí, não se mexa. - ela desliga e eu suspiro.

— Ainda não tive coragem de me olhar no espelho, Linda. - comentei em voz baixa depois de um tempo em silêncio. Ela me observou com pena no olhar e me trouxe um pequeno espelho. Respiro fundo e me observo. Incontrolavelmente eu começo a chorar. Tão forte que sinto meu corpo tremer enquanto soluço. Linda dá a volta no balcão e me abraça por trás, tentando fazer eu me acalmar.

Alguns minutos depois, ouvimos batidas na porta e meu coração acelera.

— Sou eu! Abram aqui - Dinah gritava. Linda me soltou para abrir a porta para minha melhor amiga que me agarrou assim que entrou. — Chancho...

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Algumas horas de conversa depois, Dinah me levou para seu apartamento. Tomei um banho longo, coloquei roupas adequadas para o clima ímpar de Miami e finalmente consigo descansar.

— O pai da Taylor e o Hank prenderam o Ian por desacato e agressão. Se você denunciar, ele vai ter uma sentença mais severa. - Dinah comenta mordendo um pedaço de pão. - Não quero te dizer o que fazer, Chancho... mas você precisa falar.

Eu suspiro, sei que ela tem razão.

— Seus pais já sabem? - digo que não com a cabeça - E por que...?

— Eu me sinto constrangida. Parece que a culpa é minha, não sei. Tem tanta coisa na minha cabeça agora, Dinah...

— Eu imagino, Chancho. - ela faz carinho nas minhas costas

— Eu não aguento mais fingir que não quero saber. E a Lauren?

— Você não deixou de amar aquela mulher, não é?

Minha respiração falha e tudo que consigo fazer é balançar a cabeça negativamente.

— Ela é professora de história agora. Também é voluntária em uma ONG que cuida de crianças e adolescentes em situação de rua ou pobreza. - Dinah me observa atenta enquanto eu esboço um sorriso. Lauren sempre foi maravilhosa.

— E ela está namorando alguém, não está?

— Isso eu não sei te dizer, Lauren sempre foi muito discreta quanto a isso. Você vai tentar falar com ela agora que está solteira novamente? - eu a olho nos olhos - Você está solteira, não é? Pelo amor de Deus. Se me disser que não, eu mesma vou te solteirar.

— Sim, estou. Deveria ter feito ele engolir aquela aliança. - resmunguei com raiva - Mas não sei, Dinah. Acho que ela me odeia.

— Camila, se tem uma coisa que eu tenho certeza é que Lauren não te odeia. Ela pode estar magoada ainda, mas não te odeia. Quem você acha que chamou o Michael para prender o Ian na lanchonete, huh? Linda me contou que antes de sair, Lauren ligou para ele, que estava esperando no estacionamento. Ela ainda se importa.

Depois de mais algumas horas de conversa, aproveito o fim da tarde para ir à delegacia. Dinah me acompanhou durante todo o processo. 

Pouco mais de uma hora depois, o boletim de ocorrência está registrado, com provas e tudo.
Como Ian já está sob custódia, o processo dele será mais rápido. Além de Michael Jauregui, agora superintendente da polícia de Miami, estar no caso.

É isso, finalmente o início do fim.

— E agora? - Dinah me pergunta ao pararmos do lado de fora da delegacia

— Agora vou lutar para ter meu amor de volta.

Eu vi você morrerOnde histórias criam vida. Descubra agora