10 - "Você quer cometer uma loucura comigo?"

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Então, respirando fundo, ainda não acredito que de fato estou aqui. Uma festa em uma cidade que não conheço, na casa de alguém que não conheço e cheia de gente que não conheço. Às vezes me questiono se tenho as pessoas certas como amigas. 
   — Ei, ei, não está se esquecendo de nada? - puxo pela manga de sua jaqueta aquela que se autodenomina minha melhor amiga. Ela me olha com um semblante confuso enquanto se esforça para não derramar nenhuma gota de seu copo exageradamente cheio. — Está se esquecendo de mim! Esquecendo que não veio sozinha!
— Ah, por favor. - Ela bate o pé no chão e balança a cabeça, tirando alguns de seus fios loiros da frente de seus olhos verdes— É hora de ser mulher, mulher. Apenas chegue em alguém, pergunte seu nome e pronto! Terá uma conversa. Acredite, estou fazendo isso por você. - disse e sumiu por uma porta que provavelmente leva a um porão ou algo similar.

Mentirosa.
Faz isso para arranjar mais tempo para se oferecer para o primeiro cara bombado que aparecer. Respiro fundo e conto até 20. Já estou aqui, não vou ir embora agora.  Depois de um tempo analisando o ambiente eu finalmente decido fazer meu caminho até uma mulher que estava sozinha no canto da sala, uma bebida em uma mão, um celular na outra. Ela estava de cabeça baixa, atenciosa ao que acontecia em sua pequena tela azul.
— Então, oi, é. Olá! Tudo está? Bom. - Balbuciei e me praguejei mentalmente.
Ela ergue seus olhos em minha direção e coloca seu celular no bolso. Engulo em seco.
Depois de alguns segundos ela semicerra os olhos e solta uma risada leve.
— Você não é disso, não é?
— Disso o que?
— Pessoas. -Comprimo os lábios. De certa forma ela tem razão.- O que faz aqui?
Antes que eu pudesse perceber, esta simples pergunta nos levou a um bate papo que jamais tive. Tudo simplesmente fluía.
– Não é? - ela perguntou rindo e jogou uma mexa de seus cabelos para trás.
— Hey, achei você. Uh, acho que vou indo... - Minha amiga retorna. Um cara louro e alto está atrás dela, bebericando um copo cheio de sei lá o quê. – Você vai querer carona ou eu te busco mais tarde?

A olhei sem entender.

— Vem, vamos sair daqui. Está tudo bem, vai lá fazer amor. - A mulher com quem eu estava conversando disse e me puxou pelo braço.
Andamos alguns minutos até que paramos em uma pequena loja de conveniência. A rua estava totalmente vazia. Estou começando a pensar se fiz a coisa certa deixando uma estranha me levar a um local deserto.
— Então... você ainda não me disse seu nome. - ela começa.
— Nem você o seu. - desconverso enquanto sutilmente olho ao redor, em busca de testemunhas.
— Nós não precisamos falar. - ela deu um passo em minha direção e imediatamente meus olhos se fixaram nela. Ok, talvez tenha sido uma má ideia ter vindo.
— Então vou te chamar de Anônimo367. - fiz uma piadinha e ela deu mais dois passos, ficando bem perto, com uma expressão vazia. Definitivamente eu não deveria ter vindo. Seus olhos se desviam para algo atrás de mim e vejo um sorriso surgir levemente no canto de seus lábios enquanto uma de suas sobrancelhas se arqueia. Eu estava com a boca aberta, pronta para perguntar o que houve, quando ela puxa um canivete de seu bolso. Meus olhos instantaneamente se arregalam e o passo para trás é inevitável.   F-foi só uma piada! - eu ergui as mãos em rendição.
Ela molha os lábios e então diz: "Você quer cometer uma loucura comigo?" Seus olhos -agora de louca- se fixam aos meus.
Tenho medo de responder. Ela começa a andar em minha direção novamente, com sua arma branca em punhos. Me sinto paralisada pelo medo. Não consigo ter outra reação além de fechar meus olhos com toda minha força e esperar pelo pior. Seguro minha respiração. Continuo esperando, até reparar que ela passa direto por mim. Talvez eu não seja sua vítima. Talvez ela me torture me fazendo assistir coisas ruins. Céus... 

Ouço um ruído e lentamente abro os olhos e olho para trás, a tempo de vê-la furar os pneus de uma caminhonete que eu nem havia percebido que estava ali. Impossível segurar o suspiro de alívio que veio de mim.

Eu vi você morrerOnde histórias criam vida. Descubra agora