O comitê de boas-vindas partiu deixando a dupla de heróis diante de um grande e velho edifício.
— Vamos ver a nossa nova casa — Akechi quebrou o gelo.
— Vamos ver? — indagou Terrence, com um sorriso de canto de boca.
— Não começa.
Apesar de um prédio relativamente baixo, tendo apenas dois andares, seu interior era amplo e o teto alto, em uma arquitetura de estilo ocidental dos anos noventa. Camadas grossas de poeira não reduziam a iluminação intensa dos cômodos. Havia o mínimo de paredes possível, e Terrence não pôde deixar de pensar se isso era intencional ou se tinham sido derrubadas.
— Devo dizer que é melhor do que as minhas expectativas — disse ele, apontando para alguns móveis velhos.
— Admiro o seu otimismo — Akechi sorriu, sarcasticamente.
A dupla deixou as bagagens em cima de uma mesa e começou a explorar o lugar. Em um canto afastado do primeiro piso haviam balcões, um fogão e uma velha geladeira.
— Uma cozinha funcional — anunciou Terrence, checando a água da pia.
— Realmente, é melhor do que o esperado.
Akechi, delicadamente, bateu com o cabo da espada em uma viga que estava exposta, e o som do toque reverberou em todos os ângulos possíveis. A percepção sobre a construção foi imediata, o que incluía um até então desconhecido porão.
— Muito melhor mesmo — repetiu. — Drake, tem toda uma estrutura abaixo de nós, talvez até maior que o primeiro andar.
— É sério? — indagou Terrence, levitando alguns metros para inspecionar o teto. — O pé direito deve medir uns cinco metros de altura, e por mais decrépito que pareça, não tem infiltração. As paredes e colunas também são bem grossas.
— Pelo menos desmoronamento não será uma das nossas preocupações — respondeu Akechi, subindo para o andar superior.
O segundo andar era composto por pequenos cômodos, em sua maioria ocupados por mobília empoeirada, pilhas de jornais velhos e muitas teias de aranha.
— Céus, acho que ninguém entra aqui há mais de dez anos — disse Akechi.
— Não mesmo, olha as datas desses jornais... Isso aqui é de 1985! — exclamou Terrence, após espirrar ao pegar um dos papéis. — Parece que a maior parte dessas salas foram escritórios. Vamos precisar esvaziar se quisermos ter um lugar para dormir.
— Esse lugar deve ter sido algum prédio governamental. O prefeito disse que a constituição de Kamagasaki foi assinada aqui.
— Provavelmente foi a última coisa que fizeram por aqui. E quanto ao banheiro?
— No fim do corredor e funcionando, ao menos teremos higiene.
— É um mínimo de dignidade.
— Falando em dignidade, vamos mesmo na casa do prefeito?
— Pois é, eu também não gostaria de ir, mas parece ser uma boa forma de conhecer as autoridades locais.
— Entendo como isso faz sentido, de fato, mas ainda assim algo me diz que não deveríamos ir. Instinto, acho.
— Estou com você, tudo parece muito estranho, contudo, também é um bom motivo para irmos.
Apesar de não enxergar, pela entonação de voz, Akechi sabia que o amigo estava dando um de seus clássicos sorrisos otimistas que beiravam a ingenuidade.
— Você está fazendo um rosto igual ao da Kaori, não é? Aquele em que ela revira os olhos.
— Sabe, a cada dia que passa me identifico mais com ela.
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SkyFalcon e Silent Samurai - Kamagasaki
Fiksi UmumIsolada do mundo há décadas, Kamagasaki criou nas suas ruas e becos uma sociedade vítima do mal e da extorsão das gangues locais: os Lâminas e os Corredores. Depois de anos sem heróis para defender o povo da cidade-prisão, SkyFalcon e Silent Samurai...