Havia sido um longo dia: a viagem até Kamagasaki, o conhecimento do novo lar, além do jantar na casa do prefeito. Akechi e Terrence estavam exaustos.
Seus pertences haviam sido entregues conforme prometido pelos militares, mas era notável o quão reviradas estavam. A indignação só não foi maior devido o cansaço não permitir naquele momento. Akechi apenas pegou seu saco de dormir e tomou posse de um dos quartos do segundo andar, enquanto Terrence optou por permanecer na sala.
Pouco depois das sete da manhã e a dupla já estava de pé. Akechi fazia uso da cozinha, improvisando um café da manhã com o pouco de comida que havia guardado em sua bagagem.
— Ainda não acredito que reviraram nossas coisas! — exclamou Terrence, descendo as escadas. — Quer dizer, eu esperava uma vistoria por questões de segurança, mas fui tomar banho e notei que algumas mudas de roupa sumiram.
— Você realmente está surpreso com isso? — perguntou Akechi. — Estamos numa cidade-prisão.
— Mas ainda assim é decepcionante.
— De fato, ao menos tivemos o bom senso de guardar o dinheiro na bagagem de mão.
— Sim, porque teremos de fazer compras. Não vai dar para sobreviver à base de macarrão instantâneo.
— Amém.
— Agora, precisamos urgentemente fazer uma limpeza nesse chiqueiro — atentou Terrence, servindo-se de café em uma caneca velha. — Não vai dar para continuar dormindo nesse sofá mofado e empoeirado por muito tempo.
— Estou surpreso de você ter conseguido dormir por uma única noite.
— Essa é a vantagem de ter sono pesado, consigo dormir em qualquer buraco que eu deitar. Se for preciso, durmo até voando. E quanto a você, conseguiu se adaptar?
Akechi massageou os ombros.
— Já tive noites melhores, admito.
— Aposto que ouviu a cidade inteira. — O tom de Terrence era preocupado, não acusatório.
— Muitas brigas, muitos gritos e choro. — Akechi nem tentou negar, apenas continuou a conversa: — Também ouvi um nome interessante: Homem de Lata.
— Alguém assistindo Mágico de Oz? — brincou.
— Às vezes eu queria ter o seu senso de humor, Drake — sorriu Akechi, sarcástico. — Não, parecia uma figura de autoridade, as pessoas pareciam com medo.
— Podemos investigar — concordou o topetudo, enquanto tomava seu café. — Vamos aproveitar a manhã para irmos à delegacia. Pelo que vi do trajeto ontem, não estamos muito longe da praça principal.
— Sim, concordo. Se dependêssemos do prefeito ou do chefe de polícia, iríamos ficar trancados aqui o dia inteiro.
— Também tive essa impressão. O prefeito está mais interessado em jantares que qualquer outra coisa.
A calma matinal de Akechi desapareceu.
— Nem me lembre desse jantar, você fez bem em nos tirar de lá.
— Está brincando? Se você não arrancasse a cabeça de alguém, eu mesmo o faria. Esse lugar está isolado do mundo há quase cinquenta anos, mas ver venatores serem tratados daquele jeito é revoltante.
— A minha noiva é uma praticamente uma venator, Drake, revolta não define o ódio que senti.
Um silêncio tenso se abateu sobre os dois, até que Terrence quebrou o gelo:
— Vamos terminar de nos arrumar e sair. Iremos conhecer a vizinhança, a delegacia e, com alguma sorte, encontrar alguém para você bater e extravasar a raiva.
VOCÊ ESTÁ LENDO
SkyFalcon e Silent Samurai - Kamagasaki
Ficción GeneralIsolada do mundo há décadas, Kamagasaki criou nas suas ruas e becos uma sociedade vítima do mal e da extorsão das gangues locais: os Lâminas e os Corredores. Depois de anos sem heróis para defender o povo da cidade-prisão, SkyFalcon e Silent Samurai...