SkyFalcon e Silent Samurai - Kamagasaki

Bem-vindos - Parte I

O olhar desconfortável de SkyFalcon traduzia toda a sensação indiferente que sentia ao avistar pela janela do veículo o Complexo Prisional de Kamagasaki.

— Esse lugar é enorme! — disse em tom elevado, sobrepondo o ronco do motor do jipe militar.

— É o maior complexo do país! — respondeu o motorista na mesma intensidade. — São quase trinta quilômetros quadrados de extensão. Assustado?

— Não, apenas surpreso.

O jipe seguiu até dar de frente com o gigantesco portão de aço do complexo, onde foi pedido para que todos descessem do automóvel para uma vistoria protocolada. O Herói Voador ergueu a cabeça visivelmente instigado pelo tamanho descomunal da estrutura. De bate-pronto arriscou quinze metros de altura revestidos em chapas tão grossas quanto um robusto tronco de árvore, porém, Silent Samurai apostou mais alto:

— Uns vinte e tantos metros.

— Vinte? Não, isso é demais.

— E o que diz da extensão dos muros de concreto?

— Olhando daqui? — SkyFalcon atentou para ambos os lados, direita e esquerda. Após alguns segundos tentando em vão mirar o fim da muralha, desistiu. — É intimidador.

Um experiente militar de rosto enrugado e insígnia de sargento no peito aproximou-se com ímpeto da dupla.

— Então ele cumpre com o seu objetivo! — exclamou, firmemente. — Sargento Takao, prazer conhecê-los, sou o responsável pela guarda e manutenção do complexo.

— O prazer é nosso — respondeu o Herói Voador, com um aperto de mão. — E quando poderemos entrar, sargento?

— Assim que os protocolos de revisão de segurança terminarem, mas enquanto isso permitam-me dizer algumas palavras. Kamagasaki é, acima de tudo, uma cidade-prisão, então, considerem que há um prefeito local, instituições próprias e toda uma sociedade de infratores e delinquentes.

— Uma sociedade só de criminosos? — perguntou, insinuante, o Herói Cego.

— Logo descobrirá — respondeu o sargento, em desgosto.

— E quanto aos nossos pertences? — perguntou SkyFalcon.

Sargento Takao tinha um sorriso traiçoeiro beirando os lábios secos.

— Serão entregues no endereço combinado. Terão de passar por revista, apenas um procedimento de segurança, sei que irão entender.

— Sim, entendemos — respondeu Silent Samurai, astuto. — E, é claro, não haverá objeção a levarmos nossa bagagem de mão, afinal, são só bens pessoais.

O velho sargento demonstrou uma dose de insatisfação no olhar carrancudo, porém o espadachim transparecia serenidade, contrastando com a intenção combativa do militar. O momento de tensão cessou quando as gigantescas portas de Kamagasaki se abriram devagar, deixando uma estreita brecha de passagem para dentro.

— Tudo bem — respondeu, por fim. — A partir deste ponto entrarão sozinhos e caminharão um quilômetro em linha reta, não há erros. De lá em diante, o prefeito os receberá. No mais, desejo-lhes boa sorte, vão precisar.

Os heróis acenaram em confirmação e seguiram num caminho inteiramente predeterminado por uma estrada linear. De longe as silhuetas de edifícios baixos e torres desenhavam um local adverso e de perímetro urbano, diferentemente da paisagem desértica que o cercava e separava-o do restante do mundo. Um estrondo intrinsecamente vazio e tampouco acolhedor ressoou do ostensivo portão de aço num último instante.

Não houve recuo nem receio. A dupla percorreu a estrada reta sem apressar o passo, em momento algum aderindo à possibilidade de virar-se para trás e questionar quaisquer decisões que os levara até ali. A caminhada foi breve e monótona, e houve uma demora para processar a área. Quase um quilômetro de grama baixa levava a um velho arco, que ironicamente dizia "Bem-vindos a Kamagasaki". Não era nada comparável ao gigantesco portão da muralha, mas revelava aos poucos um ambiente não visto nem nos becos mais distorcidos das grandes metrópoles: patrimônios públicos defasados, carcaças de edifícios incompletos, e um número mínimo de pessoas transitando às escondidas entre ruas e travessas.