Capítulo 3 - O filho pródigo

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A casa continuava a mesma, apenas a pintura precisava ser refeita, e talvez uma reforma aqui e ali traria completamente de volta o lar de sua infância.

Enquanto vivera na África, ele pagara um bom dinheiro a um amigo de seu pai para que a residência dos Blythes fosse bem cuidada, e o homem manteve a promessa. A não ser pela ação do tempo que não perdoava a nada e a ninguém, tudo estava como ele se lembrava.

Gilbert lançou um olhar para a janela onde costumava ver sua mãe sentada trabalhando em sua máquina de costura, enquanto um disco de jazz tocava ao fundo. Júlia Blythe era grande fã de música assim como se pai, e se ele fechasse os olhos poderia vê-los deslizando pela sala, em uma valsa vienense que Gilbert tentara aprender, mas nunca tivera muito jeito para aquele tipo de coisa. Ele sempre fora melhor com seu kit de experiências ou enciclopédias médicas, do que com alguma coisa relacionada a arte. Assim, em qualquer peça da escola, Gilbert se sentia um verdadeiro peixe fora d'água, por isso nunca pegara um papel importante, se contentando em ficar como figurante ou trabalhar nos bastidores.

Ele abriu o portão de ferro um pouco enferrujado pela falta de uso, enquanto seus olhos se enchiam com a cor tão conhecida da árvore do ype roxo. Gilbert sorriu ao mergulhar no passado, e pensar na mãe que amava aquelas flores mais que tudo, mas reclamava da bagunça que faziam no outono, cobrindo seu tão precioso jardim com suas folhas secas e pétalas macias. Era sempre John, o pai de Gilbert que acabava limpando tudo no final da tarde, após o trabalho, tendo que repetir o processo na tarde do dia seguinte.

Eram boas lembranças que lhe causavam saudade de um tempo quando tudo parecia estar em seu lugar. Ele fora muito feliz ali, e sofrera quando tivera que partir para ganhar o mundo com sua profissão. Infelizmente seus pais não estavam mais lá quando ele e Alicia pegaram um navio para a África, e lamentavelmente, também não estavam ali agora que ele voltara.

Gilbert subiu a escadinha de pedra que levava a porta de entrada, e abriu a porta com a velha chave que carregara com ele naqueles cinco anos, entrando finalmente em casa.

O ar parecia pesado por conta das janelas fechadas por tanto tempo. Assim, ele as abriu para que o ambiente ficasse mais arejado e correu o olhar pelo ambiente, cujos móveis estavam todos cobertos por um tecido branco. Ele afastou alguns e deixou que a mobília bonita de madeira de sua mãe viesse a luz do dia depois de tanto tempo. Tudo estava em bom estado de conservação e a única coisa que aquela casa estava precisando era de uma boa limpeza.

O rapaz visitou todos os cômodos e por último, ele foi até seu quarto onde também nada havia sido mudado. Havia uma foto sua e de Alicia em cima de seu criado mudo, e ele a pegou na mão, enquanto observava todos os detalhes contidos ali.

A foto era de sua formatura do ensino médio onde ele e Alicia vestiam becas pretas. Ela lhe sorria com uma alegria genuína, ao mesmo tempo em que seus olhos o fitavam com todo o amor do mundo, tão diferente do olhar que lhe lançara a três anos, deixando a tragédia de suas vidas para trás. O garoto naquela foto não imaginava para onde os seus sonhos o levariam, e a única certeza que tinha era que iria se casar com aquela garota e construiriam uma vida juntos. Sonho realizado e fracassado, o qual deveria esquecer se quisesse continuar sua vida de onde havia estagnado.

Ele colocou a foto de volta ao criado mudo, abriu sua bagagem, e começou a entediante tarefa de colocar todas as suas roupas em seu guarda roupa de solteiro, e depois saiu para comprar provisões ou não teria nada para comer no jantar.

Assim, nos dois dias que seguiram a sua chegada ali, o rapaz trabalhou com afinco para deixar a casa habitável novamente, o que conseguiu com êxito. No final do segundo dia, ele estava recolhendo todas as folhas secas caídas pelo jardim, quando uma voz simpática lhe disse:

A brave heartOnde histórias criam vida. Descubra agora