Capítulo 16 - em uma manhã de inverno

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Anne caminhava pelos corredores do orfanato, enquanto sua mente voava até o seu passado, lhe trazendo recordações do seu tempo de menina, antes que tivesse sido abençoada com dois irmãos incrivelmente generosos, e que lhe deram o melhor lar de todos.

Sua infância ali dentro não fora tão ruim. Ela não era uma garota popular naquela época, mas tão pouco era daquelas que se isolavam ou evitavam qualquer contato com outras pessoas. Era lógico que se sentia triste em alguns momentos, ao pensar que fora abandonada ali por alguém que deveria zelar por sua felicidade e bem-estar, mas nunca deixara que isso definisse seu caráter ou quem era por dentro.

Por isso, fizera do limão que a vida lhe dera uma bela limonada, e assim criara excelentes laços de amizade por ali, como também tivera grandes professores. Fora na aula de biologia que decidira que seria médica, depois de ver um documentário sobre o trabalho diário dos profissionais da saúde. Fora amor a primeira vista, e nunca mais se interessara por outra coisa.

Ela parou em frente a foto que mostrara a Gilbert em sua primeira visita ali, e ficou tentando se lembrar de como ela era aos nove anos, quais eram os seus sonhos e seus desejos mais secretos

-Relembrando os velhos tempos?- A Madre Superiora lhe perguntou.

-Sim. Na verdade, eu estava tentando me lembrar que tipo de criança eu fui.- Anne respondeu, sorrindo para a religiosa.

-Você sempre foi um doce de menina. Cheia de energia demais, devo dizer, mas também muito inteligente e amável com seus amigos e professores.- a Madre disse, se lembrando com saudade daquele tempo no qual fora apenas uma noviça totalmente inexperiente.

-Eu fui muito feliz aqui. - Anne afirmou, tornando a olhar para a fotografia .

-Sempre fizemos de tudo para que fosse assim.-a religiosa disse, com a imagem sorridente de Anne em sua mente. Ela nunca falara nada, mas a ruivinha sempre fora uma de suas alunas favoritas.

-E continua do mesmo jeito, e é isso que me encanta nesse lugar. O poder que ele tem em fazer com que seus órfãos sintam que têm um lar de verdade.- Anne comentou, olhando de lado para a Madre,que lhe respondeu.

-Essa é a filosofia desse orfanato. Oferecer um lar a quem não tem nenhum, e é por isso que tenho lutado todos esses anos. - ela fez uma pausa e depois acrescentou: - Preciso voltar a minha sala. Tenho uma reunião para realizar daqui a pouco.

-Tudo bem. Conversamos outra hora . Até mais, Madre.

-Até logo, Anne. - a boa senhora respondeu, e assim que ela se foi, Anne se dirigiu até a cozinha, pois não tinha tomado café direito, e estava precisando urgentemente de um bom energético para chegar ao fim do dia com bastante ânimo e feliz.

Mary estava terminando de preparar o almoço do dia, e quando Anne entrou ela disse:

-Oi, Anne. Não a tinha visto por aqui hoje. Como você está?

-Bem. Vim a procura de uma xícara de café. - Anne explicou se aproximando de Mary que lhe entregou uma xícara do líquido desejado fumegante.

-Acabei de passar. Vai ficar por aqui o dia todo?

-Não. Na verdade já encerrei o expediente. Tenho trabalho no hospital hoje.- Anne falou, se sentando à mesa para aproveitar melhor o café delicioso que Mary lhe oferecera. Estava forte e com pouco açúcar, exatamente como ela gostava.

-E como vai Gilbert? Da última vez que o vi, foi no jantar em minha casa.- Mary perguntou casualmente. Na verdade, ela queria saber se aquele encontro promovido por ela entre os dois tinha rendido alguma coisa. Mas não faria uma pergunta tão direta ou intima a Anne. Eram amigas, mas não a ponto de fazerem confidências uma a outra.

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